terça-feira, 10 de junho de 2008

...

agora eu acho que ta na hora de arrumar o mundo, já que tua casa começa a ficar pronta... sei lá se vc entende oq eu qro dizer?

infelizmente, não sou o engenheiro que meu pai sempre sonhou que eu fosse, e não costumo manter meus cabelos cortados e minha barba feita regularmente como ele sempre desejara...

na verdade, eu prefiro manter minha aparência de homem-de-beira-de-sarjeta, e prefiro que as pessoas que não me conhecem me ignorem, passem longe de mim pelo fedor de minhas vestes. Que quando sentirem o cheiro que exalo, interpretem como um CAIA FORA OTÁRIO! BABACA! e se toquem e vão realmente pro outro lado da rua, ou corram de medo, de susto.

Meus amigos não sentem cheiro e não enxergam... não conseguem emitir juízos de valor.

Somos pessoas que tentam o máximo possível buscar um espaço sincero no mundo... a gente num se conforma em conquistar sem realmente merecer e querer conquistar... por isso nossas diferenças nessas terras...

não quero aqui ser o último herói do universo, o dono da verdade, mas eu quero só dizer que buscamos eternamente o que ainda resta de humano entre nós, e o que há de humano entre nós é o individual, o subjetivo, o que transcende a massa orgânica.

Bem, hoje em dia o homossexualismo já não significa apenas uma pessoa que opta por gostar de alguém do mesmo sexo, mas significa passar por milhares de provações sociais até provar que sua sanidade está perfeita e que você realmente está fazendo o que tem vontade.

ou ainda... ser homossexual passou a ser moda em algumas avenidas de São Paulo, e para no instante em que você pisa no lado de dentro da tua casa.

pra mim chega!

se ser gay é interpretado como ser um bicho diferente, alvo de chacotas sociais, um marginal da sociedade ou um EU ACEITO, MAS LONGE DE MINHA CASA, então eu me declaro gay ao teu lado e vou fazer com q todo mundo cale essa maldita boca preconceituosa...

e calem a boqui!

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 9 de junho de 2008

E NA EXPERIÊNCIA... DESAPRENDO

Metamorfósico

Amo. Desamo. Amo.
Penso. Reflito. Esqueço.
Desejo. Possuo. Dou asas.

Amadureço em meu nomadismo
Danço em meus labirintos
enquanto na experiência desaprendo

Quanto mais convicção
mais descrença.

Nos elos de meu corpo
prossegue o sangue e a alma
entre mortes e ressurreições.

- Janderson Brasil


AQUI EU FICO

O mundo vai
E aqui eu fico
O mundo foi
E aqui eu fico
Você lutou e gritou
E aqui eu fico
Você chorou e enterrou
E aqui eu fico
Você mudou pra melhor
E aqui eu fico

Você apostava em mim...

Eu fiquei você foi...
O mundo foi e vai...
Bem melhor?

- Ricardo Celestino

sexta-feira, 6 de junho de 2008

MAS QUE PAMPA É ESSA QUE FICOU PRA TRÁS?

HERDEIRO DE PAMPA POBRE

Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a história
Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam às mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Mas que pampa é essa que eu recebo agora
Com a missão de cultivar raízes
Se dessa pampa que me fala a história
Não me deixaram nem sequer matizes?

Passam às mãos da minha geração
Heranças feitas de fortunas rotas
Campos desertos que não geram pão
Onde a ganância anda de rédeas soltas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Herdei um campo onde o patrão é rei
Tendo poderes sobre o pão e as águas
Onde esquecido vive o peão sem leis
De pés descalços cabresteando mágoas

O que hoje herdo da minha grei chirua
É um desafio que a minha idade afronta
Pois me deixaram com a guaiaca nua
Pra pagar uma porção de contas

Se for preciso, eu volto a ser caudilho
Por essa pampa que ficou pra trás
Porque eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai

Eu não quero deixar pro meu filho
A pampa pobre que herdei de meu pai


- Vaine Darde e Gaúcho da Fronteira


Vaine Darde, natural de Urugauaina, RS, iniciou sua carreira como compositor e poeta em 1978 quando foi premiado no concurso Apesul Correio do Povo Revelação Literária. Em 1988 em parceria com Gaúcho da Fronteira fica conhecido em todo o país com a música Vanerão Sambado que ganha discos de ouro e platina. Em nova parceria com Gaúcho da Fronteira, gravada pelos Engenheiros do Hawai, Herdeiro da Pampa Pobre, afirma-se no cenário musical do estado. Recebeu por dois anos consecutivos o troféu Vitória concedido pela Secretaria da Cultura. Em 2004 ganha o troféu Clave do Sul como melhor letrista dos festivais.

Com mais de 800 músicas gravadas por artistas gaúchos e de outros estados, entre eles duplas sertanejas, é um dos compositores mais premiados do Rio Grande do Sul.

Detentor de uma centena de prêmios de festivais, conquistou em 1989, em parceria com Elton Saldanha, a Caleandra de Ouro, prêmio máximo da Califórnia Canção Nativa, evento que originou o movimento nativista. Possui uma coletânea de sua obra gravada pela gravadora Usa Discos em discografia que inclui doze autores consagrados, intitulada Autores do Sul. Seus poemas e sonetos compõem várias antologias.


AMIZADE DE GAITEIRO

Xote

Boleia a perna amigo velho e te aprochegue
Amarre o pingo que o churrasco está na brasa
Passe pra diante, puxe o cepo e vá sentando
Pois no meu rancho não precisa oh, de casa.
Golpeie um trago e tire a poeira da garganta
Enquanto encilho o meu verde chimarrão
Tua presença neste rancho companheiro
Faz corcovear de alegria o coração!

Nossa amizade é cria dos galpões
E campereadas nos potreiros desta vida -
Tua presença neste rancho hoje é festa
E a minha família te agradece comovida!
Esta visita de gaúcho que me fazes
Leva pra longe uma tropa de saudade,
Tem o calor do guarda fogo galponeiro
E aquece ainda mais nossa amizade.

E no teclado desta gaita te saúdo
E canto a ti este verso bem campeiro -
E esta emoção que toma conta do meu apito
Já faz vibrar a minha alma de gaiteiro.
E este xote que canto alegremente
E que o faço em tua homenagem
É um presente que te passo, amigo velho
Pra registrar por aqui tua passagem!

- Edson Dutra / João Pantaleão Leite


EDSON DUTRA, formado em direito, é gaiteiro do e um dos vocalistas do conjunto musical Os Serranos. É também um dos fundadores desse grupo.

Iniciou sua carreira de músico com o grupo Os Serranos, foi aluno de Adelar e Honeyde Bertussi, mais conhecidos como Os Irmãos Bertussi, grandes acordeonistas e também pioneiros da música gauchesca.

Teve vários trabalhos gravados com o seu grupo e recentemente gravou um DVD, Os Serranos na Expointer.


JOÃO PANTALEÃO LEITE é poeta e compositor gaúcho.



Há muito mais do que se imagina nas terras tupiniquins...

- Ricardo Celestino


quinta-feira, 5 de junho de 2008




A Avenida Paulista foi um dia um gigantesco matagal. Em 1891 Joaquim Eugenio Lima, um uruguaio, decidiu fazer dela uma grande paisagem à moda européia. Já que não tinha mais índio para enfeitar, que enfeitemos nossa paisagem! A burguesia invadiu a avenida promovendo a construção de grandes casarões, que conviveram com grandes movimentações urbanas como corridas de automóveis e passeatas.
O Trianon foi esbofeteado pelo modernismo. E o Trianon fica na Avenida Paulista.
Com o tempo tiveram de alargar a avenida. As corridas de automóveis se engarrafaram. Sabe como é, muito corredor para pouco espaço acabou tornando a emoção um tédio rotineiro.
E sabe o que aconteceu? Os terrenos do parque Villon e Bellvedere Trianon se estenderam e viraram uma gigantesca rua chamada Augusta. Lá vive a grande sociedade paulistana. Lá há bailes, homenagens políticas, carnaval e até manifestos artísticos. O problema é que nada do que eles falam deve ser escutado. Villon e Bellvedere acabaram virando uma gigantesca massa monga de São Paulo. Parabéns Andrades.
Nas quartas a cultura sai de folga. É o dia do cinema, no jornal. Nós saímos para assistir os filmes em cartaz para comentar depois.
Eu fico com o espaço de filmes alternativos. Existem filmes muito bons, mas a maioria dá preguiça de assistir.

- Ricardo Celestino

quinta-feira, 29 de maio de 2008




- Pensa só... existem coisas que a gente acaba omitindo, só para nos sentirmos bem conosco, mas no fim, percebemos que a vida é uma linha... sei lá, uma linha meio frágil, mas uma linha.
- Eu sempre quis ser o melhor...
- É, aí a coisa ja não é mais comigo...
- Bem, valeu Saudade.
- Até mais!



- A vanguarda... ela normalmente busca novos caminhos marginais até virar aplausos. Aí ela se cansa.
- Secaram?
- Jamais... se fosse óbvio, que razão teria?


Lá vai... O X-Ignorância deu uma ótima idéia e eu comecei a rabiscar algumas coisas..... ainda não é nada definitivo, já que teremos boas discussões sobre tudo isso... acontece que ta virando uma coisa grande, profunda... e eu acho q vai ficar ótimo (não pela minha parte, mas por unir a insanidade de um comilão e a agaivética espetada de um brazillix (nota: que quem não lê esse blog com freqüência não vai entender o trocadilho... - nota da nota: essa é uma dica, seu idiota! Xerete os posts anteriores que vc vai enteder)

bom, é isso... e fiquem com Deus viu...

Ricardo Celestino

quarta-feira, 14 de maio de 2008

é....

terça-feira, 13 de maio de 2008

Bem, fiquei um pouco maluco com a idéia de que todos temos uma cenoura invisível... isso me perseguiu tanto que ontem tive uma aula sobre Psicanálise, e vi que a psicanálise é um pouco fundamentada na cenoura invisível. interessante...

Mas sem dúvida que o autor desse texto é um maluco desgraçado. Bem, aí vai o texto, é de Chuck Palahniuk, autor do Clube da Luta.

Inspire.

Inspire o máximo de ar que conseguir. Essa estória deve durar aproximadamente o tempo que você consegue segurar sua respiração, e um pouco mais. Então escute o mais rápido que puder.

Um amigo meu aos 13 anos ouviu falar sobre "fio-terra". Isso é quando alguém enfia um consolo na bunda. Estimule a próstata o suficiente, e os rumores dizem que você pode ter orgasmos explosivos sem usar as mãos. Nessa idade, esse amigo é um pequeno maníaco sexual. Ele está sempre buscando uma melhor forma de gozar. Ele sai para comprar uma cenoura e lubrificante. Para conduzir uma pesquisa particular. Ele então imagina como seria a cena no caixa do supermercado, a solitária cenoura e o lubrificante percorrendo pela esteira o caminho até o atendente no caixa. Todos os clientes esperando na fila, observando. Todos vendo a grande noite que ele preparou.

