quinta-feira, 7 de maio de 2009

ENGARRAFAR-SE

A literatura do novo milênio é a literatura engarrafada.

Gênios, gênios, gênios por todo o lado,
Aguardando as mãos mortais lhe acalentarem para o despertar.
Gênios engarrafados,
Tão bons no que fazem,
e pobremente limitados.

Gênios engarrafados acabam escravizados,
a viver a vida engarrafados,
no aguardo...

calma lá que já vem,
calma lá que já já ele vem.

- Ricardo Celestino

quarta-feira, 6 de maio de 2009

VIRADA ACULTURAL

VIRADA CULTURAL

Faça-se já,
Enquanto cá
Já vai tudo indo, obrigado.

Fico feliz em reconhecer que temos um pai que nos escuta,
Obrigado por realizar-me, não deixar-me muda,
Falar, já!

Mesmo todas as outras ao mesmo tempo,
No sábado...

Sábado é dia de folia,
A escravidão começou de uma conversa jogada fora,
E foi, foi , foi.

Alegria, alegria, alegria,
Envenenada, alegria.

Vamos movimentar tudo!
Todos os esqueletos,
E volto a agradecer Deus,
Por fazer-me ouvir.

Um palanque pra quem gosta de percevejos,
Dia-a-dia é chato,
O bacana é uma vez ao ano.

Jesus Cristo obrigado,
Teus percevejos desfrutaram resultados,
Mesmo barrados,
Segundo a lei da eletricidade básica.

Maracatu com sorvete e batida eletrônica,
Rock n´ Roll com samba-rock e partido alto,
Funk com Rio de Janeiro em Estação da Luz,
Zumbis massacrando, festivais de curta com reggae a noite inteira,
Teatro Municipal, Tim Maia e Raul Seixas,
Antropofagia cultural induzida,
Tiro pra todos os lados,
Culto a cultura,
Cultura que não se faz todo dia,
Que não é dia-a-dia.

Com vocês,
Virada cultural,
Only this and nothing more!

- Ricardo Celestino

NOVA ALEGRIA....

ALEGRIA ALEGRIA

Você ouviu?
Você está me ouvindo mesmo?
Alegria não é uma coisa que se compra em supermercado,
Nem se faz bacharelado de alegria.

Alegria não vêm na química do teu ópio,
Nem na dose de teu veneno.

Alegria não está na fila do desempregado,
Nem na gravata do executivo,

Alegria não mora ali, pra que você possa bater, abrir, entrar e dizer,
Bom dia!

Não, não se come alegria,
Não se bebe alegria,
Não se faz sexo com a alegria,
Não se reza alegria.

Nem se caminha contra o vento para ter alegria,
Eu estou aqui caminhando a todo momento,
Você também.

Não é por que teu barraco é de papel,
Ou você mora num bordel,
Ou num condomínio fechado.
Ah! Tem gente pior e mais alegre!

Nem aqui, nem ali, nem na China,
Que você encontra bolachinha chamada Alegrol.

Você pode até traçar uma rotina,
Tentar um planejamento, um gráfico,
Fazer uma poesia, literaturar,
Mas nunca, nunca,
Irá desfrutar inteiramente de alegria
Nessa bosta de São Paulo.

- Ricardo Celestino

terça-feira, 24 de março de 2009

CAP IV - MEDO DA MORTE

(ENCONTREI ESTA CARTA ESCRITA NAS COISAS DO MEU FINADO AVÔ. ELE MORREU EM 1999 DE UMA DOENÇA DEGENERATIVA. MINHA AVÓ MORREU DO CORAÇÃO, IGUAL A MÃE DO MEU AVÔ.)


