segunda-feira, 5 de maio de 2008

MINHAS ANOTAÇÕES NO 12º CONGRESSO BRASILEIRO DE LÍNGUA PORTUGUESA E 3º CONGRESSO INTERNACIONAL DE LUSOFONIA - IP-PUC/SP

A língua portuguesa possui hoje duas ortografias: a lusitana e a brasileira. A ortografia lusitana é base para as nações lusófonas, exceto o Brasil, sendo lusófonas as nações que tem como língua materna ou segunda língua a portuguesa.

Existe uma proposta que visa ligar o galego à lusofonia, uma vez que existem características lingüísticas próximas entre o português luso, o brasileiro e o galego.

Toda e qualquer reforma lingüística visa respeitar a unidade social que há na língua e refletir em cima das semelhanças ortográficas. A questão ortográfica da língua portuguesa tem quase um século (desde 1911, que deu-se a primeira reforma ortográfica de Portugal, sem a consulta de nenhuma outra nação lusófona).

Segundo Malaca Casteleiro, a língua (ortografia) não é só Portugal, mas todos os usuários dela. Por isso a necessidade de uma reforma com o consenso de todas as nações.

O QUE HÁ DE COMUM ENTRE PORTUGAL E BRASIL NAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS?

Hoje, brasileiros aceitam suprimir as consoantes mudas e não articuladas.

Sempre houve a reflexão de um consenso entre a Língua Portuguesa brasileira e a Língua Portuguesa lusitana.


(um resumo breve da palestra de abertura do 12º Congresso de Língua Portuguesa e 3º Congresso de Lusofonia da PUCSP, ministrada por João Malaca Casteleiro da Academia de Ciências de Lisboa)


Logo que acabou a palestra de abertura eu pensei: Nossa! dá pra criar uma baita reflexão sobre a reforma ortográfica e a norma culta, já que ambas visam o respeito das unidades sociais da língua, mas acabam, de certa forma, sendo as responsáveis pela criação de inúmeros preconceitos lingüísticos graças a ´´bons gramáticos´´ que refletem a língua ainda com o discurso de certo e errado.

Fica como sugestão de leitura O preconceito lingüístico, de Marcos Bagno, e uma olhada bem minusciosa nas entrelinhas da Gramática da Língua Portuguesa, 2º grau, de Ulisses Infante e Pasquale Cipro Neto. Pra quem não tem amigos e assistiu o Altas Horas nesse sábado e ouviu o discurso do Professor Pasquale a respeito da língua portuguesa como um armário com inúmeras roupas, vale a pena ler os dois livros.


AHHh! vale ressaltar que mesmo o Brasil tendo uma ortografia que difere, em pouquíssimas palavras, da lusitana, ainda não podemos dizer que exista a Língua Brasileira e a Língua Portuguesa. Aliás, essa é outra discussão que dá muito pano pra manga e exige muito mais pesquisa do que a simples comparação de pronúncias.


Ainda no congresso, Evanildo Bechara trouxe uma reflexão bem interessante sobre gramática. Aí vai minhas anotações:


Estudo sobre a Introdução da Investigação Científica da Gramática Brasileira

- Said Ali foi um gênio na construção da gramaticografia portuguesa no Brasil.

Said Ali: - professor de alemão;

- desenha as regiões do Brasil (1905);

- nascido em Petrópolis (mãe brasileira e padrasto alemão);

- língua materna alemã.

- trouxe para a Gramática Portuguesa novidades metodológicas do curso de Fernand de Saussure.

Reflexão sobre a sincronia e a diacronia na gramática.

- Gramática Elementar: Visa à construção lingüística do indivíduo.

``Descrição de uma língua só pode ser feita sincronicamente.``

- Chama sua gramática de Lexicologia do Português Histórico e afirma que a língua deve ser documentada, pois ela inicia-se falada e daí passa para a escrita. A gramática trata das formas do português em sua documentação escrita.

- como se pode fazer uma gramática histórica sem latim? (As críticas que envolvem a gramática de Said Ali)

- Teoria de Saussure de que a descrição é um estágio lingüístico e o que Said Ali faz é comparar dois estágios lingüísticos sendo o primeiro o português atual, o segundo um português mais antigo.

- Proximidade com a competência lingüística do estudante, já que o Latim fora tirado da grade curricular das escolas.

- Propõe uma nova divisão das fases históricas da Língua Portuguesa.

