Deus Te Abençoe
Adoniran Barbosa
Composição: Indisponível
Vai meu filho
Deus te abençoe
Segue o teu trilho
É o que a minha mãe sempre diz
Todas as manhãs
Quando eu vou pra trabalhar
Eu saio de manhazinha
Volto a noitinha
No aconchego do meu lar
Eu trabalho de pedreiro
Ganho pouco dinheiro
Sou eu e a mulher
Faço todo o sacrifício
Mas minha mãe sempre diz
Tudo o que quiser
Falado "benção filho,
Deus te abençoe filho
Não vai esquecer a marmita, viu!"
sexta-feira, 13 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
A POÉTICA BRILHANTE DE SÉRGIO FRUSONI
Pesquisando sobre sociolingüística e as influências do crioulo na língua portuguesa usada no Brasil descobri um interessante poeta de Caboverde, que escreveu seus poemas em crioulo, os traduzindo para o português usado em Portugal e foi objeto de estudo do pesquisador e crítico literário português Mesquitela Lima, e que me foi possível ter acesso a este material através de Simone Caputo Gomes da Universidade Federal Fluminense.
O poeta trabalha sua poética em torno de temas básicos à cultura de Caboverde, tais como a terra, a fome, o drama partir-ficar (chamado terra-longismo, que a meu ver é uma forma de exílio), sem deixar de lado um sentimentalismo, sensualismo, humor, auto-biografismo e a constatação da situação da mulher na sociedade crioula, que não o coloca como um poético panfletário-político.
Observem, leitores, alguns poemas de Sérgio Frusoni, com as análises de Simone Caputo Gomes.
No poema "Mnine d'Sanvicente", Frusoni alude a suas saídas de Cabo Verde, ao tema da emigração-regresso, tão cantado pela Literatura do Arquipélago:
E j'a m' bá e já m' bem;
já m' torná bá e torná bem;
e alí'm lí, de pê na tchôm,
sem um vintem, sem um tstôm,
tâ crê torná bá...
ma pa torná bem...
(Já fui e já regressei;
já tornei a ir e tornei a regressar;
aqui estou, de pés no chão,
sem um vintém, sem um tostão,
a querer ir...
e tornar a regressar...)
A técnica do retrato condensado atinge líricos momentos no "flash" da Pracinha e da Igreja, cartões postais do Mindelo:
Igreja Igreja
Cambra Câmara
Rua da Luz Rua da Luz
Camim d' cimter Caminho do cemitério
Dalí ond'ê que m' tâ Daqui onde estou
m' ti t' oióbe, nha Igrejinha: vejo-te, minha Igrejinha
semp caiadinha d' brónc sempre caiadinha de branco
por dentre e por fóra, por dentro e por fora,
semp tâ figurá sempre a fazer figura,
embora bidjinha! embora velhinha!
Os costumes da terra (como a culinária), as fontes de sobrevivência, a seca e a chuva, a fome, a pobreza, terão expressão nos poemas "Rebêra", "Dia de féria", "Pâ quês pardalim", "Lembróme", "Infancia" e "Calôte , fidje de pôbréza, praga de nôs terra". O Porto Grande e a chuva são focalizados em paralelo no primeiro texto, correlacionando a abundância da água e da lama, tão necessárias ao cultivo, especialmente do milho, à abundância de barcos, tão importante para a economia da ilha:
M' câ sabê de bô, Não sei de ti,
nem de fórça dêsse láma nem da força dessa lama
que bo ti tâ carregá pa mar. que carregas para o mar.
Sô m' sabê cma vapor Só sei que os vapores
já pitá na baía, já apitaram na baía
cma aligria d'ága já rebentá na ar. e que a alegria da água
[á rebentou no ar...]
O milho assado, o rabo de porco e o feijão malaguetado, a cachupa e o pãozinho de milho (midje assóde, rabim de tchuc, fejón malaguetóde, catchupa, pômzinha de midje) inscrevem-se em alguns poemas enquanto pratos típicos da cultura caboverdiana
Em contraste, o sofrimento das crianças por causa da fome é retratado no poema "Infancia", num resgate da memória que persiste no poema "Lembróme".