Então, esse amigo compra leite, ovos, açúcar e uma cenoura, todos os ingredientes para um bolo de cenoura. E vaselina.

Como se ele fosse para casa enfiar um bolo de cenoura no rabo.

Em casa, ele corta a ponta da cenoura com um alicate. Ele a lubrifica e desce seu traseiro por ela. Então, nada. Nenhum orgasmo. Nada acontece, exceto pela dor.

Então, esse garoto, a mãe dele grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para descer, naquele momento.

Ele remove a cenoura e coloca a coisa pegajosa e imunda no meio das roupas sujas debaixo da cama.

Depois do jantar, ele procura pela cenoura, e não está mais lá. Todas as suas roupas sujas, enquanto ele jantava, foram recolhidas por sua mãe para lavá-las. Não havia como ela não encontrar a cenoura, cuidadosamente esculpida com uma faca da cozinha, ainda lustrosa de lubrificante e fedorenta.

Esse amigo meu, ele espera por meses na surdina, esperando que seus pais o confrontem. E eles nunca fazem isso. Nunca. Mesmo agora que ele cresceu, aquela cenoura invisível aparece em toda ceia de Natal, em toda festa de aniversário. Em toda caça de ovos de páscoa com seus filhos, os netos de seus pais, aquela cenoura fantasma paira por sobre todos eles. Isso é algo vergonhoso demais para dar um nome.

As pessoas na França possuem uma expressão: "sagacidade de escadas." Em francês: esprit de l'escalier. Representa aquele momento em que você encontra a resposta, mas é tarde demais. Digamos que você está numa festa e alguém o insulta. Você precisa dizer algo. Então sob pressão, com todos olhando, você diz algo estúpido. Mas no momento em que sai da festa....

Enquanto você desce as escadas, então - mágica. Você pensa na coisa mais perfeita que poderia ter dito. A réplica mais avassaladora.

Esse é o espírito da escada.

O problema é que até mesmo os franceses não possuem uma expressão para as coisas estúpidas que você diz sob pressão. Essas coisas estúpidas e desesperadas que você pensa ou faz.

Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos.

Agora que me recordo, os especialistas em psicologia dos jovens, os conselheiros escolares, dizem que a maioria dos casos de suicídio adolescente eram garotos se estrangulando enquanto se masturbavam. Seus pais o encontravam, uma toalha enrolada em volta do pescoço, a toalha amarrada no suporte de cabides do armário, o garoto morto. Esperma por toda a parte. É claro que os pais limpavam tudo. Colocavam calças no garoto. Faziam parecer... melhor. Ao menos, intencional. Um caso comum de triste suicídio adolescente.

Outro amigo meu, um garoto da escola, seu irmão mais velho na Marinha dizia como os caras do Oriente Médio se masturbavam de forma diferente do que fazemos por aqui. Esse irmão tinha desembarcado num desses países cheios de camelos, na qual o mercado público vendia o que pareciam abridores de carta chiques. Cada uma dessas coisas é apenas um fino cabo de latão ou prata polida, do comprimento aproximado de sua mão, com uma grande ponta numa das extremidades, ou uma esfera de metal ou uma dessas empunhaduras como as de espadas. Esse irmão da Marinha dizia que os árabes ficavam de pau duro e inseriam esse cabo de metal dentro e por toda a extremidade de seus paus. Eles então batiam punheta com o cabo dentro, e isso os faziam gozar melhor. De forma mais intensa.

Esse irmão mais velho viajava pelo mundo, mandando frases em francês. Frases em russo. Dicas de punhetagem.

Depois disso, o irmão mais novo, um dia ele não aparece na escola. Naquela noite, ele liga pedindo para eu pegar seus deveres de casa pelas próximas semanas. Porque ele está no hospital.

Ele tem que compartilhar um quarto com velhos que estiveram operando as entranhas. Ele diz que todos compartilham a mesma televisão. Que a única coisa para dar privacidade é uma cortina. Seus pais não o vem visitar. No telefone, ele diz como os pais dele queriam matar o irmão mais velho da Marinha.

Pelo telefone, o garoto diz que, no dia anterior, ele estava meio chapado. Em casa, no seu quarto, ele deitou-se na cama. Ele estava acendendo uma vela e folheando algumas revistas pornográficas antigas, preparando-se para bater uma. Isso foi depois que ele recebeu as notícias de seu irmão marinheiro. Aquela dica de como os árabes se masturbam. O garoto olha ao redor procurando por algo que possa servir. Uma caneta é grande demais. Um lápis, grande demais e áspero. Mas escorrendo pelo canto da vela havia um fino filete de vela derretida que poderia servir. Com as pontas dos dedos, o garoto descola o filete da vela. Ele o enrola na palma de suas mãos. Longo, e liso, e fino.

Chapado e com tesão, ele enfia lá dentro, mais e mais fundo por dentro do canal urinário de seu pau. Com uma boa parte da cera ainda para fora, ele começa o trabalho.

Até mesmo nesse momento ele reconhece que esses árabes eram caras muito espertos. Eles reinventaram totalmente a punheta. Deitado totalmente na cama, as coisas estão ficando tão boas que o garoto nem observa a filete de cera. Ele está quase gozando quando percebe que a cera não está mais lá.

O fino filete de cera entrou. Bem lá no fundo. Tão fundo que ele nem consegue sentir a cera dentro de seu pau.

Das escadas, sua mãe grita dizendo que é a hora da janta. Ela diz para ele descer naquele momento. O garoto da cenoura e o garoto da cera eram pessoas diferentes, mas viviam basicamente a mesma vida.

Depois do jantar, as entranhas do garoto começam a doer. É cera, então ele imagina que ela vá derreter dentro dele e ele poderá mijar para fora. Agora suas costas doem. Seus rins. Ele não consegue ficar ereto corretamente.

O garoto falando pelo telefone do seu quarto de hospital, no fundo pode-se ouvir campainhas, pessoas gritando. Game shows.

Os raios-X mostram a verdade, algo longo e fino, dobrado dentro de sua bexiga. Esse longo e fino V dentro dele está coletando todos os minerais no seu mijo. Está ficando maior e mais expesso, coletando cristais de cálcio, está batendo lá dentro, rasgando a frágil parede interna de sua bexiga, bloqueando a urina. Seus rins estão cheios. O pouco que sai de seu pau é vermelho de sangue.

O garoto e seus pais, a família inteira, olhando aquela chapa de raio-X com o médico e as enfermeiras ali, um grande V de cera brilhando na chapa para todos verem, ele deve falar a verdade. Sobre o jeito que os árabes se masturbam. Sobre o que o seu irmãos mais velho da Marinha escreveu.

No telefone, nesse momento, ele começa a chorar.

Eles pagam pela operação na bexiga com o dinheiro da poupança para sua faculdade. Um erro estúpido, e agora ele nunca mais será um advogado.

Enfiando coisas dentro de você. Enfiando-se dentro de coisas. Uma vela no seu pau ou seu pescoço num nó, sabíamos que não poderia acabar em problemas.

O que me fez ter problemas, eu chamava de Pesca Submarina. Isso era bater punheta embaixo d'água, sentando no fundo da piscina dos meus pais. Pegando fôlego, eu afundava até o fundo da piscina e tirava meu calção. Eu sentava no fundo por dois, três, quatro minutos.

Só de bater punheta eu tinha conseguido uma enorme capacidade pulmonar. Se eu tivesse a casa só para mim, eu faria isso a tarde toda. Depois que eu gozava, meu esperma ficava boiando em grandes e gordas gotas.

Depois disso eram mais alguns mergulhos, para apanhar todas. Para pegar todas e colocá-las em uma toalha. Por isso chamava de Pesca Submarina. Mesmo com o cloro, havia a minha irmã para se preocupar. Ou, Cristo, minha mãe.

Esse era meu maior medo: minha irmã adolescente e virgem, pensando que estava ficando gorda e dando a luz a um bebê retardado de duas cabeças. As duas parecendo-se comigo. Eu, o pai e o tio. No fim, são as coisas nais quais você não se preocupa que te pegam.

A melhor parte da Pesca Submarina era o duto da bomba do filtro. A melhor parte era ficar pelado e sentar nela.

Como os franceses dizem, Quem não gosta de ter seu cú chupado? Mesmo assim, num minuto você é só um garoto batendo uma, e no outro nunca mais será um advogado.

Num minuto eu estou no fundo da piscina e o céu é um azul claro e ondulado, aparecendo através de dois metros e meio de água sobre minha cabeça. Silêncio total exceto pelas batidas do coração que escuto em meu ouvido. Meu calção amarelo-listrado preso em volta do meu pescoço por segurança, só em caso de algum amigo, um vizinho, alguém que apareça e pergunte porque faltei aos treinos de futebol. O constante chupar da saída de água me envolve enquanto delicio minha bunda magra e branquela naquela sensação.

Num momento eu tenho ar o suficiente e meu pau está na minha mão. Meus pais estão no trabalho e minha irmão no balé. Ninguém estará em casa por horas.

Minhas mãos começam a punhetar, e eu paro. Eu subo para pegar mais ar. Afundo e sento no fundo.

Faço isso de novo, e de novo.

Deve ser por isso que garotas querem sentar na sua cara. A sucção é como dar uma cagada que nunca acaba. Meu pau duro e meu cú sendo chupado, eu não preciso de mais ar. O bater do meu coração nos ouvidos, eu fico no fundo até as brilhantes estrelas de luz começarem a surgir nos meus olhos. Minhas pernas esticadas, a batata das pernas esfregando-se contra o fundo. Meus dedos do pé ficando azul, meus dedos ficando enrugados por estar tanto tempo na água.

E então acontece. As gotas gordas de gozo aparecem. É nesse momento que preciso de mais ar. Mas quando tento sair do fundo, não consigo. Não consigo colocar meus pés abaixo de mim. Minha bunda está presa.

Médicos de plantão de emergência podem confirmar que todo ano cerca de 150 pessoas ficam presas dessa forma, sugadas pelo duto do filtro de piscina. Fique com o cabelo preso, ou o traseiro, e você vai se afogar. Todo o ano, muita gente fica. A maioria na Flórida.

As pessoas simplesmente não falam sobre isso. Nem mesmo os franceses falam sobre tudo. Colocando um joelho no fundo, colocando um pé abaixo de mim, eu empurro contra o fundo. Estou saindo, não mais sentado no fundo da piscina, mas não estou chegando para fora da água também.

Ainda nadando, mexendo meus dois braços, eu devo estar na metade do caminho para a superfície mas não estou indo mais longe que isso. O bater do meu coração no meu ouvido fica mais alto e mais forte.

As brilhantes fagulhas de luz passam pelos meus olhos, e eu olho para trás... mas não faz sentido. Uma corda espessa, algum tipo de cobra, branco-azulada e cheia de veias, saiu do duto da piscina e está segurando minha bunda. Algumas das veias estão sangrando, sangue vermelho que aparenta ser preto debaixo da água, que sai por pequenos cortes na pálida pele da cobra. O sangue começa a sumir na água, e dentro da pele fina e branco-azulada da cobra é possível ver pedaços de alguma refeição semi-digerida.

