sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

REFLEXÕES EM CIMA DO VELHO CHICO


``Se não fizerdes, ou nisto puserdes maliciosamente dilação, certifico-vos que com a ajuda de Deus eu entrarei poderosamente contra vós e vos farei guerra por todas as partes e maneira que puder, e vos sujeitarei ao jugo e obediência da Igreja e de Sua Majestade e tomarei vossas mulheres e filhos e vos farei escravos, e como tias vos venderei, e disporei de vós como Sua Majestade mandar e tomarei vossos bens e vos farei todos os males e danos que puder...``

- Daniel Vidart, Ideología y realidad de América, Montevidéu, 1968.

`` O fato das crenças e práticas sociais nos penetrarem do exterior não implica em que as recebamos passivamente, sem lhes trazer modificações. Ao pensar as instituições coletivas, ao assimila-las, nós as individualizamos, dando-lhes, de certa maneira, nossa marca pessoal, é assim que, ao pensar o mundo sensível, cada um de nós lhe empresta um colorido especial, e que indivíduos diferentes se adaptam de modo diferente a um mesmo meio físico(...)``

- Émile Durkheim, As regras do método sociológico, 2º.ed., Companhia Nacional, São Paulo, 1960.

Chico Buarque realiza em seu poema Roda-viva uma crítica contra os padrões sociais, políticos e econômicos impostos pelo governo e pela sociedade da época. A artificialidade do exterior humano faz com que muitas pessoas se ocultem numa casca artificializada e aparentemente perfeita, mas cujo o interior é vazio e triste. O ser-humano, para o poeta, é um grande dependente da Roda-viva, que se configura como uma abafadora da voz ativa e uma instituição conservadora frente a revolução humana.
É fato que as atuais relações sociais entre as pessoas exigem uma organização tanto internalizada, que varia de pessoa a pessoa, mas possui uma característica comum de respeito ao próximo, como também externa, do meio governamental para a população, que surge como uma entidade que deve sanar as necessidades da sociedade e servir somente a ela.

``(...) A vida social deriva de uma dupla fonte: a semelhança das consciências e a divisão do trabalho social. O indivíduo é socializado no primeiro caso porque, não tendo individualidade própria, confunde-se no seio de um mesmo tipo coletivo, o mesmo acontecendo com seus semelhantes; no segundo caso, ele é socializado, porque, tendo uma fisionomia e uma atividade pessoais que o distinguem dos outros, depende deles na mesma medida em que se distingue e, por conseguinte, depende da sociedade que resulta de sua união.``
- Durkheim


Chico Buarque tem suas distinções como ser social ameaçadas e, com isso, sente-se distante do meio coletivo. Porém, essa ausência do meio coletivo não é característico apenas de Chico Buarque, mas de muitos outros artistas que tiveram suas particularidades criticadas tanto pela sociedade quanto pela instituição governamental, o que acarretou numa formação de uma sociedade cultural e artística destes ``isolados do mundo``.

Podemos aprender muito com o VELHO CHICO, hã?!

sugestão de leitura: Leiem 1968, de Zuenir Ventura.

Um comentário:

Eliéser Baco disse...

O VELHO Chico, que deixou marcas a ver na contemporaneidade de nossoas vidas, ainda é flecha e alvo, referência e caminho para muitos que querem descobrir a genialidade que pode existir com as palavras e na forma musical que ela pode ter.

Ele conseguiu transformar a visão de alguns como nós para melhor o que hoje em dia ocorre de maneira inversa pela ideologia dominante. É mais cômodo achar que isso aqui, esse paiseco é bom por não ter furacão e por ter novelinha. É um fiasco que podemos mudar com nossas palavras.