terça-feira, 4 de março de 2008

SOLIDÕES

SEM TÍTULO

Uma nuvem se abriu como um véu caindo.

Uma doce sensação dedor se formando novamente,

inundando meus olhos com o poder do inconcebível.

Meus olhos que senão ásperos ou frios como deveriam

cerrrados por não querer ver a nostalgia se gerando no âmbito do lar vazio e empoeirado.

Talvez seja melhor dessa forma, apenas a nostalgia do inconcebível, do impossível, do que fora sonhado desde a infância, do olhar tímido da escola até o olhar machucado da velha juventude.

Os pulsos e a pele e os poros não conhecem o inconcebível, o incondicional sentimento direcionado ao meu olhar... apenas um calor que se apossou de mim desenfreadamente.

E a resposta obtive há pouco, pairando na janela de meu quarto...

Queimou-me a alma descobrir tal precoce missão soprada em minha alma.

Os anjos deixaram um ramalhete quando nasci, um ramalhete de dor, ao poeta que chorava ao nascer, a existência fadada, marcada...

um ramalhete de dor, para eu não esquecer que vim pra isso: SOLIDÃO.

- Eliéser Baco

A SOLIDÃO É BEM MELHOR QUE AMAR

E o mundo inteiro me fez só

sete feridas-chagas que não param de sangrar.

A solidão é bem melhor que amar...

Viver de crimes e pecados

não faz minha mente descansar

A solidão é bem melhor que amar...

Descobrir o mundo inteiro

cercado por dinheiro

me fez

enfim

me acomodar

A solidão é bem melhor que amar...

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 3 de março de 2008

REFLEXÕES SOBRE O USO DA LINGUAGEM

``(...), as mudanças lingüísticas se expressam em fatos reais. Acontece, por conta disso, que os usuários da língua manifestam todos os sentimentos lingüisticamente. Em geral, não objetivam alterar a língua, mas colocá-la em uso efetivo; razão por que a língua muda no uso, o que leva à inovação e à mudança.``

``O interesse que o objeto língua conquistou no interior das ciências humanas, ultimamente, tem sido de tal importância que impulsionou o aparecimento de múltiplas abordagens, ampliando o campo da Lingüística e da História. Embora em bases diferentes, observamos um consenso entre os estudiosos, na medida em que tomam a língua em sua função de interação social, como processo e produto da atividade histórica do homem. Como processo e produto histórico, queremos dizer que a língua resulta de cada instante de interação entre o passado e o presente em meio ao contexto sociocultural.``


- Jarbas Vargas Nascimento – Historiografia Lingüística: Rumos Possíveis.
Ilumina-se Ana e apaga-se Mário.

ANA – Enforca-te ó bebum! És o resultado de uma zorra! És um maldito que trouxe toda uma discórdia! Foi de ti que começou este caos! Seu sem métrica! Seu sem nada!

MÁRIO – Engula a própria língua, sua rapina! Eu não sou da tua corja de perdidos! Rapinas melosas que choram no quarto escondido, no buraco dos sem fortuna! Dos sem nada! Dos simbólicos! Eu sou aquele que grita! Aquele que insulta e aquele que muda!

ANA – e quem há de entender tua palavra? Tua mudança muda é burra! Tua maluquice só é compreensível em tua cabeça! Moderno!

MÁRIO – enfie as métricas no buraco que não toma sol!

ANA – Pois isso sim não é atitude de acadêmico!

Apagam-se as luzes.
- trecho da peça MUNDO CONSUMADO, de Ricardo Celestino.

COMPRA E VENDA




Compra e venda humana
Num plano feio e horizontal
Pessoas olhando os pés
Descalços no asfalto quente

Buzinas, gritos e ofertas
São macacos vendendo macacos
A macacos que não querem bananas

Compre por cruzados baratos
Um corpo que lhe dê prazer
Compre por alguns punhados
Uma mente que lhe dê cifrões
Compre por poucos tostões
A corja de fúteis canções!

Compra e venda humana,
É o que guia nossos corações
Refrão de terror e ódio
Leve os de melhores pulmões!

- Ricardo Celestino

REFLEXÕES REGIONAIS

A mão fria do vento sulista

Justo quando a mão fria do cotidiano alisava-me os cabelos
E a voz do meu eu não queria voz alguma por perto.

Jogava os dados do destino com olhar ao mar dantesco
Enquanto o vento menino sulista trazia esperança nas nuvens

Junto ao cântico matinal ao banho soturno das madrugadas
E o pedaço de mim que sente queria apenas a poética solidão

Justo quando meu olhar ardia somente na diária poluição
Eu senti saudade de chamar quem nunca chamei,

Justo quando a mão fria
E a voz do meu eu Jogava os dados do destino;
Eu senti saudade de chamar quem nunca chamei.

Eliéser Baco

INSPIRAÇÃO ( à moda Andrade)

Sampa que comove-me tal vida e morte...
dos amores, desilusões originais

Arlequim com trajes ricos e pobres,
Cinza e ouro.
Perfumes de Paris em ruas de barro
Palestras e lirismos vagos

Sampa que comove-me tal vida e morte...
Os galicistas que estrapolam a própria língua,
A língua América!

