terça-feira, 25 de junho de 2013

DA NECESSIDADE HUMANA DE MOVER-SE, COMOVER-SE, EMOCIONAR-SE




É interessante como a carga massiva de trabalho nos impede de perceber e sentir as belezas da leitura de um poema. Eu falo do poema que se apresenta lírico, que divulga um sentimento no tecido cotidiano de um poeta desconhecido, distante, que o leitor trabalha em advinhá-lo o tempo todo, saqueá-lo espiritualmente e senti-lo, quase como sendo empírico. 

A vida moderna massifica até nossa leitura e a capacidade humana de se emocionar. A emoção na leitura poética é muito importante. Digo e repito, é a coisa mais importante. Se você ler a Poética de Vinicius de Moraes com um olhar viciado, são somente palavras de um velhote que choraminga. Mas se você deposita naquela leitura a crença de mover-se em conjunto com o poeta, se você necessita de uma fulga de seu estado de conforto, a poesia acontece. O lirismo ferve dentro de você.

Então temos a necessidade cotidiana de muitas coisas. Então temos a necessidade humana de nos decepcionar, nos entediar, nos enraivecer, nos entristecer e nos apaixonar. Temos também a necessidade de sentir saudades. De sentir aquela saudade do que se foi, do que não volta - e você sabe que não volta -, do que nunca existiu - e você fantasia a existência. Surge a necessidade do lirismo. A necessidade da poesia preencher um espaço paratópico em sua vida. A poesia está em tudo e não está em nada ao mesmo tempo.

E invejo os versos de Vinicius, colocando-os como meus, para encerrar essa necessidade de emocionar-se intensa e subjetivamente, nesta terça-feira chuvosa:


Poética I

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.

- Vinicius de Moraes


Poética II

Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.

E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.

Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)

Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
- Entrai, irmãos meus!

- Vinicius de Moraes


Sinto falta de você. Você que nunca existiu.

- Ricardo Celestino



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