Só há uma explicação. Algum horrível monstro marinho, uma serpente do mar, algo que nunca viu a luz do dia, estava se escondendo no fundo escuro do duto da piscina, só esperando para me comer.

Então... eu chuto a coisa, chuto a pele enrugada e escorregadia cheia de veias, e parece que mais está saindo do duto. Deve ser do tamanho da minha perna nesse momento, mas ainda segurando firme no meu cú. Com outro chute, estou a centímetros de conseguir respirar. Ainda sentido a cobra presa no meu traseiro, estou bem próximo de escapar.

Dentro da cobra, é possível ver milho e amendoins. E dá pra ver uma brilhante esfera laranja. É um daqueles tipos de vitamina que meu pai me força a tomar, para poder ganhar massa. Para conseguir a bolsa como jogador de futebol. Com ferro e ácidos graxos Ômega 3.

Ver essa pílula foi o que me salvou a vida.

Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim. O que os médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas pelo duto.

Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode puxar 300 litros de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai perceber como isso pode acontecer.

O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No meio disso tudo está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.

Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou, mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma.

Deus proíba que meus pais vejam meu pau.

Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível puxar de volta.

Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre um camisinha feita com intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim. Lubrifique e coloque debaixo d'água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme e ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.

Uma camisinha dessas é feita do bom e velho intestino.

Você então vê contra o que eu lutava.

Se eu largo, sai tudo.

Se eu nado para a superfície, sai tudo.

Se eu não nadar, me afogo.

É escolher entre morrer agora, e morrer em um minuto.

O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo curvado. Mergulhado na árgua turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e esperanças. Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de esperma.

Ou isso, ou meus pais me encontrariam enrolado numa toalha encharcada de sangue, morto entre a piscina e o telefone da cozinha, os restos destroçados das minhas entranhas para fora do meu calção amarelo-listrado.

Algo sobre o qual nem os franceses falam.

Aquele irmão mais velho na Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma expressão russa. Do jeito que nós falamos "Preciso disso como preciso de um buraco na cabeça...," os russos dizem, "Preciso disso como preciso de dentes no meu cú......

Mne eto nado kak zuby v zadnitse.

Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem, qualquer coiote poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer.

Droga... mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.

Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cú. Se você ficar sem ar você consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo.

Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais frutos do mar.

É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, "Você não sabia o que estava fazendo, querido. Você estava em choque." E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.

Todas aquelas pessoas enojadas ou sentindo pena de mim....

Precisava disso como precisaria de dentes no cú.

Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em jantares ficam quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos podem me matar. Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro de mim, sai ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo intacto na privada.

Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso. Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava aos 13 anos.

Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da família caiu e se afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da limpeza abriu o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino com uma grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, "Aquela p#%%@ daquele cachorro era maluco."

Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar, "Não dava para deixar aquele cachorro sozinho por um segundo...."

E então a menstruação da minha irmã atrasou.

Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos para outro estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus pais nunca mencionaram mais isso novamente.

Nunca.

Essa é a nossa cenoura invisível.

Você. Agora você pode respirar.

Eu ainda não.



Freud iniciou seu trabalho usando o hipnotismo com o objetivo de fazer com que as pacientes reproduzissem as situações traumáticas que estavam na origem de seus sintomas.

Posteriormente, descobriu que os pacientes não precisavam ser hipnotizados e que a recordação por meio da sugestão, era um método mais eficaz para eliminar, alterar ou diminuir os sintomas.

Mais tarde, Freud chegou ao método psicanalítico propriamente dito, e passou a orientar a seus pacientes que falassem sobre qualquer coisa que lhes viessem à mente, mesmo que pudesse parecer sem importância, sem relação com seus problemas, ou que fossem reprováveis. Esta é a "regra fundamental" da psicanálise, que é apresentada a cada paciente e com a qual todo paciente deve colaborar. Freud descobriu que todos esses pensamentos, lembranças, fantasias, tinham relação com os sintomas. Freud acreditou no valor das palavras e propôs aos pacientes a recordação e até mesmo a "construção" como método de tratamento psíquico. Descobriu que o sintoma tem um sentido, ou múltiplos sentidos que foram esquecidos pelo sujeito ou que nunca lhe foram conscientes. Para a psicanálise, os sintomas psíquicos são formas substitutivas de satisfação e estão relacionados à sexualidade infantil reprimida.

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 12 de maio de 2008



Me posicionando nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade eu consigo fazer de mim mesmo um grande líder político.

E a receita é ser livre para ouvir apenas um, ter a igualdade de apenas seu mundo e a fraternidade de posicionar-se no que te oferecem.

A grande questão é instruir meus comuns desses conceitos, dizendo de forma revolucionária que o necessário é abrir os horizontes, ser ativo. No entanto, a única ferramenta que lhes proporciono é minha cartilha eleitoral.

Abençoadas as teorias que alienam meu povo!
Sou esquerda, sou direita, sou de centro... sou um grande líder de um bando de idiotas.

- Ricardo Celestino

sexta-feira, 9 de maio de 2008

APOSENTANDO-ME... ou FILA NO INSS... ou EU POSSO USAR O BANCO CINZA DO METRÔ...

A China subjetiva esconde
Uma multidão de geniais substantivos,
Uns mais perfeitos que os outros.


Acordei hoje um pouco de saco cheio de ter que ler ou escrever... sei lá, as vezes eu tenho vontade de enterrar o dia, sabe? tirar pra não fazer exatamente nada!


rs

Quero minha aposentadoria!

- Ricardo Celestino

terça-feira, 6 de maio de 2008

PREFÁCIO MAIS QUE INTERESSANTÍSSIMO

Escrevo um prefácio mais que interessantíssimo com o ultraje de ser mais novo e mais velho que o dono do interessantíssimo. Não há intenção na discussão: escrevo por que o instante pede, por que ando, respiro, bebo, me divirto, me entristeço, me revolto. A escrita é espelho, embora deformado e estranho, bonito e feio, ativo ou inativo.

Cada letra, cada verso, é coração. Escreveria sobre todos, mas estragaria a mágica da poética tornando o trabalho um simples diário de revoltas e amores imbecis.

Leia, critique, chore, divirta-se ou vomite, mas nunca torne-me imbecil demais para o seu tempo, ou divino demais para sua compreensão. Você, leitor preguiçoso, crédulo ou incrédulo, ativo ou bobalhão, é o enfoque desta micha obra que tem o peso de machadadas a quilos de ideais carnívoros.

O teu coração já parou de bater a anos e só agora você percebe que precisa de uns socos poéticos para voltar a senti-lo. Pensepensepensepensepense... tudo juntinho...

Esqueça tudo o que aconteceu no passado!

Esqueça tudo que acontecerá hoje!

Esqueça tudo que viverá e todos os teus planos bestas!

Isso tudo é muito mais importante do que nada... antes ler um livro do que vigiar tua vizinha nua... ou melhor, vigie tua vizinha e depois continue a leitura.

As casas de agitações agitam só os esqueletos aliens... eu não sou daqui... minha casa é um lugar frequentado por estrangeiros...

Estrangeiros do mundo, que rimam sal com cal e no final... tudo é azedo igual... tudo é subsídio... é parâmetro... base para cá, para lá, acolá...

Não consuma minha obra como um vinho caro, encare-a como um sal de frutas...

Adeus e até logo!

Se algum dia cruzares comigo, diga ao menos o quanto desinteressante são minhas palavras...

Queridos leitores, o diabo acompanhe vocês... massa bestelóide.

E pra não deixar de ser acadêmico, e dar aqui justificativa a meu título: ``Toda canção de liberdade vem do cárcere!``

- Como se Gorch Fock tivesse alguma importância numa hora dessas...

Ricardo Celestino

segunda-feira, 5 de maio de 2008

MINHAS ANOTAÇÕES NO 12º CONGRESSO BRASILEIRO DE LÍNGUA PORTUGUESA E 3º CONGRESSO INTERNACIONAL DE LUSOFONIA - IP-PUC/SP

A língua portuguesa possui hoje duas ortografias: a lusitana e a brasileira. A ortografia lusitana é base para as nações lusófonas, exceto o Brasil, sendo lusófonas as nações que tem como língua materna ou segunda língua a portuguesa.

Existe uma proposta que visa ligar o galego à lusofonia, uma vez que existem características lingüísticas próximas entre o português luso, o brasileiro e o galego.

Toda e qualquer reforma lingüística visa respeitar a unidade social que há na língua e refletir em cima das semelhanças ortográficas. A questão ortográfica da língua portuguesa tem quase um século (desde 1911, que deu-se a primeira reforma ortográfica de Portugal, sem a consulta de nenhuma outra nação lusófona).

Segundo Malaca Casteleiro, a língua (ortografia) não é só Portugal, mas todos os usuários dela. Por isso a necessidade de uma reforma com o consenso de todas as nações.

O QUE HÁ DE COMUM ENTRE PORTUGAL E BRASIL NAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS?

Hoje, brasileiros aceitam suprimir as consoantes mudas e não articuladas.

Sempre houve a reflexão de um consenso entre a Língua Portuguesa brasileira e a Língua Portuguesa lusitana.


(um resumo breve da palestra de abertura do 12º Congresso de Língua Portuguesa e 3º Congresso de Lusofonia da PUCSP, ministrada por João Malaca Casteleiro da Academia de Ciências de Lisboa)


Logo que acabou a palestra de abertura eu pensei: Nossa! dá pra criar uma baita reflexão sobre a reforma ortográfica e a norma culta, já que ambas visam o respeito das unidades sociais da língua, mas acabam, de certa forma, sendo as responsáveis pela criação de inúmeros preconceitos lingüísticos graças a ´´bons gramáticos´´ que refletem a língua ainda com o discurso de certo e errado.

Fica como sugestão de leitura O preconceito lingüístico, de Marcos Bagno, e uma olhada bem minusciosa nas entrelinhas da Gramática da Língua Portuguesa, 2º grau, de Ulisses Infante e Pasquale Cipro Neto. Pra quem não tem amigos e assistiu o Altas Horas nesse sábado e ouviu o discurso do Professor Pasquale a respeito da língua portuguesa como um armário com inúmeras roupas, vale a pena ler os dois livros.


AHHh! vale ressaltar que mesmo o Brasil tendo uma ortografia que difere, em pouquíssimas palavras, da lusitana, ainda não podemos dizer que exista a Língua Brasileira e a Língua Portuguesa. Aliás, essa é outra discussão que dá muito pano pra manga e exige muito mais pesquisa do que a simples comparação de pronúncias.


Ainda no congresso, Evanildo Bechara trouxe uma reflexão bem interessante sobre gramática. Aí vai minhas anotações:


Estudo sobre a Introdução da Investigação Científica da Gramática Brasileira

- Said Ali foi um gênio na construção da gramaticografia portuguesa no Brasil.

Said Ali: - professor de alemão;

- desenha as regiões do Brasil (1905);

- nascido em Petrópolis (mãe brasileira e padrasto alemão);

- língua materna alemã.