Lembróme bô perfil: Lembra-me o teu perfil:
nocênte (...) inocente (...)
Ma que já tá trazê, Mas que já trazia
sargide na pêle serzida na pele
dôr ma sufrimênte, a dor e o sofrimento,
sina de nôs pôve... sina do nosso povo...
Fôme cá prêsta! Fôme ê bjôm! A fome não presta! Fome é
[um horror!]
Ma ants fôme do qui pêste ma guérra! Mas antes fome do que
[peste na guerra!]
Fôme ta minguóne, ta incudjine, A fome mingua-nos,
[encolhe-nos]
ma quem ta morrê fête menine, mas quem morre feito
[criança]
ta torná nascê fête menine, volta a nascer feito
[criança]
de lá de barriga de terra! de lá da barriga da terra
No poema "Pâ quês pardalim" Frusoni focaliza a mulher que, depois de desmaiar de fome, preocupa-se com um saco onde levava restos de cachupa e tocos de pão. Interpelada (em português) por que não comeu o farnel, ela diz:
E...e côsa que m' tá levá... E...e o que é que eu levava...
quês...pardalim àqueles...àqueles pardaizi-
[nhos]
-Pardais?
-Sim...
Quês...quês...dôs fidjim...de meu... àqueles...àqueles...dois filhinhos...meus...
A mulher, retratada ora na sua situação de abandono, em virtude da emigração do marido, ora no trabalho, ora em situações humorísticas, ou em sua sensualidade ("marmél de bô pêite/ ta pedí dentada d'ôme" - os marmelos do teu peito/a pedir dentada de homem), constitui um tema constante na obra de Sérgio Frusoni.
No texto "Quand um palavra sô tâ dzê tude côsa" Frusoni ridiculariza a mulher que regressa de rápida viagem a Lisboa com hábitos e até pronúncia diferentes. Uma só palavra condensará a crítica do povo a esse tipo de personagem: PACIÊNCIA!
Um dia nh'Augusta infermêra,
desembarcá tâ bem d'Lisboa: (desembarcou, vinha de Lisboa)
luva, cartêra,
cabel caracolóde
cara pintóde
ta pscá confundi parcença. (procurando confundir a figura)
Um mudjêr q'tava ta passá,
pará tâ spial,
cabá el sucdí cabeçá el dzê:
_Nh' Augusta, nh' armôm, PACIENÇA!.. (ah!, Meu irmão,
PACIÊNCIA!...)
No poema-sketch (técnica recorrente em sua obra) "Pai d'Fidje", o poeta mostra a mulher que reza para que o marido viciado ganhe no jogo, para que seus filhos não passem fome e ela não apanhe:
Spiá pa fidje, quem? Ele? Adéh!
importal lá s'ês t'andá sfarrapóde,
ô sem cmê! Alá'l sentóde
na jôgue, êss ê que'l crê!...
Scompôl? Brigá ma êl? Cónta d' nada!
Remêde ê rezá, cmáde!
E pdí Nossiôr pa fazel ganhá,
pamóde s'êl perdê, êl tíntchóme d'pancada...
A situação quase permanente da mulher só, em virtude do abandono ou emigração do marido, ou do afastamento do filho que parte para trabalhar longe é constantemente referida em poemas como "Sirvice de criada ca tá dá têmpe pa nada" e "A volta":
Sim, êl há d'voltá. Sim, há-de voltar.
E cs'ê qu' m há dzê? E que lhe direi?
Cma m'speral? Que o esperei?
Cma m' sofrê?... Que sofri?
S'el ca creditá? E se ele não acreditar?
Cs' ê qu' m há fazê? Que hei-de fazer?
M' há mostral fidje, Mostro-lhe a criança?
ô m' ha fcá calóde? ou fico calada?
E s' êl bem el stranhá casa; E se ele vem e estranha a
[casa?]
esse nha magréza; esta minha magreza
esse portôm abêrte, este portão aberto,
ma esse lume pagóde?... e este lume apagado?...