Caminhava devagar mesmo tendo pressa, é que minhas pernas já não respondiam da forma que deveriam. Eu precisava chegar o mais rápido possível, o telefone tocava e ninguém atendia e ela era cardíaca, teve uma recaída a pouco tempo atrás. O desespero nessas horas toma conta de tal forma que nem me lembrei de minha deficiência vivida, de meus pés mancos e tortinhos... porém, eu andava devagar, muito devagar pela gravidade do que minha imaginação levava ao que tinha acontecido.
Passamos por tantas coisas juntos. Duas ditaduras, isso foi o suficiente para nos orgulharmos de vivermos até hoje sempre juntos. Formiguinhas que éramos, ainda tentávamos dar boas mordidas nos pés do homem gigante que era toda aquela estrutura complexa. Bom, ela se estende até hoje se formos reparar... e nos conhecemos no momento em que Getúlio Vargas subiu pela primeira vez. Era novíssimo, ela também, e mineiros. Ah! Mas não nutríamos ódio nenhum pelo rapaz, mesmo porque já vivíamos em São Paulo numa maloca na Mooca, e foi graças a Getúlio, dizia meu avô, que conseguimos uma casinha própria para morar. A família dela conseguiu também, na rua de cima. E as coincidências fizeram nossos corações se encontrarem.
Depois de estarmos bem estabelecidos numa casinha própria, eu me investi como pedreiro, ajudando meu pai. Ela, ajudava os pais também numa fábrica de sapatos. Construimos juntos uma imobiliária, mas no momento em que minha mãe caiu doente, vendemos sem pensar duas vezes todas as casas para mandá-la pra fora e cuidar de seu coração.
Minha mãe morreu. E ficamos com três casas só. Uma pra cada irmão e deu-se uma brigaiada danada na família. Ela sempre do meu lado, e agora eu preciso correr. Eu fui até o centro da cidade comprar laticínios e que luxo o meu, tem uma casa destas pertinho de onde a gente se ajeita, mas eu prefiro caminhar até o centro. Deixei ela sozinha, ela que nunca saiu um segundinho do meu lado. O problema é que eu fico sozinho também...
Ela estava ali, sentadinha na sua poltrona. Minha velha. O ouvido não é mais como era antigamente. Duas ditaduras. A primeira, me deixou manco, a segunda lhe deixou surda. Melhor que não escute, do que escutar mas não conseguir alcançar.

quinta-feira, 19 de março de 2009

CAP III - OLHOS GRANDES, PEIXE PEQUENO

(ESTAVA DEITADO NA CAMA E MEU CELULAR COMEÇOU A TOCAR, AÍ LEMBREI QUE TINHA QUE POSTAR O TEXTO DE HERMETO. MEU VELHO, DESCULPE, MAS NÃO DEU TEMPO PRA FAZER TUA ARTE NÃO. MAS TA AÍ, PALAVRAS FORMAM IMAGENS!)


Começou a dar tudo certo quando passei em um concurso para trabalhar num setor público de São Paulo. Eu gosto de manter tudo no sigilo, então vou dizer aqui que meu nome é Hermeto Coelho, só para ninguém caçar meus registros e conseguir me prejudicar, mas continuando, seria responsável pelo pagamento de funcionários. Exerci com grande presteza este cargo e devido a conquista de confiaça de meu chefe, assumi a chefia no departamento, em que estou hoje fazem três anos. Tudo bem, me informaram que eu serei afastado do cargo pois trai a confiança de meu chefe. Cargo de confiança, desconfiança, volto a cuidar da folha de pagamento amanhã.
Tudo ótimo, foi um confronto ideológico, acontece. Na realidade eu já venho cavando minha própria cova a um bom tempo, pois vinha reparando nas idas e vindas dos meus funcionários. Sempre fui sistemático e com a chefia, a coisa me subiu sabe?! Senti responsável por qualquer gateiro ou gatuna que sabotasse a rotina.

- Olha lá! Desgraçado saiu mais cedo de novo! Vocês estão vendo?

E ainda existia aquelas pessoas sorrateiras, peçonhentas, que consomem a energia de um ambiente com uma simples ligação e como um diabinho lhe tentava ao que você queria atuar. E aí lá ia eu, como uma panela de pressão, enchendo de informação, enchendo de informação e de repente: BUM!