- trouxe para a Gramática Portuguesa novidades metodológicas do curso de Fernand de Saussure.

Reflexão sobre a sincronia e a diacronia na gramática.

- Gramática Elementar: Visa à construção lingüística do indivíduo.

``Descrição de uma língua só pode ser feita sincronicamente.``

- Chama sua gramática de Lexicologia do Português Histórico e afirma que a língua deve ser documentada, pois ela inicia-se falada e daí passa para a escrita. A gramática trata das formas do português em sua documentação escrita.

- como se pode fazer uma gramática histórica sem latim? (As críticas que envolvem a gramática de Said Ali)

- Teoria de Saussure de que a descrição é um estágio lingüístico e o que Said Ali faz é comparar dois estágios lingüísticos sendo o primeiro o português atual, o segundo um português mais antigo.

- Proximidade com a competência lingüística do estudante, já que o Latim fora tirado da grade curricular das escolas.

- Propõe uma nova divisão das fases históricas da Língua Portuguesa.

- Said Ali reflete até a fase do Português Moderno de Machado de Assis, sendo suas últimas leituras Júlio Dinis e Eça de Queiroz.

- O português contemporâneo começa a ser explorado por outros pesquisadores, seguindo como base a gramática de Said Ali.

INTRODUÇÃO DA FONÉTICA SINTÁTICA

- Said Ali é o primeiro a refletir sobre a fonética na gramática, no capítulo referente às dificuldades com a sintaxe (problemas de entonação)

- Até o séc. XVII permanecia a próclise, mas a partir dos séculos seguintes, há uma pronomização em Portugal, intensificando a sílaba tônica.

- Os Lusíadas possui em sua métrica a mesma cadência rítmica do português brasileiro hoje.

CONCLUSÃO DE BECHARA

- Said Ali é um mestre que deve continuar a ser refletido nas gerações posteriores assim como Fernand de Saussure. Ele traz para a gramática da língua portuguesa as primeiras reflexões sobre a dicotomia da língua (fala e escrita), observando-a como um sistema lingüístico.


(Evanildo Bechara, ABL - UFF - Liceu Literário Português, palestrante no 12º Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa e 3º Congresso Internacional de Lusofonia da PUCSP)


E assistir Bechara sem dúvida é a melhor coisa do mundo! O cara manda bem demais e te motiva a pesquisar e estudar, por que você sai de lá se sentindo extremamente idiota e burrão. Vale como sugestão de leitura o Curso de Lingüística Geral de Fernand de Saussure e uma consultada na gramática de Evanildo Bechara que traz reflexões interessantes não só sobre a dicotomia da língua como a real função que uma gramática deve ter (subsídio na hora de estar praticando a língua em uma devida situação).

Celso Cunha também tem uma gramática boa pra quem pensa em revisar textos. É sempre bom ter essas gramáticas em casa, mas cuidado para não comprar uma gramática histórica, por que ela não vai te servir pra nada! rs...


Bem, pra encerrar, trouxe também algumas reflexões do Luís Carlos Travaglia a respeito do ensino das teorias lingüísticas em sala de aula.


- Teorias Lingüísticas e sala de aula – uma ponte possível

COMO APLICAR TEORIA LINGÜÍSTICA EM SALA (sendo teoria lingüística o ensino da língua materna ou gramática descritiva)

I – Bases para ir da teoria às atividades em sala de aula

- Objeto de ensino;

- Estruturação e composição das atividades;

- O conhecimento teórico da língua é fundamental para o professor.

Meta: desenvolvimento da competência comunicativa.

- Menos ênfase à teoria gramatical.

- Necessidade em saber usar a língua.

- Possibilidades significativas dos recursos lingüísticos.

- Competência comunicativa: usar recursos da língua de modo adequado numa situação devida.

- Língua como forma de interação.

- O significado vai além da seqüência lingüística.

- Efeito de sentidos que pode ser produzido num texto. O QUE?, POR QUEM?, EM QUAL SITUAÇÃO?, QUAL OBJETIVO?

``Menos importante desenvolver do aluno a teoria gramatical do que mostrar sua função inserida num texto.´´

A TEORIA É UMA TENTATIVA DE DESCREVER ALGO DA LÍNGUA, E DEVE SER USADA COMO SUBSÍDIOS

- Há mais que uma descrição para o mesmo ato lingüístico.

- Há possibilidades de construções de novas teorias lingüísticas.


(Luíz Carlos Travaglia, Univerdade Federal de Uberlândia, 12º Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa e 3º Congresso Internacional de Lusofonia)

e enfim, eu achei toda essa reflexão muito interessante, por que todas as palestras que eu assisti deixaram aberto uma coisa: continuem estudando sempre, por que a ciência, embora pareça já não ter mais campos de pesquisa ou espaço para coisas novas, está sempre abrindo campos de discussões interessantes que podem muito bem influenciar na prática das pessoas. O congresso é realizado de dois em dois anos. Esse é o segundo que eu participo e saio de lá mais motivado que quando sai do primeiro. Deveríamos cobrar esse tipo de evento em nossas faculdades também. Isso valoriza quem pensa em seguir uma carreira que não é lá muito valorizada hoje em dia: tanto o professor de letras quanto o pesquisador dos fenômenos que envolvem a linguagem.


- RICARDO CELESTINO

segunda-feira, 28 de abril de 2008

- Diego Garcia

Um passeio subjetivo pela cidade de São Paulo e uma tentativa de não ser só mais um clichê dos modernos.

Um trabalho de Diego Garcia ilustrado por alguns rabiscos de Ricardo Celestino.


- Ricardo Celestino

sexta-feira, 25 de abril de 2008

NÃO SE FAZEM DIAS COMO AQUELE DIA...

Bem, hoje irei escrever algo fugindo um pouco do padrão literário e crítico, mas para quem me conhece sabe que as bases de toda minha parole estão relacionadas a esse assunto...
como irei estar afastado dos computadores amanhã, decidi postar hoje o que já a muito venho exteriorizando com risos, palavras, caras...

dia 26/04/07 - Depois de teus olhos de gota tanto me observarem, e depois de uma guerra incessante de mim comigo mesmo, acabei embarcando em tua Highway, e vc mergulhou de cabeça e de roupa e tudo dentro dos meus sentimentos. O que transparece aos outros como um simples rondó para mover esqueletos, na verdade é uma sofisticada canção de jazz, e nossos ouvidos sensíveis captam o que ninguém jamais captou. Apenas juntos...

Uma das canções que marcaram esse dia:

When your heart is black and broken
And you need a helping hand
When you're so much in love
You don't know just how much you can stand
When your questions go unanswered
And the silence is killing you
Take my hand baby, I'm your man
I got love enough for two

Ten storey love song
I built this thing for you
Who can take you any higher
Than twin peak mountain blue?
Oh well, I built this thing for you
And I love you true

There's no sure fire set solution
No short cut through the trees
No breach in the wall
That they put there
To keep me from you

As you're lying awake in the darkness
This everlasting night
Someday soon
Don't know where or when
You're gonna wake up and see the light

Ten storey love song
I built this thing for you
Who can take you any higher
Than twin peak mountain blue?
Oh well, I built this thing for you
And I love you true

Dia 25/04/08 - E hoje completa quase um ano, na ausência de um dia, e nossa música há de cantar e preencher-nos sempre que necessário. Sei lá, algo como um punk rock muito brega, ou um sertanejo de moicano e calça rasgada... mas ela sempre vai estar presente na forma de abraços, beijos, choros ou sorrisos...

Amoo tu, como nunca amei ninguém menina cabeçuda! E você tem preenchido aqueles vãos de imperfeição que fazem com que eu queira avançar.

thanx!!!

I love you true!

terça-feira, 22 de abril de 2008

EPOPÉIA DA BURGUESIA - EM BREVE UM RESUMO CIENTÍFICO

busca-se o tesouro que é o próprio ego,

uma identidade que é um intertexto de grandes histórias,
formam a maior epopéia do universo.

- Ricardo Celestino

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O USO DE DROGAS...

JC - Hoje, a educação concernente a drogas é uma educação contra drogas. Que tipo de educação você acha que devemos adotar para usufruirmos as drogas eficientemente?

Henrique Carneiro: esta é uma questão central. Devemos adotar em relação às drogas não um discurso erradicador e abstensionista puro. O ´just say no´ é uma atitude completamente inviável, porque há uma curiosidade natural das pessoas em conhecer os efeitos das drogas.

Todas as instituições deveriam incentivar os jovens não a ser ´´virgens eternos´´ em relação ao uso destas substâncias, mas sim a conhecê-las em sua imensa gama e nos riscos e benefícios do que cada uma pode trazer. A partir daí, eles escolheriam usá-las ou não, em última instância em função de sua liberdade de escolha. É um direito, assim como fazer alpinismo.

O ideal é um processo educacional em que as pessoas pudessem consumir drogas como parte da iniciação à vida adulta, mas tendo um critério de conhecimento pleno. Ocorreria a substituição do ´just say no´ pelo ´just say know´.

[MATÉRIA EXTRAÍDA DO JORNAL DO CAMPUS. ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES, Universidade de São Paulo, Segunda quinzena de abril de 2008 - NÚMERO 336, ANO 26.]

O uso de drogas psicodélicas é, sob qualquer pretexto, considerado nocivo pela propaganda governamental. Para Henrique Carneiro, autor de seis livros sobre drogas e professr titular do Departamento de História da USP desde 2003, a solução para combater os malefícios do uso destas substâncias não é adotar o discurso de abstenção total, mas sim educar os jovens para que eles desfrutem delas, cientes de seus malefícios. Todas as instituições sociais, da família à escola, devem se envolver no processo de abertura não das portas da percepção, como das do diálogo.


Posto essa matéria com o intuito de estimular uma reflexão a cerca do uso drogas no Brasil. Bem, inicialmente, penso que o Brasil é um país gigantesco e tudo que se pensa para ele, deve-se pensar em toda a sua extensão de norte a sul, de leste a oeste. Henrique Carneiro tem uma brilhante tese sobre como a droga deve ser legalizada, mas ele parte de um princípio ideal, impraticável em São Paulo, quanto mais no Brasil.

Bem, e por que impraticável? Seria o caso de observarmos como se dá o uso de uma substância lícita hoje em dia, o álcool. Podemos afirmar que o álcool é utilizado de forma consciente? Não estou fazendo aqui uma apologia à censura das substâncias químicas, aliás concordo bastante com o que Henrique Carneiro defende, no entanto eu interpreto sua tese como uma utopia que é ótima de ser lida e conhecida, em resumo, um Karl Marx, um Lênin, que na prática acaba gerando resultados que fogem do controle.

Me penduro nas costas do velhinho Paulo Freire para afirmar, com as minhas palavras mas com as idéias do pedagogo, de que é impossível de se pensar em uma lei, uma estrutura ou uma idéia que sirva para todas as extensões brasileiras. As mudanças devem surgir em escala regional, e aí eu me apoio a Henrique Carneiro e afirmo que não deve haver intromissão de igreja, nem de governo, nem de nada quanto às mudanças naturais que ocorrem na sociedade, pois não adiantou nada a igreja posicionar-se contra o uso da camisinha, contra a terra ser redonda, contra o renascimento... as coisas acontecem como devem acontecer. Não devemos forçar nem daqui, nem dali.

