Eu e Natasha
compartilhávamos tudo. Nos completávamos. Ela era sonhadora, vivia nas nuvens,
enquanto eu tentava puxá-la de volta ao chão. Sei lá, era um equilíbrio
perfeito.
Ela queria casar, ter
filhos... uma família.
Eu sempre pedindo
calma. Não tinha estabilidade alguma em emprego nenhum. Na verdade, eu não
queria era me sujeitar a abrir mão de meu estilo. Eu sempre fui um cara muito
teimoso, quer dizer, eu era um cara muito teimoso.
Quando terminei a
faculdade de jornalismo, tudo que eu tinha era inúmeras colunas maravilhosas
gravadas no .doc de meu computador, que acabaram caducando pela validade da
informação que elas analisavam.
As coisas começaram a
ficar difíceis.
Ela queria casar, ter
filhos... uma família.
Eu pedia a calma que
ela não estava preparada para ter.
Ela me pedia o
conforto e a atenção que eu não estava conseguindo lhe dar.
Então, eu me dei um
ultimato: iria trabalhar no primeiro jornal que me chamasse para uma
entrevista.
Foi aí que me
apareceu o jornal.
Eu percebi, de cara,
que aquele lugar não era para mim. Era um jornal bom, de grande circulação, que
além do diário, organizava uma revista para a região com cultura, esporte e
dicas gastronômicas.
Não sei porque
separavam gastronomia de cultura, mas eu era responsável pela parte cultural.
Em menos de duas
semanas, tentei dar à coluna um pouco da minha cara. Transformei as resenhas
enrijeçadas na estrutura nome do evento, data, horário, local e breve
comentário, em um artigo de opinião de um único evento. Escolhia algo
interessante na cidade e só falava daquilo.
Resultado: deixei de
participar da revista e só fiquei com as notícias de porta de cadeia, do
diário.
Meu salário diminiu,
eu não queria ficar atrás de ocorrências de delegacia a vida inteira.
Foi aí que a
paciência dela acabou...
- Você ainda gosta
dela?
- Muito...
- E como ela está?
- Casada... com
dois filhos. Como ela sempre sonhou.
- humm...
- Eu acho que
esperei demais pelas coisas, as arquitetei demais... fiz tudo como achei que
seria o certo. Não bebia quando namorava...
- Mas ela caiu fora
depois que você reduziu o salário no jornal?
- Não pense nela
como uma interesseira... ela sempre via o quanto eu me esforçava para conseguir
as coisas, mas o quanto isso durava para se realizar. Eu acho que meu fracasso
acabou decepcionando ela. Sei lá...
- Olha, as vezes
não era para acontecer, né?
- Talvez...
- Foi a primeira
namorada?
- A única com quem
me envolvi bastante. Sete anos... desde os dezesseis.
- Nossa...
Nos conhecemos no colégio. Ela fazia parte do grêmio
estudantil. Eu escrevia alguns versos bobos. Uma vez que escrevi um poema sobre
o diretor. Não criticando, nem fazendo caricaturas jocosas, só relatando, com
sensibilidade, um posicionamento que não concordava. Isso chamou atenção dela.
Ela me chamou para entrar no grêmio.
Corrigia os textos do pessoal. Eles escreviam muito mal,
sabe? Mas tinham idéias ótimas. Eles me achavam um gênio... mas eu só consegui
evoluir até ali.
- Quando tinha dezoito anos escrevia do mesmo jeito que
escrevo hoje.
- Sei...
- Não sei... mas acho que era mais feliz naquele
tempo...
- Bem, eu espero que tudo dê certo com você...
- É... você tem que ir né?
- Sim... mas volte sempre que quiser conversar... gostei
de você.
- Mesmo?
- Pra ser sincera, mais ou menos... na verdade fiquei
com um pouco de pena. Mas volte mesmo assim. É sempre bom conversar.
- Ah ta... valeu, Saudade.
- Não se ofenda...
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