Ricardo Celestino

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A PAIXÃO ETERNA DE UM ARLEQUIM

Um arlequim.
Não queria estar sentindo
A paixão de um arlequim,

Solidão.

Ser tão infeliz e tratadoComo um sorriso de palhaço
Que começa numa constante obrigação
E termina numa tristeza infunda,
Afastamentos de sina solidão,

Desgraça.

A única próxima de quem ama
É lhe passando o nariz de palhaço,
Ensinando a servir de bobo toda a corte,
Alastrando ainda mais
Essa paixão louca e desgraçada
De um palhaço triste e doente,

Paixão.

E quando não houver mais batom vermelho em meu nariz
Triste e umedecido,
Sentarei no banco de uma praça,
Darei milho a pombos famintos,
Encontrarei aquela que causa fundos furos em corações,
De sorriso arlequinal, de alegria arlequinal,
E serei presenteado novamente
Com o nariz vermelho
De sina bobo,
E minhas vestes tornar-se-ão vermelhas,
Minha pele branca como papel,
E meu sorriso,
Meu sorriso...

Arlequim.

(Poema baseado na história de um curta-metragem escrito por mim e Erick Martorelli. Infelizmente o roteiro ainda não saiu do diabo do papel por motivos metafísicos.
O curta trata da história de uma garota que, cansada de sua vida cotidiana, acaba por chamar atenção de um palhaço depressivo que não consegue ser enxergado por ninguém. Apaixonado, o palhaço tenta mil maneiras de se aproximar da garota, enquanto um narrador extremamente participativo na história conta a vida de uma jovem camponesa e sua relação com o palhaço Arlequim. Pois é, nesse universo um tanto surreal visamos questionar coisas sobre o amor e o comportamento da sociedade embasado no que a velha Itália tem a nos oferecer.)

Sugestão de Socorro: Bem que uma alma generosa poderia se oferecer para ler nosso roteiro e dar uma força para gravarmos nosso primeiro curta. =)

REFLEXÕES EM CIMA DO VELHO CHICO


``Se não fizerdes, ou nisto puserdes maliciosamente dilação, certifico-vos que com a ajuda de Deus eu entrarei poderosamente contra vós e vos farei guerra por todas as partes e maneira que puder, e vos sujeitarei ao jugo e obediência da Igreja e de Sua Majestade e tomarei vossas mulheres e filhos e vos farei escravos, e como tias vos venderei, e disporei de vós como Sua Majestade mandar e tomarei vossos bens e vos farei todos os males e danos que puder...``

- Daniel Vidart, Ideología y realidad de América, Montevidéu, 1968.

`` O fato das crenças e práticas sociais nos penetrarem do exterior não implica em que as recebamos passivamente, sem lhes trazer modificações. Ao pensar as instituições coletivas, ao assimila-las, nós as individualizamos, dando-lhes, de certa maneira, nossa marca pessoal, é assim que, ao pensar o mundo sensível, cada um de nós lhe empresta um colorido especial, e que indivíduos diferentes se adaptam de modo diferente a um mesmo meio físico(...)``

- Émile Durkheim, As regras do método sociológico, 2º.ed., Companhia Nacional, São Paulo, 1960.

Chico Buarque realiza em seu poema Roda-viva uma crítica contra os padrões sociais, políticos e econômicos impostos pelo governo e pela sociedade da época. A artificialidade do exterior humano faz com que muitas pessoas se ocultem numa casca artificializada e aparentemente perfeita, mas cujo o interior é vazio e triste. O ser-humano, para o poeta, é um grande dependente da Roda-viva, que se configura como uma abafadora da voz ativa e uma instituição conservadora frente a revolução humana.
É fato que as atuais relações sociais entre as pessoas exigem uma organização tanto internalizada, que varia de pessoa a pessoa, mas possui uma característica comum de respeito ao próximo, como também externa, do meio governamental para a população, que surge como uma entidade que deve sanar as necessidades da sociedade e servir somente a ela.

``(...) A vida social deriva de uma dupla fonte: a semelhança das consciências e a divisão do trabalho social. O indivíduo é socializado no primeiro caso porque, não tendo individualidade própria, confunde-se no seio de um mesmo tipo coletivo, o mesmo acontecendo com seus semelhantes; no segundo caso, ele é socializado, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se distingue e, por conseguinte, depende da sociedade que resulta de sua união.``
- Durkheim


Chico Buarque tem suas distinções como ser social ameaçadas e, com isso, sente-se distante do meio coletivo. Porém, essa ausência do meio coletivo não é característico apenas de Chico Buarque, mas de muitos outros artistas que tiveram suas particularidades criticadas tanto pela sociedade quanto pela instituição governamental, o que acarretou numa formação de uma sociedade cultural e artística destes ``isolados do mundo``.

Podemos aprender muito com o VELHO CHICO, hã?!

sugestão de leitura: Leiem 1968, de Zuenir Ventura.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Escrita Insônia

E do mundo sabem o que foi dito
Em tópicos estranhos e ainda vazios?

O mundo caminha com pés
E precisa de pedais.
Num canto ele é cinza,
Noutro ele é ouro,
E o Arlequim ressaltado por Andrade
Pula como um saci sem pernas
Aleijado a se arrastar.

- Ricardo Celestino

contato: ricardo.celestino2003@gmail.com