E bem... vamos tomar cuidado com o excesso de partidarismos...

Sem mais.

Ricardo Celestino

quinta-feira, 17 de abril de 2008

OREBILOSSEC

1...2...3...

caminhando

1...2...3...

parando

1...2...3...

vivendo

E as leis físicas dominam meus instintos,
Mas as leis físicas não dominam meu coração.

1...2...3...

vivendo

1...2...3...

caminhando parando

1...2...3...

vivendo caminhando

1...2...3...

parando parando

1...2...3...

E as físicas dominam as leis instintos meus,
Físicas leis meu coração mas não as dominam.

1...2...3...

vivendo caminhando vivendo

1..vivendo...3...

caminhando 2 parando

1...
caminhando
2...
vivendo
3...
parado

- Ricardo Celestino

UM POUCO DE FOUCAULT - UMA REFLEXÃO DE ROSA MAIRA BUENO FISCHER

Procurei, neste artigo, expor a teoria de Foucault sobre o discurso, demonstrando
de que modo o autor ensina aos pesquisadores um modo de investigar
não .o que está por trás. dos textos e documentos, nem .o que se queria
dizer. com aquilo, mas sim descrever quais são as condições de existência de um
determinado discurso, enunciado ou conjunto de enunciados. Suspendendo continuidades,
acolhendo cada momento do discurso e tratando-o no jogo de rela-
ções em que está imerso, é possível levantar um conjunto de enunciados efetivos,
em sua singularidade de acontecimentos raros, dispersos e dispersivos e indagar:
afinal, por que essa singularidade acontece ali, naquele lugar, e não em outras
condições?
Em síntese, partindo de que não se pode falar de qualquer coisa em qualquer
época, o que afirmei, a partir de Foucault, é que um determinado objeto
(como o conjunto de enunciações sobre a professora dadivosa ou a adolescente
virgem) existe sob condições .positivas., na dinâmica de um feixe de relações, e
que há condições de aparecimento histórico de um determinado discurso, relativas
às formações não discursivas (instituições, processos sociais e econômicos).
Tudo isso pode ser aprendido e descrito a partir dos próprios textos; a partir deles,
é possível destacar as regras pelas quais o jogo de relações entre o discursivo e o
não discursivo, em uma determinada época, fazem aparecer aquele objeto, e não
outro, como objeto de poder e saber (o objeto virgindade adolescente, o objeto
professora missionária, ou ainda o objeto mulher jovem de 40 anos, conforme os
exemplos citados).
A compreensão da temporalidade dos discursos, como vimos aqui, talvez
possa deixar um pouco mais clara a preocupação de Foucault com a .raridade. não
só dos enunciados, mas dos próprios fatos humanos. Essa atenção ao que poderia
ser .outro. é básica para o arqueologista. O historiador Paul Veyne explica que a
afirmação de que os fatos humanos são raros significa, no pensamento foucaultiano,
que eles:
222 Cadernos de Pesquisa, n. 114, novembro/ 2001
...não estão instalados na plenitude da razão, há um vazio em torno deles para
outros fatos que o nosso saber nem imagina; pois o que é poderia ser diferente; os
fatos humanos são arbitrários, no sentido de Mauss, não são óbvios, no entanto
parecem tão evidentes aos olhos dos contemporâneos e mesmo de seus historiadores
que nem uns nem outros sequer o percebem. (Veyne, 1982, p.152, grifos
meus)
O convite de Foucault é que, através da investigação dos discursos, nos
defrontemos com nossa história ou nosso passado, aceitando pensar de outra
forma o agora que nós é tão evidente. Assim, libertamo-nos do presente e nos
instalamos quase num futuro, numa perspectiva de transformação de nós mesmos.
Nós e nossa vida, essa real possibilidade de sermos, quem sabe um dia,
obras de arte.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

UMA PIMENTA AO MANIFESTO OU REFLEXÕES SOBRE MARÉ, A NOSSA HISTÓRIA DE AMOR


Bem, vou esquecer a introdução com “Olá, Ricardo...” pois nossa relação é muito mais que troca de posts e respostas. É algo alcoólico e real... então vamos logo ao que interessa.

Ontem fui a Cinemateca e assisti “Maré, A Nossa História de Amor”. Digo que o filme em si é uma droga, uma porra de um porre de vinho Chapinha. É um musical baseado em Romeo e Julieta, ocorre na periferia do Rio. Na favela da Maré. A nossa Julieta é filha de um traficante. O nosso Romeo irmão de outro. Um amor impossível, unido pela música e pela dança.

Eu já esperava que fosse um filme terrível sim, fui com a intenção de ver o debate no final da sessão. O debate foi técnico, sobre fotografia e câmera. Bom para entender de algo que sou completamente leigo.

Lá estava um rapaz “infiltrado” no público. Morador da favela Maré. Ele ficou decepcionado com o filme, esperava que mostrassem as partes positivas da favela, pelo menos a realidade de lá. “É um filme ficcional. É uma fantasia, a intenção não é mostrar isso”. Logo respondeu o diretor de fotografia.

Concordo, a intenção do filme é mostrar o amor entre os dois personagens principais. Não há a obrigação de mostrar nada, além disso. O cenário é a favela e a junção dos personagens é o centro de toda a história.

Aí que está. O filme utiliza-se, como tantos filmes atuais, a cosmeticação da pobreza e da fome. A garotada dançando feliz de um lado para o outro. Claro que eles tem direito à felicidade. Mas não vejo pontos de mudança nisso.

A função do artista é mostrar a merda e não apontar a mudança. Incentivar a mudança. Montar uma crítica, fazer a galera pensar. Sim, a arte cria modificações e influencia o povo. E, infelizmente, o que vemos é uma idiotização onde o responsável é a tele-novela e filmes como esse.

Não vejo mudança em glorificar personagens como Glauber e Chico. É necessário sentir inspiração por revolucinários, mas suas obras pouco dizem hoje em dia, na nossa realidade. Talvez seja necessário utilizar Glauber, ou somente suas estéticas. Mas lembre-se que para criar o novo é preciso destruir o velho. “Viva a Eucaristia do funesto para destruir o costume seleto”. Destruir, não. Quis dizer mastigá-lo, ingeri-lo e transformá-lo em influência. Porém, a partir do momento que essa paixão torna-se a principal inspiração, não há mudança.

O que se vê no cinema hoje é um ufanismo à favela e a crítica a “zona sul”. Culpando os usuários pelo armamento da favela, que hip hop é melhor que balé, carregar uma arma é legal etc. É apenas uma troca de papéis. Inclusão dos menos privilegiados ao meio burguês, um pensamento de massa hipócrita.

Onde estão os artistas? Será que estão muito ocupados com resenhas e propagandas do McDonald’s? “O preço do conformismo será a aniquilação da humanidade, e – às vésperas de um apocalipse – existe uma verdadeira escassez de idéias que apontem uma saída”.
Estou cansado de filmes que são novelas de duas horas. Estou cansado da Globo Filmes. Estou cansado. “É preciso vencer essa inércia, e essa paralisia, esse medo de termos idéias, posto que antes de modificar o mundo, uma idéia modifica quem a teve. Abandonar as certezas e aceitar o risco do mistério onde tudo é incerto”.

Volto agora para a Cinemateca. A decepção do morador da Maré. O cara que não pode passar pela “Faixa de Gaza” senão cortam sua cabeça como exemplo aos outros. Ele não deveria estar feliz de ver um filme assim gravado onde ele nasceu? Não. Claro que não. E não estava. Sabe que tudo aquilo não passa de baboseira. Merda burguesa, um olhar classemédiano da periferia. É legal só para quem não é de lá. Só para quem não precisa ficar deitado em baixo da cama para fugir de balas, não apanhar da polícia...

Fora isso. O filme é terrível em tudo. A história é fraca. As músicas são terríveis. Os diálogos preconceituosos e o final shakesperiano não me comoveram, tive que me esforçar para não iniciar uma frenética gargalhada.

O que quero dizer é, há falta de idéias. Há apenas criações comerciais. Não há diferença entre a prostituição e diretores de filmes assim. Há apenas uma. As prostitutas e os michês são sinceros.


- Erick Martorelli


Aí eu pretendo apimentar um pouco essa discussão...

Assistam, ou procurem se informar sobre Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes e teremos uma mitologia grega transportada para as favelas do Rio de Janeiro. Com o filme criticado pelo Neobrazillix temos William Shakespeare transportado para as favelas. Pelo amor... é exatamente isso que nos irrita!

Vinícius de Moraes foi fantástico, o melhor em sua época. E mostrar que na favela também existiam pessoas que tinham a capacidade de se apaixonar foi algo chocante (para a época). É o que acontece hoje quando nos deparamos com o modernismo e sentimos dificuldade em entender por que aquilo é tão crítico e agressor (refiro-me às artes visuais), por exemplo, e esse exemplo eu sempre gosto de utilizar quando falo de modernismo, o mictório exposto e assinado. Hoje em dia tem milhares de babacas que expõem as cuecas falando que é arte, sem apresentar um propósito estético que não se diferencia dos grandes de 1922. E eis que surge um filme com as mesmas intenções de Vinícius de Moraes, só que num período em que esse tipo de discurso já tá pra lá de passado e batido. Valha-me Deus!

Pois é... em tempos de Baudelaire-chique, causar impressão talvez seja observar as coisas com certa objetividade e tentar o máximo possível não ser ideológico. Esses filmes fedem a ideologia, cheiram mal... com certeza que cheiram. De um lado REDE GLOBO, do outro A FAVELA COMO ELA É. Se tua intenção é desenvolver um diálogo, mostre a partir de qual foco esse diálogo foi desenvolvido. Sejamos claros. Agora, não me venha com essa de que tua obra expressa o amor da favela, os corações de dois jovens reprimidos pelo crime do submundo. A verdade é que o filme expressa uma opinião e se sustenta numa realidade que não desfruta da mesma opinião infelizmente.

``É mais fácil jogar lixo em quem já está sujo do que cagar nos pés de quem tá limpo.``

Agora, uma breve reflexão sobre o título do filme, e aí dou brecha a novas apimentadas nas postagens futuras: Maré, NOSSA história de amor.

Reflitamos uns segundos a respeito da primeira pessoa do plural e posso dizer que eu não estou incluído nessa história, alguém aí está?

Sem mais.


- Ricardo Celestino

terça-feira, 15 de abril de 2008

A NECESSIDADE SOCIAL DA ARTE

Fazendo uma breve análise do que foi dito a respeito da arte como necessidade social, muito bem explorada por Neobrazillix, decidi revisar a manifestação e com isso enriqueceê-la um pouco mais, se é que isso é possível.