E s'stude bem dá cêrte? E se tudo vier a dar certo?
S'el cabá d' entrá se acabar de entrar
êl corrê pa mim?... e correr para mim?
M' há pô tâ tchorá, Hei-de chorar,
ô m' há pô tâ rí?... ou hei-de rir?...
Este belíssimo texto dá a medida da dramaticidade da emigração em terras caboverdianas. Os poemas "Contratóde" (que fala da partida do contratado, escravo do século vinte, por força do regime colonial), "Navì ta bá, navì ta bêm" (Navio que vai, navio que vem), "Na terra strónhe" (Em terra estranha),"Despedida", "Chamada de mar", "Diante de mar de sanvicente", "Volta d'imigrante antigo" enquadram-se no ciclo do terra-longismo (partida/regresso, o querer partir e ter de ficar/e vice-versa), tão bem teorizado por Manuel Ferreira (FERREIRA 1972).
Por outro lado, o chamado da terra, a caboverdianidade, a anti-evasão expressa veementemente por Ovídio Martins em Língua Portuguesa: Não vou para Pasárgada! reverbera em outros textos como "Nha terra", "Cabvêrde", "Pa diante é qu'ê camim":
Ma lì qu' m'nascê Mas aqui é que nasci
lì qu' m' criá! aqui é que me criei!
Êsse mar, êsse cêu, ma êsse tchôm, Este mar, este céu, este
[chão]
Lì qu'm'ha morrê! Aqui é que hei-de morrer!
Idêa d'imbarcá Ideia de embarcar
nunca passóme pâ cabéça (...) nunca me passou pela cabeça
Antes fcá pa lì tâ gozá dêsse mar Antes ficar por cá a
[gozar deste mar]
ma dêsse cêu. e deste céu.
Conhecendo e amando Cabo Verde, é fácil entender o sentimento de Sérgio Frusoni.
NOTAS
1. Considero a tradução literária dos textos para o português como um corpus poético à parte.
Ricardo Celestino
O poeta trabalha sua poética em torno de temas básicos à cultura de Caboverde, tais como a terra, a fome, o drama partir-ficar (chamado terra-longismo, que a meu ver é uma forma de exílio), sem deixar de lado um sentimentalismo, sensualismo, humor, auto-biografismo e a constatação da situação da mulher na sociedade crioula, que não o coloca como um poético panfletário-político.
Observem, leitores, alguns poemas de Sérgio Frusoni, com as análises de Simone Caputo Gomes.
No poema "Mnine d'Sanvicente", Frusoni alude a suas saídas de Cabo Verde, ao tema da emigração-regresso, tão cantado pela Literatura do Arquipélago:
E j'a m' bá e já m' bem;
já m' torná bá e torná bem;
e alí'm lí, de pê na tchôm,
sem um vintem, sem um tstôm,
tâ crê torná bá...
ma pa torná bem...
(Já fui e já regressei;
já tornei a ir e tornei a regressar;
aqui estou, de pés no chão,
sem um vintém, sem um tostão,
a querer ir...
e tornar a regressar...)
A técnica do retrato condensado atinge líricos momentos no "flash" da Pracinha e da Igreja, cartões postais do Mindelo:
Igreja Igreja
Cambra Câmara
Rua da Luz Rua da Luz
Camim d' cimter Caminho do cemitério
Dalí ond'ê que m' tâ Daqui onde estou
m' ti t' oióbe, nha Igrejinha: vejo-te, minha Igrejinha
semp caiadinha d' brónc sempre caiadinha de branco
por dentre e por fóra, por dentro e por fora,
semp tâ figurá sempre a fazer figura,
embora bidjinha! embora velhinha!
Os costumes da terra (como a culinária), as fontes de sobrevivência, a seca e a chuva, a fome, a pobreza, terão expressão nos poemas "Rebêra", "Dia de féria", "Pâ quês pardalim", "Lembróme", "Infancia" e "Calôte , fidje de pôbréza, praga de nôs terra". O Porto Grande e a chuva são focalizados em paralelo no primeiro texto, correlacionando a abundância da água e da lama, tão necessárias ao cultivo, especialmente do milho, à abundância de barcos, tão importante para a economia da ilha:
M' câ sabê de bô, Não sei de ti,
nem de fórça dêsse láma nem da força dessa lama
que bo ti tâ carregá pa mar. que carregas para o mar.
Sô m' sabê cma vapor Só sei que os vapores
já pitá na baía, já apitaram na baía
cma aligria d'ága já rebentá na ar. e que a alegria da água
[á rebentou no ar...]
O milho assado, o rabo de porco e o feijão malaguetado, a cachupa e o pãozinho de milho (midje assóde, rabim de tchuc, fejón malaguetóde, catchupa, pômzinha de midje) inscrevem-se em alguns poemas enquanto pratos típicos da cultura caboverdiana
Em contraste, o sofrimento das crianças por causa da fome é retratado no poema "Infancia", num resgate da memória que persiste no poema "Lembróme".
Lembróme bô perfil: Lembra-me o teu perfil:
nocênte (...) inocente (...)
Ma que já tá trazê, Mas que já trazia
sargide na pêle serzida na pele
dôr ma sufrimênte, a dor e o sofrimento,
sina de nôs pôve... sina do nosso povo...
Fôme cá prêsta! Fôme ê bjôm! A fome não presta! Fome é
[um horror!]
Ma ants fôme do qui pêste ma guérra! Mas antes fome do que
[peste na guerra!]
Fôme ta minguóne, ta incudjine, A fome mingua-nos,
[encolhe-nos]
ma quem ta morrê fête menine, mas quem morre feito
[criança]
ta torná nascê fête menine, volta a nascer feito
[criança]
de lá de barriga de terra! de lá da barriga da terra
No poema "Pâ quês pardalim" Frusoni focaliza a mulher que, depois de desmaiar de fome, preocupa-se com um saco onde levava restos de cachupa e tocos de pão. Interpelada (em português) por que não comeu o farnel, ela diz:
E...e côsa que m' tá levá... E...e o que é que eu levava...
quês...pardalim àqueles...àqueles pardaizi-
[nhos]
-Pardais?
-Sim...
Quês...quês...dôs fidjim...de meu... àqueles...àqueles...dois filhinhos...meus...
A mulher, retratada ora na sua situação de abandono, em virtude da emigração do marido, ora no trabalho, ora em situações humorísticas, ou em sua sensualidade ("marmél de bô pêite/ ta pedí dentada d'ôme" - os marmelos do teu peito/a pedir dentada de homem), constitui um tema constante na obra de Sérgio Frusoni.
No texto "Quand um palavra sô tâ dzê tude côsa" Frusoni ridiculariza a mulher que regressa de rápida viagem a Lisboa com hábitos e até pronúncia diferentes. Uma só palavra condensará a crítica do povo a esse tipo de personagem: PACIÊNCIA!
Um dia nh'Augusta infermêra,
desembarcá tâ bem d'Lisboa: (desembarcou, vinha de Lisboa)
luva, cartêra,
cabel caracolóde
cara pintóde
ta pscá confundi parcença. (procurando confundir a figura)
Um mudjêr q'tava ta passá,
pará tâ spial,
cabá el sucdí cabeçá el dzê:
_Nh' Augusta, nh' armôm, PACIENÇA!.. (ah!, Meu irmão,
PACIÊNCIA!...)
No poema-sketch (técnica recorrente em sua obra) "Pai d'Fidje", o poeta mostra a mulher que reza para que o marido viciado ganhe no jogo, para que seus filhos não passem fome e ela não apanhe:
Spiá pa fidje, quem? Ele? Adéh!
importal lá s'ês t'andá sfarrapóde,
ô sem cmê! Alá'l sentóde
na jôgue, êss ê que'l crê!...
Scompôl? Brigá ma êl? Cónta d' nada!
Remêde ê rezá, cmáde!
E pdí Nossiôr pa fazel ganhá,
pamóde s'êl perdê, êl tíntchóme d'pancada...
A situação quase permanente da mulher só, em virtude do abandono ou emigração do marido, ou do afastamento do filho que parte para trabalhar longe é constantemente referida em poemas como "Sirvice de criada ca tá dá têmpe pa nada" e "A volta":
Sim, êl há d'voltá. Sim, há-de voltar.
E cs'ê qu' m há dzê? E que lhe direi?
Cma m'speral? Que o esperei?
Cma m' sofrê?... Que sofri?
S'el ca creditá? E se ele não acreditar?
Cs' ê qu' m há fazê? Que hei-de fazer?
M' há mostral fidje, Mostro-lhe a criança?
ô m' ha fcá calóde? ou fico calada?
E s' êl bem el stranhá casa; E se ele vem e estranha a
[casa?]
esse nha magréza; esta minha magreza
esse portôm abêrte, este portão aberto,
ma esse lume pagóde?... e este lume apagado?...
E s'stude bem dá cêrte? E se tudo vier a dar certo?
S'el cabá d' entrá se acabar de entrar
êl corrê pa mim?... e correr para mim?
M' há pô tâ tchorá, Hei-de chorar,
ô m' há pô tâ rí?... ou hei-de rir?...
Este belíssimo texto dá a medida da dramaticidade da emigração em terras caboverdianas. Os poemas "Contratóde" (que fala da partida do contratado, escravo do século vinte, por força do regime colonial), "Navì ta bá, navì ta bêm" (Navio que vai, navio que vem), "Na terra strónhe" (Em terra estranha),"Despedida", "Chamada de mar", "Diante de mar de sanvicente", "Volta d'imigrante antigo" enquadram-se no ciclo do terra-longismo (partida/regresso, o querer partir e ter de ficar/e vice-versa), tão bem teorizado por Manuel Ferreira (FERREIRA 1972).
Por outro lado, o chamado da terra, a caboverdianidade, a anti-evasão expressa veementemente por Ovídio Martins em Língua Portuguesa: Não vou para Pasárgada! reverbera em outros textos como "Nha terra", "Cabvêrde", "Pa diante é qu'ê camim":
Ma lì qu' m'nascê Mas aqui é que nasci
lì qu' m' criá! aqui é que me criei!
Êsse mar, êsse cêu, ma êsse tchôm, Este mar, este céu, este
[chão]
Lì qu'm'ha morrê! Aqui é que hei-de morrer!
Idêa d'imbarcá Ideia de embarcar
nunca passóme pâ cabéça (...) nunca me passou pela cabeça
Antes fcá pa lì tâ gozá dêsse mar Antes ficar por cá a
[gozar deste mar]
ma dêsse cêu. e deste céu.
Conhecendo e amando Cabo Verde, é fácil entender o sentimento de Sérgio Frusoni.
NOTAS
1. Considero a tradução literária dos textos para o português como um corpus poético à parte.
Ricardo Celestino
quarta-feira, 4 de março de 2009
CARNAVAL E QUARESMA II
Do carnaval à quaresma,
Dia-a-dia, todo dia,
Até uma, duas, três, quatro, cinco
Vezes ao dia...
Os tambores rufam,
As fantasias brilham.
O ensaio na garagem,
Ouvidos nos sótãos,
Garagens e sótãos e depois
Avenida.
Do violão, rua
Da vida, rua
Da lua, rua
Da rua, ensaio, orvalho, frio, inverno, e depois
Verão, carnaval, festa.
Todo dia, dia-a-dia...
Consuma etapas,
Lufadas de efeitos especiais,
Imagens, paisagens,
Carnaval de alegorias.
E depois
Quaresma de ressacas,
Um bêbado equilibrando-se,
Uma cabeça com enxaqueca,
Um sem-vida exaltado,
A andança que te gera calos
Mas que se recuperam para a próxima passeata.
Carnaval e quaresma,
Roda vai e vem.
(trecho da peça Lis)
Dia-a-dia, todo dia,
Até uma, duas, três, quatro, cinco
Vezes ao dia...
Os tambores rufam,
As fantasias brilham.