Meu namorado me convidou para um teatro moderno na Paulista. Ele assistiu com uns amigos e disse que tem cenas de sexo explícito. É bom que eu me divirta, mas não conseguirei parar de pensar na minha nova rotina. Amanhã, às sete horas, voltarei a bater a folha de pagamento.

Ah, a desgraçada me substituirá. O capeta de minha consciência, junto com aquela víbora, e um punhadinho de ideologia de mercado. Vocês vejam bem, graças a consciência democrática, igual a todos, ferro e fogo, aqui se fez aqui se paga, Antigo Testamento Bíblico, e eu to na bosta.

Obrigado Vieirinha por expor meus pensamentos. Você é uma pessoa muito bacana. Ele prometeu fazer uma imagem legal misturando meu ofício e meu humor e ainda com algumas figuras do tipo, a pessoa desgraçada que me fez quase perder o emprego. Obrigado, de coração. Ele é um artista, este Vieirinha.

quarta-feira, 18 de março de 2009

CAPÍTULO II - A GRANDE ARTE DE AMAR

(ME DESCULPEM MAS NÃO CONSEGUI FAZER O POSTER DA PEÇA DE ANGÉLICA, UMA VEZ QUE MEUS BASEADOS ACABARAM. - Vieirinha)



Eu estava de mãos dadas com meu namorado quando ouvi um baita dum estrondo. De repente, uma gritaria e um brutucu do tamanho de uma montanha queria acertar a cabeça de um motorista maluco que vinha pela contramão e acertou o caminhão em cheio. Um amigo do brutucu tentou segurá-lo, mas ele não conseguiu e o rapaz que estava meio inconsciente no carro nem se deu conta da origem dos tapas que tomava. De repente umas pessoas curiosas começaram a separar o brutucu e ele se acalmou. Eu e meu namorado ajudamos o motorista maluco e eu percebi que ele sangrava um pouco na testa. Perguntei se era pelos tapas ou pela batida, ele disse que já não sabia de nada e falei se ele não queria ir à delegacia fazer uma ocorrência. Na realidade, ele disse que fugia um pouco de policiais e preferia deixar como estava. Assumiu o erro.
O carro de meu namorado estava próximo daquela rua, mas ele não ofereceu levar o homem ao hospital pois estávamos atrasados. Ele tinha trabalho e eu precisava estudar umas páginas da peça que entraria em cartaz no sábado. Resolvemos deixar assim, outros o ajudariam. Desejamos-lhe boa sorte e continuamos andando.
Já começávamos a ensaiar no palco que seria o espetáculo e cheguei atrasada como sempre. Sentei num puff vermelho, que era parte do cenário da peça e tirei meu jeans. Minha personagem era uma ninfeta que se apaixonaria pelo namorado da irmã. Interessante que nesta peça teria uma cena de sexo explícito que chocaria o público. Não tinha censura de idade, então as mães ficariam horrorizadas e os filhos impressionados em ver o que viam na internet mas nunca ao vivo. O difícil era concentrar para gozar no momento certo. Tudo isto exigia certo cuidado, certa concentração...
Ensaiei três horas. Minhas falas variavam entre frases filosóficas a cerca do que era o relacionamento no mundo moderno e gemidos de prazer pela habilidade sexual do namorado de minha irmã. O interessante é que a minha irmã nos assistia durante o ato e também tinha cenas reais de masturbação. Essas coisas chocariam o público. A intenção era justamente perceber se eles observariam o apelativo ou a obra como um todo. O sexo era um poema dentro da poética toda que era a obra. Bem, nosso diretor era um tanto maluco, podem ter certeza.
Sai do ensaio e fui jantar com o pessoal. Meu namorado me encontraria no bar depois do expediente dele. Nós nos conhecemos numa de minhas peças. O título da peça que ensaiávamos era A Grande Arte de Amar.
Ah, aquele rapaz do trânsito meu namorado acabou ficando com dó e ajudando ele a ir ao hospital. Por coincidência eles moram quase na mesma rua, no mesmo bairro. O nome dele é Vieirinha e ele tem um blog e prometeu colocar algumas coisas sobre a peça com uma chamada bem atraente e pornográfica. Assim as pessoas pensam que trata-se ou de uma obra pornográfica ou de um teatro maluco com idéias novas. Não conheço ninguém que tenha feito teatro com cenas pornográficas, mas acho que isto é inovador, lembrando que é uma coisa que todo mundo faz e a modernidade anda perdendo seus tabus ao falar disso publicamente. Heranças da idade média!
Meu nome é Angélica Lemos, sou atriz e tenho vinte e cinco anos.