A priori, diz-se que a única saída é o comportamento criador, a criação, o novo, e aí é traçado em comparação uma falta de criação de nossa sociedade. Eu diria que isso não se limita apenas à arte, mas tem valores que transcendem até mesmo o político e o econômico e atinge as relações sociais do dia-a-dia. As pessoas cada vez mais se apóiam nos ombros alheios para caminharem, e não há certa importância na construção de conhecimento, na utilização do antigo como ponte e inspiração para novas realizações.

Pois é, defendo que isso não se dá exclusivamente na arte, pois temos raízes indestrutíveis de uma nação que se fundou em cima da corrupção e da ganância pelo enriquecimento. Isso fez da nossa educação apenas um manche que possibilite nos guiar para um destino de grandes ouros e tesouros. O mundo todo não está em sintonia com nossas conquistas, mas está para ser explorado, consumido, torrado. E eis que tomamos as mesmas atitudes dos primeiros europeus que popularizaram as terras brasílicas. Faz-se necessário uma reflexão para o grupo. Chega de individualismos!

Escuto Arnaldo Jabor falando que o Brasil sempre foi um país cinematográfico, que possui temas e infindáveis palcos para as telonas, e ainda critica o Oscar, valoriza o Grande Otelo. Pois não tiro méritos de Grande Otelo, não desminto as críticas ao Oscar, mas ponho na mesa uma questão que pode fazer de minhas mãos pernas e de minhas pernas mãos: se incomoda tanto nosso crítico, as situações cinematográficas atuais, junto de todo o palco político e social do país, e se há espaço para se gravar e produzir ótimos trabalhos atualmente, por que o silêncio? Eu resumo silêncio voltando à questão do comportamento criador. Há o momento em que cansa apreciar Glauber Rocha e Chico Buarque, e que de tanto observar a genialidade de ambos, temos a vontade de fazermos nossa história, de também nos posicionarmos e defendermos nossos direitos, nossas vontades e exaltações.

É fato que produções culturais não mudam nada rapidamente. Não trata-se de um assistencialismo, não é um Fome Zero, ou uma justificativa de votos. Mas são as produções culturais, junto de reflexões sociais, de esqueletos movendo-se para se pensar no homem, que formam paradigmas, que quebram padrões.

Logo, é de se imaginar que o incentivo não virá de cima, a menos que os forcemos a nos incentivar. O comportamento criativo vem do indivíduo para assim atingir um grupo. Não temos nenhuma publicação formal, estamos no começo da estrada, e com certeza há aqueles que já caminharam milhas e nos fazem comer poeira, mas aproveitamos o espaço que temos, nos enfiamos nos buracos que nos abrem pouco a pouco, e quanto ao resultado que isso renderá, não importa. Tem-se aqui não a necessidade de publicações e aplausos que se apagarão com o tempo, mas a necessidade de refletir e atualizar, refletir e acrescentar, criticar, berrar, urrar! Ou somente falar, sabendo o que se diz e o que se escuta.

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 14 de abril de 2008


Aprendi a colocar links no blog!!!!
(a foto é para ilustrar minha idiotia)
- Ricardo Celestino

UM PAPO COM A MORTE


Certo dia conversei com a Morte
E ela me disse que a vida é o palco,
E nós somos os autores.

E após alguns cigarros e boas cervejas,
Chegamos juntos a conclusão:
Todo mundo é aparecido demais pra deixar de atuar,
mas tem aqueles que parecem se cansar
diante de tanta atuação concorrente.

E aí fechemos os quadrinhos.
- Ricardo Celestino
``Imagens no banco da frente de um veículo que governa-se ao desgovernado.
Vagarosamente, pouco a pouco,
Antes que cria-se afirmações em teorias,
Nuvens esfumaçam imagens reais.´´
- Ricardo Celestino?

sexta-feira, 11 de abril de 2008

É...


quinta-feira, 10 de abril de 2008

A RESPEITO DOS NEO BRAZILLIX


Imagine um homem completamente sujo fazendo suas intimidades básicas de calça e tudo, em plena avenida paulista, e no reclamar dos transeuntes, suas mãos recolhem o seu produto e atira nas caras alheias como um desvairado retardado. Grita, grita muito. Incomoda com agulhadas agaivéticas.


Aliás, tal termo é essencial para a compreensão do Neo brazillix. Agaivético. Ele falece as estruturas pouco a pouco. É uma ruptura, um vírus que por si só não faria barulho algum, mas entra em choque constante com aqueles viruzinhos bestas que a gente pega na rua. Isso é o fundamento do brazillix: o choque com os zinhos que se encontram perdidos no mundo.
E esse homem sujo certo dia escreveu coisas que são depreciadas a todos presentes. Os pretéritos nem sequer se importam. O que dizer dos futuros?

Não vejo mudança alguma além da transgressão.Corrosiva, de acidez clássicaDa beleza terrívelDo mendigo, do enjeitado, do ladrãoDo encarcerado, do pederastaE a todos de perpétua condenação.

Ele é a margem do que existe, mas uma margem que cutuca e fere os ouvidos. É... em tempos de Baudelaire-chique, vem esse sujeito que ataca merda nas pessoas, e todos clamam: Meu Deus! Pra quê isso? Mas suas calças estão mijadas! Como pode um ser-humano não conseguir segurar as próprias fezes?


E vez ou outra acertam: Esse cara é louco! É o atirador de merdas! Merdas que nos incomodam!


Pois é... chame de merda tudo que quiser, mas a voz desse grande otário a quem vocês tanto xingam tem por trás mais de cem mijados, que por hora é pouco e por hora são bem ignorados.


O engraçado é que as pessoas sempre consomem merda, quando esta se fermenta e envelhece a ponto de ficar sequinha e bem durinha, ideal para uma estante de livros.

Salve Neo Brazillix! Ó atirador de merdas lexicais chocantes! Salve teus poemas que atiram verdades em caras maquiadas.

A NOÇÃO DE ETHOS

O texto não é para ser contemplado, ele é enunciação voltada para um co-enunciador que é necessário mobilizar para fazê-lo aderir 'fisicamente' a um certo universo de sentido. O poder da persuasão de um discurso decorre em boa medida do fato de que leva o leitor a identificar-se com a movimentação de um corpo investido de valores historicamente especificados" (Maingueneau 2005:73).

O autor chama a atenção para o fato de que qualquer discurso escrito possui uma vocalidade específica que se manifesta por meio de um tom: este tom indica quem o disse, permitindo relacioná-lo a uma fonte discursiva e determinar o "corpo do enunciador" - e não do autor efetivo: "a leitura faz emergir uma origem enunciativa, uma instância subjetiva encarnada que exerce o papel de fiador" (Maingueneau ).

Com base em indícios textuais, o leitor constrói a figura do fiador que se investe de um caráter e de uma corporalidade. Estes, por sua vez, apóiam-se em estereótipos sociais, ou seja, em representações sociais valorizadas ou desvalorizadas. Neste caso, o ethos não pré-existe à enunciação, uma vez que é por seu próprio enunciado que o fiador deve legitimar sua maneira de dizer. Diferentemente do que acontece na abordagem clássica, aqui o enunciador não é um ponto de origem estável, que se expressaria desta ou daquela maneira. É nesse sentido que Maingueneau afasta-se da concepção de ethos como procedimento ou como estratégia, na medida em que, para ele, os conteúdos não pré-existem à cena de enunciação que eles assumem: o fiador legitima sua maneira de dizer por seu próprio enunciado e a cena de enunciação é, simultânea e paradoxalmente, aquela de onde o discurso vem e aquela que ele engendra: "São os conteúdos desenvolvidos pelo discurso que permitem especificar e validar a própria cena e o próprio ethos, pelos quais esses conteúdos surgem" (Maingueneau ).

DE UM DÉCIMO ANDAR QUALQUER

Eu não sei se um dia vou poder
Voltar a sorrir para você
Agora que senti
O seu ponto de vista
E seu ângulo de visão.

Tudo que consegui fazer
Foi afastar meu corpo e soluçar um copo d´água.

ps: poema velho... já que agora a onda é atirar pessoas pela janela. É uma homenagem a alguém que já não está tão próxima assim.

=)

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 7 de abril de 2008

REFLEXÕES SOBRE UM ALÉM MODERNIDADE

Banhei-me ao tédio que exala inspiração.
A falta do que fazer faz de um vassalo, suserano,
E de um rei, um plebeu.

Não controle tuas emoções,
mas não jogue teu corpo ao léu.
O suicídio faz de tua alma perdida.

Até os cegos vêem imagens,
distorcendo em funções robóticas.
Admire um mundo,
onde o novo está para aparecer.

Os tolos dizem o que sábios diziam,
mas o conhecimento não é uma abóboda fechada.
Saia, liberte-se
pois o ridículo é o trancafiado,
e o trancafiado é
o comunista, o esquerdista, o nazista, o facista, o socialista, o neoliberal, o integralista, o modernista, o parnasiano, o romântico...

E é tempo de Baudelaire passar vergonha,
ao invés de chocar e inovar.

Mostre tuas feras,
aponte todos os dedos de tuas mãos,
atire pedras lexicais aos ouvintes icônicos.

- Ricardo Celestino

sexta-feira, 4 de abril de 2008


"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico."
"Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém."
''A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.''
''Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.''
- Nelson Rodrigues.
extraído de
Pois é um sujeitinho tão velho e atual quanto coca-cola.
cheers para os olhos pesados!
Ricardo Celestino

quinta-feira, 3 de abril de 2008

NUM FUNDO FUNDO DE MINHA CABEÇA

Eu acordei naquela noite caminhando numa estrada deserta, mas de repente estava no meio de uma multidão que me olhava horrorizada. Minhas mãos, que cavucavam areia, estranhamente tornaram-se vermelhas e eu não me sentia ferido. O bisturi cavucou o peito de um senhor qualquer. A avenida parou até que meu corpo se tornasse um animal bruto prestes a virar sabão num camburão-carrocinha.

Minha cabeça bateu tão forte na água do mar que mais parecia a cela de uma prisão. Eu via minha mãe transformar-se em avó e minha avó em minha irmã. Alguém gritava tanto que não me deixava dormir... e eu não estava com sono e não conseguia parar de gritar... até que o silêncio chegou.

O silêncio veio como um líquido forte que fez baquiar. tava meio abobado ouvindo os conselhos daquela velha garota criança que se projetava como minha mãe-avó. Acabara, por fim, de inventar um novo parente: a mãe-avó.

- Ricardo Celestino

``Em doença mental e Psicologia, Foucault afirma que qualquer que seja o grau e a forma da doença mental, sempre implicará num grau de consciência do doente sobre a sua doença. Desta forma, os doentes t~em consciência de dois mundos e estes são reais para ele. Assim, Foucault afirma: ``A consciência do doente desdobra-se sempre, por si mesma, numa dupla referência; quer ao normal e ao patológico; quer no familiar e ao etranho; seja ainda, ao singular e ao universal; seja, finalmente, à vigília e ao onirismo.´´ Diante desse conflito entre os dois mundos, há uma perturbaçã tanto no mundo circundante quanto no mundo participante, tendo o doente que tentar se situar no tempo e no espaço dos dois mundos; o que se torna extremamente complexo, fazendo com que este doente fique, em muitos casos, decontentado destes - além de - situa-los fora da realidade comum.´´
Tempo e Espaço em Doença Mental e Psicologia
- Catia Ribeiro de Santana Lopes

terça-feira, 1 de abril de 2008


Quantos anos precisamos para perceber
Que estamos nos dirigindo ao caminho errado?
Quanto tempo falta para comprovarmos o certo e o só correto?

