terça-feira, 17 de março de 2009

CAPÍTULO I - CONHECENDO VIEIRINHA





Eu sei que eu to errado em ficar fumando maconha a tarde inteira, mas eu não tenho muito lá o que fazer... tinha uma casa do lado que tocava um samba chato, e de vez em quando pra eu não ficar escutando saia por aí, pelas ruas do meu bairro. Um dia me chamaram de canto e falaram, meu querido rapaz gostaria de um cigarro para acalmar tua alma? Eu disse não obrigado, era muito novo para fumar, mas depois de quinze oferecidas comprei algumas pelotinhas e levei pra casa. Minha mãe trabalha, meu pai trabalha, minha irmã trabalha, eu de vez em quando arrumo uns bicos, mas nada muito sério.
Não sou viciado, é que falar de maconha logo no início da um choque. É ilícito né?! Aí surgem os estereótipos, e vocês jamais vão tirá-lo da cabeça. Eu trabalho na noite, e aí surge outro estereótipo. Um dia eu tava indo trabalhar e aqui perto de casa tem uns travestis fazendo a vida e eu parei pra perguntar-lhes se eles conheciam uma entrada fácil para a Castelo, aí a vizinha ficou de olho e achou que eu estava combinando um programa. Bom, tudo bem, isso deve acontecer direto com eles, porque esses caras são sabidos demais. Eles conseguem orientar o ser mais perdido do mundo a pegar um bom atalho, e fora que são bons de papo, gente finíssima. Bem, eu preciso lhes dizer que escrevo por fluxo de consciência, assim é mais interessante, uma vez que eu não tenho muito tempo pra ficar revisando as coisas que faço. É, viu, vocês que me xingam de vagabundo não sabem como minha vida é corrida.
Ontem mesmo eu estava dirigindo em plena chuva com o vidro do carro aberto. Sabe como é, estava um calor desgraçado e mesmo com aquela tempestade, não dava pra ficar de vidro fechado sem ar condicionado. Eu tenho um chevete velho e ele tem um sonzinho bom. Gosto muito das músicas de Seu Jorge, embora acha que o Brasil pra música foi... quer dizer, ta indo, mas a gente começa a ver as pessoas envelhecendo e os novos só nessa de macaquear, de se importar. Eu sou a pessoa mais importada do mundo, se for pensar em ufanismo. Eu não sei o hino nacional, me confundo numas partes, mas também não dá pra dizer que os militares são as pessoas mais brasileiras do Brasil, certo? Eu conheço um que mistura Steinheger com fogo paulista, este sabe conciliar bem o rondó e o forró.
Eu estudei fotografia por um tempão. Participo de inúmeras oficinas literárias e gosto de cinema. Vez ou outra faço uns projetos de arquitetura e amo automação industrial. Ah, adoro ler sobre crítica literária e daria maravilhosas aulas de lingüística. Gosto de concertar computadores também e meu currículo é um tanto vazio. A cidade nos prega algumas peças de vez em quando, eu entrei na entradinha que o meu amigo me orientou mas tinha mudado a mão da rua e acertei um caminhão de feira.
Meu nome é Daniel Vieira, me chame de Vieirinha. Também toco violão, faço versos pra serem musicados. Eu escrevo num blog chamado Abanheem por que esta é a língua que as pessoas de hoje em dia falam... tô certo?


- Ricardo Celestino

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