segunda-feira, 10 de março de 2008

O SUICIDA

E estranhamente, ao amanhecer do dia, Lucas estava morto num quarto de motel. Nenhuma pista de assassinato. Vingança? Contra Lucas? Ele que sempre fora tão correto, o acadêmico estudante das letras. Impossível. Mas morrera. E para a tristeza da família, como um suicida. Decidira aproveitar seus últimos minutos ao lado de uma prostituta e depois, entregar-se a um veneno-sacro que custou-lhe a vida. E por que? Quais eram tuas motivações?

Era o gênio das argumentações e tinha os contextos em sua língua-ponta. Sabia como ninguém criar versos que amoleciam as pernas de qualquer colegial. A morte para ele era algo a se começar a pensar depois de seus sessenta anos, aposentado como o escritor do ano, vendendo seu último best-seller. Foi, sem nem ter um único conto publicado. E ainda, deixou pessoas que o amavam tanto, deixou tesouros que ele tanto privara e cuidara. Não, aquilo não poderia ser verdade.

Ele frequentava todos os dias uma lanchonete perto da faculdade. Diziam que ali ficava com um copo de suco, ou cerveja, escrevendo algumas letras. Tinha uma banda. Tinha um blog. Tinha um grupo de pesquisas sobre literatura estrangeira o qual ele chefiava. Gostava muito dos simbolistas. Aquilo era um pouco demoníaco... mas eram só textos. Não, ele não era tão influenciável pelos clássicos. Conhecesse Lucas, perceberiam que ele tinha atitudes de vanguarda.

A vanguarda... era para ele ser enovador dentro do meio artístico, era para ser um célebre dentro das críticas lingüísticas... mas decidira terminar como um oculto... um só-mais-um que não aguentou... isso não é do Lucas... GENTE! POR QUE O LUCAS? ISSO NÃO É DO LUCAS!

Ele que tanto queria a imortalidade, terminou como só um dramático shakespeariano sem motivos. A prostituta que estava com ele nem soube de sua morte, pois minutos depois se arranjara com outro. Os amigos choraram... sua mãe chora... Lucas não... Lucas suicidou Lucas.

- Ricardo Celestino

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