E tantos dias, tantas horas...
Tantos crimes em poucos dias, em poucas horas...

E o que é sua existência
Senão borracha em fósforo em canhões
é o nada,
Que se divide em três partes semióticas
Que horrorizam teu semblante

A existência existe para aqueles...
Que só querem um pouco mais de sobreposição,
Que não querem enfim...
Um fim.

E triste aqueles olhos que se viraram na madrugada
E um dia me acolheram de espectador
Agredindo meu corpo,
Meu corpo palestrante.

- Ricardo Celestino

(poema às pessoas que não fizeram nada de especial, pois perderam o caminho da estrada.)

domingo, 30 de março de 2008

NECESSIDADE DE PROSAR

É complicado...
ia eu colocar aqui uma figura ilustrando um texto descritivo de uma das pessoas mais importantes da minha vida e esse maldito computador não deixa eu abrir uma janela para inserir imagens. Então, decidi escrever qualquer coisa só para falar que escrevi hoje.

Bem, hoje meu dia foi muito complexo, cheio de atividades...
acordei.......... comi........ dormi...... acordei...... comi...... e agora irei dormir logo logo.

Abraços!

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 24 de março de 2008

AOS REMOS

Rema rema rema,
que remar não há problema

rema rema rema
até encontrar o que se algema,
até ver que o que se tema
é na verdade um grande tema
disfarçado em bom poema
abolindo o uso do trema,
vendo-se o caos sem lema.

Rema rema rema
Que suar não há problema.

- Ricardo Celestino

quarta-feira, 19 de março de 2008

VIRTUALIDADE


``Eu fiz um esboço do que quero para Finnigans Dublin. Ele terá a minha idade e será tão viciado quanto eu em pornografias virtuais. Irá freqüentar tudo quanto é buteco virtual... dizem que isso não afeta muito o corpo real, então é interessante curtir a vida de algum jeito. Aqui chocolates, lá orgias intermináveis. Espero que não tenha nenhum tipo de monitoria na faculdade. Não será agradável imaginar um casal rindo das minhas infecções virtuais.``


- trecho do livro ``Nightbytes city: O diário de Fontana Kaos.´´



- Ricardo Celestino

sexta-feira, 14 de março de 2008

ADORNO E A CULTURA DE MASSA

Theodor Adorno, filósofo e sociólogo alemão, projetou-se como um dos críticos mais ácidos dos modernos meios de comunicação de massa. Ao exilar-se nos Estados Unidos, entre 1938 e 1946, percebeu que a mídia não se voltava apenas para suprir as horas de lazer ou dar informações aos seus ouvintes ou espectadores, mas fazia parte do que ele chamou de industria cultural. Um imenso maquinismo composto por milhares de aparelhos de transmissão e difusão que visava produzir e reproduzir um clima conformista e dócil na multidão passiva.
Indo para a América

Theodor Adorno (1903-1969)
"A civilização atual a tudo confere um ar de semelhança"M.Horkheimer e T.Adorno – a Indústria Cultural, 1947

Theodor Adorno – cujo centenário de nascimento celebra-se neste 11 de setembro – nascido em Frankfurt, na Alemanha, em 1903, foi daqueles tantos intelectuais, cientistas, artistas, compositores e escritores alemães, que, na década de 1930, por serem de descendência judaica ou por inclinarem-se pelo socialismo, ou ambas as coisas, foram obrigados a emigrar para os Estados Unidos, naquilo que foi, talvez, a maior evasão de cérebros registrada na história contemporânea. Ele pertencia a um grupo de pensadores extremamente sofisticado que fazia parte da famosa Escola de Frankfurt, fundada em 1923, e que fora constrangido a sair do país nos anos seguintes da ascensão do nacional-socialismo ao poder.

É de se imaginar o contentamento dele quando, ainda na Suíça, no outono de 1938, recebeu um inesperado telefonema de Londres do seu particular amigo e parceiro, Max Horkheimer. Era um convite para que ele fosse à América para assumir uma pesquisa a serviço da Universidade de Princeton, a mesma que, em 1933, convidara Albert Einstein para integrar o seu corpo docente.
Tratava-se de um projeto e tanto, pois a Radio Research Projet queria saber tudo sobre os ouvintes norte-americanos. Nova Iorque provocou-lhe uma estranha reação. Chocou-o a convivência dos “palácios colossais...dos grandes cartéis internacionais”, com sombrios edifícios erguidos para os pequenos negócios, formando, no geral, um ar de cidade desolada. Nem mesmo o plano municipal de levar gente a morar nos subúrbios mais afastados, dando as residências um ar de individualidade, o consolou.

A estandartização americana

Para ele, um europeu refinado que passara boa parte da sua vida cultivando a música modernista de Alban Berg e, depois, a de Schönberg e sua atonalidade incidental, a América pareceu-lhe toda igual. Contraditoriamente, o país que mais celebrava e enaltecia a singularidade, a cada um procurar ser algo bem diferente dos demais, não parava de produzir e imprimir tudo idêntico, tudo estandartizado. A imensa rede de atividades que cobria toda a cidade era regida apenas pela ideologia do negócio. Numa sociedade onde as pessoas somente sorriam se ganhavam uma gorjeta, nada escapava das motivações do lucro e do interesse. Aprofundando-se no estudo da mídia norte-americana, entendeu que por detrás daquele aparente caos, onde rádios, filmes, revistas e jornais, atuavam de maneira livre e independente, havia uma espécie de monopólio ideológico cujo objetivo era a domesticação das massas. Quando o cidadão saía do seu serviço e chegava em casa , a mídia não o deixava em paz, bombardeando-o, a ele e à família, com programas de baixo nível, intercalados com anúncios carregados de clichês conformistas, comprometendo-o com a produção e o consumo.

Não se tratava, para ele, de que aqueles sem fim de novelas e shows de auditórios refletissem a vontade das massas, algo autêntico e espontâneo, vindo do meio do povo. Um anseio que os profissionais da mídia apenas procuravam dar corpo, transformando-os diversão e entretenimento. Ao contrário, demonstrava, isso sim, a existência de uma poderosa e influente indústria cultural que, de forma planejada, impingia aos seus consumidores doses cavalares de lugares comuns e banalidades, cujo objetivo era ajudar a reproduzir “o modelo do gigantesco mecanismo econômico” que pressionava sem parar a sociedade como um todo.

Lá, na América, não havia espaço neutro. Não ocorria uma cisão entre a produção e o lazer. Tudo era a mesma coisa, tudo girava em função do grande sistema. Dessa forma, qualquer coisa que causasse reflexão, uma inquietação mais profunda, era imediatamente expelida pela industria cultural como indigesta ou impertinente. Adorno, terminada a Segunda Guerra, voltou para a Europa, para Frankfurt, atarefado em reabria a sua escola de sociologia. Morreu em 1969, arrasado com a humilhação que estudantes ultra-esquerdistas o submeteram, em plena sala de aula, durante a revolta de 1968/9.

extraído de: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2003/09/08/000.htm
Transubstanciação da Dor e da Perversão
(ou tributo a Jean Genet)

''Só a liberdade pode tomar inteligível uma pessoa em sua totalidade, mostrar essa liberdade em luta contra o destino, primeiro esmagada por suas fatalidades, depois voltando-se contra elas, digerindo-se pouco a pouco (...) prova que o gênio não é o dom, mas a saída que se inventa nos casos desesperados, descobrir a escolha que um escritor faz de si mesmo, da vida e do sentido do universo."

- Jean-Paul Sartre.
Não vejo mudança alguma além da transgressão.
Corrosiva, de acidez clássica
Da beleza terrível
Do mendigo, do enjeitado, do ladrão
Do encarcerado, do pederasta
E a todos de perpétua condenação.

O destino libertário
Entre párias e renegados
Aconselhados ao pecado
O direito de viver.

A voz agônica do excluído
Gritando para o lado escuro da Lua
E aos raios de Sol negros
Pois onde há falsa luz
Há mais amargura.

Das palavras e imagens sem pretensão categórica
Para dar aos viciados um sincero coração
E ir além da imaginação masturbatória
E esconderijos pra fugir da purificação.

O Evangelho transmutado
Descortina um salto de liberdade possível
A demonstração máxima da liberdade humana
É uma infâmia concebível.

Viva a Eucaristia do funesto
Para destruir o costume seleto.

Viva a eutanásia dessa involução
Pois não vejo mudança alguma além da transgressão.
- Erick Martorelli
``No seu mais importante sentido, entendemos por 'sociedade' uma espécie de contextura formada entre todos os homens e na qual uns dependem dos outros, sem exceção; na qual o todo só pode subsistir em virtude da unidade das funções assumidas pelos co-participantes, a cada um dos quais se atribui, em princípio, uma tarefa funcional; e onde todos os indivíduos, por seu turno, estão condicionados, em grande parte, pela sua participação no contexto geral. ``
Max Horkheimer e Theodor W. Adorno
Vale lembrar que por mais inútil que nós somos, algum proveito há de ser utilizado de toda nossa prosa. As reflexões realmente não fritam bifes nem criam curas para doenças, mas podem ser uma ajuda para uma diminuída no assistencialismo humano.
- Ricardo Celestino

quinta-feira, 13 de março de 2008

MEMÓRIAS DE UM TRIÂNGULO ROXO



Trecho da pequenina-novela – e faz-se necessário dizer "pequenina":

Entendam vocês que estão lendo um cara que sabe das coisas. Embora muito já tivesse ouvido falar, conheci Adolf Hitler em uma padaria de Viena, não me lembro exatamente em qual delas. Naquela época éramos adolescentes, mas Adolf não tinha espinhas. E lá estava ele, tristonho em uma mesa, debruçado, balbuciando maldições, imerso em terrível desgraça por não acertar o ponto de um suflê de queijo.

Notem que naquela época eu trabalhava entregando panfletos para as Testemunhas de Jeová e posso afirmar-lhes de maneira categórica que tínhamos uma divisão de cozinheiros, muitos deles especializados em suflês. Eu estava certo de que seu erro era na manteiga e fontes confiabilíssimas comentavam á boca pequena que Adolf, quando deprimido, besuntava-se em gordura vegetal. O motivo era desconhecido.

É sabido que tal problema perdurou no âmago de Adolf Hitler até seus últimos dias. Mesmo em sua mais conhecida obra, Mein Kampf, escrita anos depois do que narro, é possível identificar traços de uma séria inadaptação ao uso de laticínios na cozinha alemã, mais do que isso, um forte desejo de estar nos fogões ao invés de estar no palanque de ditador. Em certo trecho de sua obra podemos ler:

"Quando, nas minhas horas livres, eu recebia lições de culinária na confeitaria de Lambach, tinha a melhor oportunidade de extasiar-me ante as pompas festivas das brilhantíssimas vitrines de restaurante. Assim como meu pai via na posição de pároco de aldeia o ideal na vida, a mim também a situação de cozinheiro pareceu a aspiração mais elevada. Pelo menos temporariamente isso se deu."

