domingo, 23 de junho de 2013

06 - UM ENCONTRO COM A SAUDADE

A Mooca foi um dia um apêndice da Itália jogada na cidade de São Paulo. Quem me dera ainda fosse assim...

Dentro da coxinha encontrei um recado que potencializou minhas esperanças em encontra-la novamente.

Você está em todo lugar. É estranho...

Eu piso num bar e pareço observar um encontro de juventinos revoltados torcendo pelo seu time fracassado. Todos vão envelhecendo, vão envelhecendo... e morrem ali no bar. Viram esqueletos vestindo grená.

Sento numa mesa próxima ao rei Pelé. O bar tinha vários jogadores estampados, mas o Pelé sempre fora o meu preferido.

Diziam que aquele bairro era especial nas pizzas, e o bar o melhor nas porções. Pedi um chop e uma porção de bolinhos.

Era sábado. Todos os jornalistas trabalhavam, mas o departamento de cultura tinha folga. Era fim de semana para nós.

Um homem caminha em direção a minha mesa.

Boa tarde. Posso sentar com você?

Claro. Você é...

Quem esperava...

Humm...

Então, frio né? – acende um cigarro.

Um pouco...

 Tinha épocas em que chovia fino, uma garoa. Era o apelido da cidade. Os gritos não secavam. Mas o que corria pelas sarjetas eram mares diferentes. Um sangue grosso da oposição.

Você é poeta?

Escritor. Escrevo o mundo.

Humm... estive com a Saudade.

Muito prazer, me chamo Esperança.

Bem, esperava uma garota, mas tudo bem. Hoje em dia é difícil arrumar alguém para um bom papo.

Quantas vezes tentou compreender os outros?

Como assim?

A vanguarda... ela normalmente busca novos caminhos do marginal, até virar aplausos e se cansar.

Entendo. Mas elas secaram?

Jamais! Se fossem tão perceptíveis, que razão teriam?

Entendi.

Você tem um pouco de preguiça?

Como assim?

Vontade de ficar deitado?

Tenho... o dia todo. O mundo fede...

A merda.

Toma cuidado onde pisa... por que as vezes quem está fedendo é...

Olha aqui! Me desculpa mas essa conversa está bizarra demais pra mim. Você é bem desanimador! Eu queria apenas alguém para conversar, e não uma consulta psiquiatra com um outro louco.

Desculpe... não sou palhaço.

Levanto e pago a conta. Sabe, é difícil encontrar alguém que não seja um babaca para conversar.


O cheiro de café às vezes me enjoa. No jornal, as pessoas têm manias estranhas de perseguir a pobre coitada que prepara a bebida. Fico imaginando que se trocassem café por cocaína, todos os consumidores de café iriam morrer de overdose e eu talvez ficaria mais feliz.
Minha felicidade depende demais das pessoas ao meu redor.


Estou sozinho...


Nenhum comentário: