quarta-feira, 13 de maio de 2009

LIBERDADE

Eu preciso escrever um texto de onze linhas sobre liberdade, e fico imaginando o quão cruel é limitar, questionar, oprimir e direcionar o desejo de outras pessoas. Se quiser beber que vá, se quiser fumar que vá, teus erros acabam sendo teus erros, infelizmente afetando a vida de pessoas próximas, mas teus erros são teus erros e no final das contas quem viverá bem ou mal com eles é você mesmo. Na verdade é o homem-ácido que corrói e varre nosso espaço como varreu civilizações e multidões com questionamentos de sim e não, certo e errado, bem e mal. Vassorinnhas mágicas que não deixam rastros, mas sabem como que é, um dia você tem que abri-las e limpá-las, senão a poeira toda cai no meio da sala e a sujeira de hoje vai ser amarrotada com toda aquela sujeira carregada de outras limpadas. Pena esta limpeza ser tão desnecessária às vezes.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

SOLIDÃO

Nossos instintos são tão fracos
Que nem meu reflexo eu percebo
Observo em meu retrato
Anos de desassossego.

Solidão, não me deixe
A companhia de minha sombra
É um cabide a apoiar meus vestidos.
Eu preciso de um corpo, sim.
E quem é que não precisa?
Mas solidão não me deixe,
Mesmo nas horas íntimas,
De acompanhar-me eternamente.

Vidros e vidraças são feitos para serem quebrados.
Estilhaça-me coração de papel,
Veja, a pele envidraçada,
O que tenho a oferecer
Nada!

Rompa-me e me corrompa,
Mas solidão não me abandone!
NADA...


- Ricardo Celestino


(um dos poemas do pseudo livro, ainda em .doc no meu computador, O Homem Engarrafado! rs)

Seguindo ainda a idéia de que as pessoas se engarrafam o tempo inteiro, permanecem enclausuradas e fechadas e parece que o mundo moderno é quem emancipa essa coisa toda. A rotina, as decepções, os altos comparados com os baixos, acabam empedrando nossos corações e aí, no fim de tua vida, ualá gênio engarrafado! Todo o conhecimento e tua história consumida e você preso naquela garrafa sem desfrutar de nada, nada, nada, nada, nada.

- Ricardo Celestino, despedindo-se de seu inferno astral em contagem regressiva.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ENGARRAFAR-SE

A literatura do novo milênio é a literatura engarrafada.

Gênios, gênios, gênios por todo o lado,
Aguardando as mãos mortais lhe acalentarem para o despertar.
Gênios engarrafados,
Tão bons no que fazem,
e pobremente limitados.

Gênios engarrafados acabam escravizados,
a viver a vida engarrafados,
no aguardo...

calma lá que já vem,
calma lá que já já ele vem.

- Ricardo Celestino

quarta-feira, 6 de maio de 2009

VIRADA ACULTURAL

VIRADA CULTURAL

Faça-se já,
Enquanto cá
Já vai tudo indo, obrigado.

Fico feliz em reconhecer que temos um pai que nos escuta,
Obrigado por realizar-me, não deixar-me muda,
Falar, já!

Mesmo todas as outras ao mesmo tempo,
No sábado...

Sábado é dia de folia,
A escravidão começou de uma conversa jogada fora,
E foi, foi , foi.

Alegria, alegria, alegria,
Envenenada, alegria.

Vamos movimentar tudo!
Todos os esqueletos,
E volto a agradecer Deus,
Por fazer-me ouvir.

Um palanque pra quem gosta de percevejos,
Dia-a-dia é chato,
O bacana é uma vez ao ano.

Jesus Cristo obrigado,
Teus percevejos desfrutaram resultados,
Mesmo barrados,
Segundo a lei da eletricidade básica.

Maracatu com sorvete e batida eletrônica,
Rock n´ Roll com samba-rock e partido alto,
Funk com Rio de Janeiro em Estação da Luz,
Zumbis massacrando, festivais de curta com reggae a noite inteira,
Teatro Municipal, Tim Maia e Raul Seixas,
Antropofagia cultural induzida,
Tiro pra todos os lados,
Culto a cultura,
Cultura que não se faz todo dia,
Que não é dia-a-dia.

Com vocês,
Virada cultural,
Only this and nothing more!

- Ricardo Celestino

NOVA ALEGRIA....

ALEGRIA ALEGRIA

Você ouviu?
Você está me ouvindo mesmo?
Alegria não é uma coisa que se compra em supermercado,
Nem se faz bacharelado de alegria.

Alegria não vêm na química do teu ópio,
Nem na dose de teu veneno.

Alegria não está na fila do desempregado,
Nem na gravata do executivo,

Alegria não mora ali, pra que você possa bater, abrir, entrar e dizer,
Bom dia!

Não, não se come alegria,
Não se bebe alegria,
Não se faz sexo com a alegria,
Não se reza alegria.

Nem se caminha contra o vento para ter alegria,
Eu estou aqui caminhando a todo momento,
Você também.

Não é por que teu barraco é de papel,
Ou você mora num bordel,
Ou num condomínio fechado.
Ah! Tem gente pior e mais alegre!

Nem aqui, nem ali, nem na China,
Que você encontra bolachinha chamada Alegrol.

Você pode até traçar uma rotina,
Tentar um planejamento, um gráfico,
Fazer uma poesia, literaturar,
Mas nunca, nunca,
Irá desfrutar inteiramente de alegria
Nessa bosta de São Paulo.