Então neste dia, neste fatídico dia em que Adolf Hitler chorava sobre a mesa e menestréis passavam pela calçada, ocorreu-me ajudá-lo de alguma maneira. Posso recordar que entre suas lágrimas e a mesa havia um prato de bolinhos de isca de peixe. Coloquei minhas mãos sobre aqueles ombros e incitei:
- É sabido sobre o seu problema com suflês, homem. É o que se comenta em Viena. Não se desespere, veja, os erros de um bom cozinheiro são revertidos em boas experiências, e os sabores de seus pratos terão o sangue deste sofrimento. O sofrimento do povo germânico, vivendo ele aqui na Áustria ou na Alemanha. A aflição de não saber usar o queijo, a manteiga, o leite, frutos destas tão puras vaquinhas, será compensado quando enfim fores bom cozinheiro, chanceler no manuseio destes produtos.

Permitam-me dizer que naquela época o apelido de Adolf era "Relaxadão". De acordo com observações de Nino Brandemburgo, o mais bagunceiro da classe, a maneira como ele sentava-se fazia jus á anedota.
Muito bem, muito bom, todo relaxadão sentado naquela cadeira, Adolf olhou-me com pesar nos olhos e disse:

-Acho que, bem, só se for alguém muito bom mesmo, o homem, em geral, não se deve ocupar com a produção de suflês antes de sua maioridade. Estou em constante experiência, cavalheiro. Não tenho culpa, não corro eu o perigo de um dia mudar de atitude sobre questões essenciais. Será eterna a minha paixão com o Pão Ázimo, por exemplo. Meio copo de azeite e temos a maravilha da cozinha judaica. A propósito, deliciosos estes bolinhos de isca...
- Mas cavalheiro, porque choras então? Porque os soluços? Serão falsos os boatos sobre sua incapacidade culinária?
- Ora, ora, acontece que aos meus suflês falta espírito, entende? Espírito! Qualquer essência, faltam-lhe isto.

- Eu achava que faltava manteiga! Ó, quão precipitadas foram as minhas conclusões.

Neste instante, Adolf Hitler, o Relaxadão, salta da cadeira de maneira abrupta, toca-me os cabelos e com empolgação (e certa força) beija-me no rosto. Engasgando com as próprias palavras, eloqüente e tomado por incrível ânimo (digno de seus posteriores discursos) diz a mim as seguintes palavras:

- Manteiga! Manteiga! Falta-me Manteiga! Este é o espírito meu caro cavalheiro, a manteiga! Colhida do puro leite das vacas de nossos bosques. O leite e os fabricantes de laticínio da Alemanha deverão continuar a ser no mundo estimados pela sua beleza e sabor, inspirando-nos a um ânimo nobre! Cavalheiro, sou eternamente grato a ti e a todas as coisas que me disse. No erro de um suflê, alí há o sangue sofrido deste povo. Estas sublimes tetas de nossas vacas, por anos humilhadas e colhidas em baldes imundos de povos estrangeiros, de povos ciganos.

Adolf toma neste instante uma expressão preocupada, como se uma dúvida houvesse acabado de chegar á sua cabeça. Senta novamente á mesa com o olhar fixo em algum horizonte o qual não alcancei. Nino Brandemburgo em seu livro (nunca publicado) "Relaxadão: Os segredos de um Hitler que eu, eu Nino Branbemburgo, conheci", cita-nos de maneira interessante que "Relaxadão estava sempre a vislumbrar qualquer horizonte inexistente, o que segundo Lothar Pirulito (seu melhor amigo durante a fase da alfabetização) dizia se tratar de "um devaneio sobre a vívida seara imaginária que ele carregava em seu âmago"."

Bem, naquela época não tive acesso aos manuscritos do Sr. Brandemburgo, desta maneira, não informado sobre a vívida seara imaginária, questionei Adolf sobre aquele brusco pesar que tomou-lhe o olhar. Ao terminar de ouvir minha indagação seus olhos marejaram enquanto descrente replicava:

- Cavalheiro, note, e quanto aos porcos?

"Porcos?" questionei sem entender:

- Sim cavalheiro, e quanto aos porcos? Campestres suínos de nossa gentil pátria alemã. Nossos leitões assados em cerveja, lombinhos com alho temperado, costeletas salpicadas de salsa e dispostas sobre batatas, nosso Fricadele que banha pãezinhos tão saborosos!

E então me veio á cabeça que na cozinha experimental de Hemmerman, a Testemunha de Jeová Vegetariana, havia uma placa disposta sobre os fogões dizendo "Não comam porcos e nem usem seus rabos como adorno". Intriguei-me com a situação e indaguei o futuro ditador sobre "o problema dos porquinhos", no que ele me respondeu tão eloqüente quanto estava quando falávamos de bovinos:

- Há quem os rejeite?

- Veja cavalheiro, é sabido que Joseph Hemmerman e Laureana Polvilhão, ambos membros da ala vegetariana das Testemunhas de Jeová, rejeitam a idéia de que porcos devam ser consumidos como iguaria. É sabido também que judeus são proibidos de consumirem sua carne e...

- Também os judeus são proibidos?

- Sim, é o que dizem.

- E por qual motivo?

- Talvez pelas unhas fendidas e os cascos divididos ao meio. Talvez pelo rabo e...

- O que o ponto de vista judeu vê na estrutura biológica suína?

Neste momento passei a roer as unhas e a fitá-las de maneira desafiadora, enquanto continuava a falar com Relaxadão, a fim de me despedir:

- Cavalheiro, me seria útil discorrer sobre a proibição da carne suína aos descendentes de Moisés, Salomão, o que o valha, mas de todo modo preciso partir, ainda tenho uma porção de publicações para distribuir e é melhor que eu me apresse antes desta terrível chuva que se aproxima. Não te preocupes Adolf com a rejeição de nossas salsichas, são elas a marca de nosso povo de modo que não deveriam estar presentes em outras culinárias, compreende?

Aqui eu volto a olhar para a mesa e percebo que Adolf não está mais lá. O trepidar da porta me faz entender que saíra de forma brusca. Então, paguei por sua conta ao simpático rapaz do balcão e segui com os meus afazeres daquele dia. Foi uma tarde chuvosa em Viena, e mesmo por entre becos úmidos e seus abrigos nunca mais naquela cidade vi Adolf Hitler.
- Rennan Martens
=)

...



E duas cabeças viciadas em Quentin Tarantino pensam em fazer algo com a Revolta da Vacina.

RETOMANDO NIGHTBYTES CITY

Nightbytes city é uma série de três volumes. Não há muito o que dissertar sobre a série ainda, pois está em processo de criação.

1º Volume - Nightbytes city - O diário de Fontana Kaos;
2º Volume - Nightbytes city - O segredo de Rycoom;
3º Volume - Nightbytes city - A rainha do submundo.

Aí vai um pedaço do primeiro capítulo do diário de Fontana Kaos.

``entrego meu corpo e minha alma ao Estado.Que este faça dele o melhor que puder e o que desejar.Te amo Vênus, te odeio prosa romântica.``

1 de maio

Uma chuva vermelha fere a veste de todas as pessoas as deixando totalmente nuas. A pele foifeita de alma. A veste são morais sociais.

Andava entre feras e entre feridos. Os primeiros, consumidos pela ignorância, os segundos,vítimas da preguiça. Ego não existe sem centrismos, por isso sou egocêntrico, num mar deartistas egocentristas.

Acordei com vontade de vomitar. Meus pulmões andam carregados de substânicas de meus cigarros baratos. Compro com um fornecedor da rua 13. As ruas são números assim como os transeuntes. Quando fui embora do bar já era tarde. Bebi demais.

Todos festejaram minha entrada no curso de sociologia. Parece que somos dez na cidade inteira. As pessoas não querem mais a reflexão. Algumas aulas serão através do mundo virtual. Criarei o Finnigans Dublin, em homenagem a um de meus modernos prediletos. Ele será eu no mundo acadêmico virtual. Não o tratarei aqui como eu, em primeira pessoa, mas como um outro eu, com outra personalidade e outras manias.

O mundo acadêmico anda com muitas novidades. Algo como ficção científica invade as salas de aula. A biblioteca já não tem o cheiro de mofo... aliás, o mofo é virtualmente inserido em nossos cérebros contaminando nossos pulmões apenas para dar um toque de realismo cancerígeno. Os slogans publicitários apoiam: fume virtualmente! Fumar no mundo virtual é uma dependência saudável que não afeta o corpo.

O Estado financia meu curso. Fazem questão de jogar o favor em minha cara a todo instante: se tiver aproveitamento menor que setenta por cento, será encaminhado à psicologia. Provavelmente Finnigans será azul para diferenciar dos demais, ou talvez não terá um dos membros por contenção de despesas.

(...)

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 10 de março de 2008

O SUICIDA

E estranhamente, ao amanhecer do dia, Lucas estava morto num quarto de motel. Nenhuma pista de assassinato. Vingança? Contra Lucas? Ele que sempre fora tão correto, o acadêmico estudante das letras. Impossível. Mas morrera. E para a tristeza da família, como um suicida. Decidira aproveitar seus últimos minutos ao lado de uma prostituta e depois, entregar-se a um veneno-sacro que custou-lhe a vida. E por que? Quais eram tuas motivações?

Era o gênio das argumentações e tinha os contextos em sua língua-ponta. Sabia como ninguém criar versos que amoleciam as pernas de qualquer colegial. A morte para ele era algo a se começar a pensar depois de seus sessenta anos, aposentado como o escritor do ano, vendendo seu último best-seller. Foi, sem nem ter um único conto publicado. E ainda, deixou pessoas que o amavam tanto, deixou tesouros que ele tanto privara e cuidara. Não, aquilo não poderia ser verdade.

Ele frequentava todos os dias uma lanchonete perto da faculdade. Diziam que ali ficava com um copo de suco, ou cerveja, escrevendo algumas letras. Tinha uma banda. Tinha um blog. Tinha um grupo de pesquisas sobre literatura estrangeira o qual ele chefiava. Gostava muito dos simbolistas. Aquilo era um pouco demoníaco... mas eram só textos. Não, ele não era tão influenciável pelos clássicos. Conhecesse Lucas, perceberiam que ele tinha atitudes de vanguarda.

A vanguarda... era para ele ser enovador dentro do meio artístico, era para ser um célebre dentro das críticas lingüísticas... mas decidira terminar como um oculto... um só-mais-um que não aguentou... isso não é do Lucas... GENTE! POR QUE O LUCAS? ISSO NÃO É DO LUCAS!

Ele que tanto queria a imortalidade, terminou como só um dramático shakespeariano sem motivos. A prostituta que estava com ele nem soube de sua morte, pois minutos depois se arranjara com outro. Os amigos choraram... sua mãe chora... Lucas não... Lucas suicidou Lucas.

- Ricardo Celestino