terça-feira, 17 de março de 2009

CAPÍTULO I - CONHECENDO VIEIRINHA





Eu sei que eu to errado em ficar fumando maconha a tarde inteira, mas eu não tenho muito lá o que fazer... tinha uma casa do lado que tocava um samba chato, e de vez em quando pra eu não ficar escutando saia por aí, pelas ruas do meu bairro. Um dia me chamaram de canto e falaram, meu querido rapaz gostaria de um cigarro para acalmar tua alma? Eu disse não obrigado, era muito novo para fumar, mas depois de quinze oferecidas comprei algumas pelotinhas e levei pra casa. Minha mãe trabalha, meu pai trabalha, minha irmã trabalha, eu de vez em quando arrumo uns bicos, mas nada muito sério.
Não sou viciado, é que falar de maconha logo no início da um choque. É ilícito né?! Aí surgem os estereótipos, e vocês jamais vão tirá-lo da cabeça. Eu trabalho na noite, e aí surge outro estereótipo. Um dia eu tava indo trabalhar e aqui perto de casa tem uns travestis fazendo a vida e eu parei pra perguntar-lhes se eles conheciam uma entrada fácil para a Castelo, aí a vizinha ficou de olho e achou que eu estava combinando um programa. Bom, tudo bem, isso deve acontecer direto com eles, porque esses caras são sabidos demais. Eles conseguem orientar o ser mais perdido do mundo a pegar um bom atalho, e fora que são bons de papo, gente finíssima. Bem, eu preciso lhes dizer que escrevo por fluxo de consciência, assim é mais interessante, uma vez que eu não tenho muito tempo pra ficar revisando as coisas que faço. É, viu, vocês que me xingam de vagabundo não sabem como minha vida é corrida.
Ontem mesmo eu estava dirigindo em plena chuva com o vidro do carro aberto. Sabe como é, estava um calor desgraçado e mesmo com aquela tempestade, não dava pra ficar de vidro fechado sem ar condicionado. Eu tenho um chevete velho e ele tem um sonzinho bom. Gosto muito das músicas de Seu Jorge, embora acha que o Brasil pra música foi... quer dizer, ta indo, mas a gente começa a ver as pessoas envelhecendo e os novos só nessa de macaquear, de se importar. Eu sou a pessoa mais importada do mundo, se for pensar em ufanismo. Eu não sei o hino nacional, me confundo numas partes, mas também não dá pra dizer que os militares são as pessoas mais brasileiras do Brasil, certo? Eu conheço um que mistura Steinheger com fogo paulista, este sabe conciliar bem o rondó e o forró.
Eu estudei fotografia por um tempão. Participo de inúmeras oficinas literárias e gosto de cinema. Vez ou outra faço uns projetos de arquitetura e amo automação industrial. Ah, adoro ler sobre crítica literária e daria maravilhosas aulas de lingüística. Gosto de concertar computadores também e meu currículo é um tanto vazio. A cidade nos prega algumas peças de vez em quando, eu entrei na entradinha que o meu amigo me orientou mas tinha mudado a mão da rua e acertei um caminhão de feira.
Meu nome é Daniel Vieira, me chame de Vieirinha. Também toco violão, faço versos pra serem musicados. Eu escrevo num blog chamado Abanheem por que esta é a língua que as pessoas de hoje em dia falam... tô certo?


- Ricardo Celestino