- Ricardo Celestino

terça-feira, 24 de março de 2009

CAP IV - MEDO DA MORTE

(ENCONTREI ESTA CARTA ESCRITA NAS COISAS DO MEU FINADO AVÔ. ELE MORREU EM 1999 DE UMA DOENÇA DEGENERATIVA. MINHA AVÓ MORREU DO CORAÇÃO, IGUAL A MÃE DO MEU AVÔ.)


Caminhava devagar mesmo tendo pressa, é que minhas pernas já não respondiam da forma que deveriam. Eu precisava chegar o mais rápido possível, o telefone tocava e ninguém atendia e ela era cardíaca, teve uma recaída a pouco tempo atrás. O desespero nessas horas toma conta de tal forma que nem me lembrei de minha deficiência vivida, de meus pés mancos e tortinhos... porém, eu andava devagar, muito devagar pela gravidade do que minha imaginação levava ao que tinha acontecido.
Passamos por tantas coisas juntos. Duas ditaduras, isso foi o suficiente para nos orgulharmos de vivermos até hoje sempre juntos. Formiguinhas que éramos, ainda tentávamos dar boas mordidas nos pés do homem gigante que era toda aquela estrutura complexa. Bom, ela se estende até hoje se formos reparar... e nos conhecemos no momento em que Getúlio Vargas subiu pela primeira vez. Era novíssimo, ela também, e mineiros. Ah! Mas não nutríamos ódio nenhum pelo rapaz, mesmo porque já vivíamos em São Paulo numa maloca na Mooca, e foi graças a Getúlio, dizia meu avô, que conseguimos uma casinha própria para morar. A família dela conseguiu também, na rua de cima. E as coincidências fizeram nossos corações se encontrarem.
Depois de estarmos bem estabelecidos numa casinha própria, eu me investi como pedreiro, ajudando meu pai. Ela, ajudava os pais também numa fábrica de sapatos. Construimos juntos uma imobiliária, mas no momento em que minha mãe caiu doente, vendemos sem pensar duas vezes todas as casas para mandá-la pra fora e cuidar de seu coração.
Minha mãe morreu. E ficamos com três casas só. Uma pra cada irmão e deu-se uma brigaiada danada na família. Ela sempre do meu lado, e agora eu preciso correr. Eu fui até o centro da cidade comprar laticínios e que luxo o meu, tem uma casa destas pertinho de onde a gente se ajeita, mas eu prefiro caminhar até o centro. Deixei ela sozinha, ela que nunca saiu um segundinho do meu lado. O problema é que eu fico sozinho também...
Ela estava ali, sentadinha na sua poltrona. Minha velha. O ouvido não é mais como era antigamente. Duas ditaduras. A primeira, me deixou manco, a segunda lhe deixou surda. Melhor que não escute, do que escutar mas não conseguir alcançar.

quinta-feira, 19 de março de 2009

CAP III - OLHOS GRANDES, PEIXE PEQUENO

(ESTAVA DEITADO NA CAMA E MEU CELULAR COMEÇOU A TOCAR, AÍ LEMBREI QUE TINHA QUE POSTAR O TEXTO DE HERMETO. MEU VELHO, DESCULPE, MAS NÃO DEU TEMPO PRA FAZER TUA ARTE NÃO. MAS TA AÍ, PALAVRAS FORMAM IMAGENS!)


Começou a dar tudo certo quando passei em um concurso para trabalhar num setor público de São Paulo. Eu gosto de manter tudo no sigilo, então vou dizer aqui que meu nome é Hermeto Coelho, só para ninguém caçar meus registros e conseguir me prejudicar, mas continuando, seria responsável pelo pagamento de funcionários. Exerci com grande presteza este cargo e devido a conquista de confiaça de meu chefe, assumi a chefia no departamento, em que estou hoje fazem três anos. Tudo bem, me informaram que eu serei afastado do cargo pois trai a confiança de meu chefe. Cargo de confiança, desconfiança, volto a cuidar da folha de pagamento amanhã.
Tudo ótimo, foi um confronto ideológico, acontece. Na realidade eu já venho cavando minha própria cova a um bom tempo, pois vinha reparando nas idas e vindas dos meus funcionários. Sempre fui sistemático e com a chefia, a coisa me subiu sabe?! Senti responsável por qualquer gateiro ou gatuna que sabotasse a rotina.

- Olha lá! Desgraçado saiu mais cedo de novo! Vocês estão vendo?

E ainda existia aquelas pessoas sorrateiras, peçonhentas, que consomem a energia de um ambiente com uma simples ligação e como um diabinho lhe tentava ao que você queria atuar. E aí lá ia eu, como uma panela de pressão, enchendo de informação, enchendo de informação e de repente: BUM!

Meu namorado me convidou para um teatro moderno na Paulista. Ele assistiu com uns amigos e disse que tem cenas de sexo explícito. É bom que eu me divirta, mas não conseguirei parar de pensar na minha nova rotina. Amanhã, às sete horas, voltarei a bater a folha de pagamento.

Ah, a desgraçada me substituirá. O capeta de minha consciência, junto com aquela víbora, e um punhadinho de ideologia de mercado. Vocês vejam bem, graças a consciência democrática, igual a todos, ferro e fogo, aqui se fez aqui se paga, Antigo Testamento Bíblico, e eu to na bosta.

Obrigado Vieirinha por expor meus pensamentos. Você é uma pessoa muito bacana. Ele prometeu fazer uma imagem legal misturando meu ofício e meu humor e ainda com algumas figuras do tipo, a pessoa desgraçada que me fez quase perder o emprego. Obrigado, de coração. Ele é um artista, este Vieirinha.