- Said Ali reflete até a fase do Português Moderno de Machado de Assis, sendo suas últimas leituras Júlio Dinis e Eça de Queiroz.

- O português contemporâneo começa a ser explorado por outros pesquisadores, seguindo como base a gramática de Said Ali.

INTRODUÇÃO DA FONÉTICA SINTÁTICA

- Said Ali é o primeiro a refletir sobre a fonética na gramática, no capítulo referente às dificuldades com a sintaxe (problemas de entonação)

- Até o séc. XVII permanecia a próclise, mas a partir dos séculos seguintes, há uma pronomização em Portugal, intensificando a sílaba tônica.

- Os Lusíadas possui em sua métrica a mesma cadência rítmica do português brasileiro hoje.

CONCLUSÃO DE BECHARA

- Said Ali é um mestre que deve continuar a ser refletido nas gerações posteriores assim como Fernand de Saussure. Ele traz para a gramática da língua portuguesa as primeiras reflexões sobre a dicotomia da língua (fala e escrita), observando-a como um sistema lingüístico.


(Evanildo Bechara, ABL - UFF - Liceu Literário Português, palestrante no 12º Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa e 3º Congresso Internacional de Lusofonia da PUCSP)


E assistir Bechara sem dúvida é a melhor coisa do mundo! O cara manda bem demais e te motiva a pesquisar e estudar, por que você sai de lá se sentindo extremamente idiota e burrão. Vale como sugestão de leitura o Curso de Lingüística Geral de Fernand de Saussure e uma consultada na gramática de Evanildo Bechara que traz reflexões interessantes não só sobre a dicotomia da língua como a real função que uma gramática deve ter (subsídio na hora de estar praticando a língua em uma devida situação).

Celso Cunha também tem uma gramática boa pra quem pensa em revisar textos. É sempre bom ter essas gramáticas em casa, mas cuidado para não comprar uma gramática histórica, por que ela não vai te servir pra nada! rs...


Bem, pra encerrar, trouxe também algumas reflexões do Luís Carlos Travaglia a respeito do ensino das teorias lingüísticas em sala de aula.


- Teorias Lingüísticas e sala de aula – uma ponte possível

COMO APLICAR TEORIA LINGÜÍSTICA EM SALA (sendo teoria lingüística o ensino da língua materna ou gramática descritiva)

I – Bases para ir da teoria às atividades em sala de aula

- Objeto de ensino;

- Estruturação e composição das atividades;

- O conhecimento teórico da língua é fundamental para o professor.

Meta: desenvolvimento da competência comunicativa.

- Menos ênfase à teoria gramatical.

- Necessidade em saber usar a língua.

- Possibilidades significativas dos recursos lingüísticos.

- Competência comunicativa: usar recursos da língua de modo adequado numa situação devida.

- Língua como forma de interação.

- O significado vai além da seqüência lingüística.

- Efeito de sentidos que pode ser produzido num texto. O QUE?, POR QUEM?, EM QUAL SITUAÇÃO?, QUAL OBJETIVO?

``Menos importante desenvolver do aluno a teoria gramatical do que mostrar sua função inserida num texto.´´

A TEORIA É UMA TENTATIVA DE DESCREVER ALGO DA LÍNGUA, E DEVE SER USADA COMO SUBSÍDIOS

- Há mais que uma descrição para o mesmo ato lingüístico.

- Há possibilidades de construções de novas teorias lingüísticas.


(Luíz Carlos Travaglia, Univerdade Federal de Uberlândia, 12º Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa e 3º Congresso Internacional de Lusofonia)

e enfim, eu achei toda essa reflexão muito interessante, por que todas as palestras que eu assisti deixaram aberto uma coisa: continuem estudando sempre, por que a ciência, embora pareça já não ter mais campos de pesquisa ou espaço para coisas novas, está sempre abrindo campos de discussões interessantes que podem muito bem influenciar na prática das pessoas. O congresso é realizado de dois em dois anos. Esse é o segundo que eu participo e saio de lá mais motivado que quando sai do primeiro. Deveríamos cobrar esse tipo de evento em nossas faculdades também. Isso valoriza quem pensa em seguir uma carreira que não é lá muito valorizada hoje em dia: tanto o professor de letras quanto o pesquisador dos fenômenos que envolvem a linguagem.


- RICARDO CELESTINO

Nenhum comentário: