Segundo Suzi Franki Sperber, a
relação entre literatura e o processo político já é trabalhada indiretamente
por Aristóteles, quando fala sobre a função social da arte. A arte é realizada
como uma catarse promovida pelo mundo ficcional que ela cria e o mundo real que
ela analisa e questiona. Aproveitando o momento de manifestações, é
interessante pensar como a arte potencializa nosso senso crítico para os
problemas sociais que perduram em nosso país. Claro que ela não tem apenas esse
objetivo. Aliás, não seria legal tratar as reflexões sociais presentes na
literatura como um objetivo, mas sim como uma característica constitutiva a
todo texto literário. Se se faz literatura, automaticamente se faz especulações
sobre a sociedade em que se vive, ou direta ou indiretamente.
Eu tenho facilidade em
compreender a atualidade, a partir do que me diz os clássicos. É uma opção
pessoal de como entender melhor o mundo e as coisas. Uma obra que me vem a tona
quase sempre que me deparo com questões sociais efervescentes é a trilogia OS
CONDENADOS, de Oswald de Andrade. A leitura flui como um best-seller. A leitura
te empolga com as palavras de um bom romancista e um gênio que é Oswald de
Andrade.
Os personagens de Os Condenados exilam-se em si mesmos e só se
comunicam precariamente pela dor, - uma dor nua, um sofrimento mudo, uma agonia
resignada jamais gritada. Padecendo da exploração do trabalho, da prostituição
do corpo, da implacabilidade do destino, os personagens de OS CONDENADOS vivem
na falta de esperança, no absurdo, no trágico. Estão presentes, numa realidade
sem compaixão pelos fracos, a prostituta-mãe santificada (Alma), a criança
sofredora (Luquinhas), o malandro brutalizado (Mauro Glade), o operário
sonhador (João do Carmo).
Nenhum deles racionaliza,
filosofa ou reflete sobre os caminhos cinzentos que percorrem sob a garoa
paulistana. A mesma São Paulo que presencia, hoje, uma mudança que, creio, é
necessária, é palco da trilogia OS CONDENADOS. Oswald, em 1941, já implorava
pela necessidade do homem revolucionar-se dia-a-dia, internamente, na reformulação
de valores e conceitos sociais.
Fico feliz! É a primeira vez, em
minha geração, que políticas públicas são discutidas a frente do futebol.
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