O ensaio na garagem,
Ouvidos nos sótãos,
Garagens e sótãos e depois
Avenida.
Do violão, rua
Da vida, rua
Da lua, rua
Da rua, ensaio, orvalho, frio, inverno, e depois
Verão, carnaval, festa.
Todo dia, dia-a-dia...
Consuma etapas,
Lufadas de efeitos especiais,
Imagens, paisagens,
Carnaval de alegorias.
E depois
Quaresma de ressacas,
Um bêbado equilibrando-se,
Uma cabeça com enxaqueca,
Um sem-vida exaltado,
A andança que te gera calos
Mas que se recuperam para a próxima passeata.
Carnaval e quaresma,
Roda vai e vem.
(trecho da peça Lis)
PASSAGEM RÁPIDA
Num único dia,
o tédio dos punks,
a revolta dos guerrilheiros,
a alegria dos sambistas,
o bobismo dos emos,
a safadeza dos prostituandos,
a grandeza dos policiais,
a autoridade dos ditadores,
a infantilidade dos desenhos,
a loucura de um louco,
a bebedeira de um bêbado,
o êxtase de um drogado,
o calor de um diabético,
a lucidez de um psicopata,
a mocidade de um idoso,
a velhice de um adolescente,
a castidade de um cafetão,
a promiscuidade de um católico,
a orgia homossexual,
a oferenda espiritual,
a grande fulga pelo anal,
a melhoria de vida a cada dia,
uma melodia preferida,
uma música que deteste,
um cachorro que te morda,
um gato que te arranhe,
uma pomba que lhe marque,
sorte dela que eu não sei voar.
Um sábado e um domingo esperado,
quem sabe vem um feriado?
uma partidinha de sinuca,
um joguinho de futebol,
um caminhar na esteira,
uma grande pança cheia,
um saco gordo, irrugado,
uma barriga flácida e caída,
um inferno e uma vergonha,
uma garota e a margarida,
minissaia e entorpecentes,
o presídio e os presos,
a mulher e o marido,
o matrimônio e o pecado,
o feliz e o individado,
o ladrão e o roubado,
minha vida e tua filha,
sua vida e seu namorado,
e iremos sair juntos neste sábado.
Um patrão e um empregado,
aproveitam juntos a hora do almoço.
Um sol e algumas nuvens,
um dia nublado,
guarda-chuva e meia molhada,
jantar sozinho, acompanhado
de mim mesmo... de mim mesmo...
a solidão, aprendizado,
o medo de morrer só,
a solidão, um mar,
o medo de se afogar,
a solidão um esporte,
o medo da contusão,
a solidão uma economia,
o medo da crise financeira mundial e da perda de todos os meus pertences.
a solidão, me acompanha,
estou só...
a vergonha de artistar,
e a vontade de poetar.
o tédio dos punks,
a revolta dos guerrilheiros,
a alegria dos sambistas,
o bobismo dos emos,
a safadeza dos prostituandos,
a grandeza dos policiais,
a autoridade dos ditadores,
a infantilidade dos desenhos,
a loucura de um louco,
a bebedeira de um bêbado,
o êxtase de um drogado,
o calor de um diabético,
a lucidez de um psicopata,
a mocidade de um idoso,
a velhice de um adolescente,
a castidade de um cafetão,
a promiscuidade de um católico,
a orgia homossexual,
a oferenda espiritual,
a grande fulga pelo anal,
a melhoria de vida a cada dia,
uma melodia preferida,
uma música que deteste,
um cachorro que te morda,
um gato que te arranhe,
uma pomba que lhe marque,
sorte dela que eu não sei voar.
Um sábado e um domingo esperado,
quem sabe vem um feriado?
uma partidinha de sinuca,
um joguinho de futebol,
um caminhar na esteira,
uma grande pança cheia,
um saco gordo, irrugado,
uma barriga flácida e caída,
um inferno e uma vergonha,
uma garota e a margarida,
minissaia e entorpecentes,
o presídio e os presos,
a mulher e o marido,
o matrimônio e o pecado,
o feliz e o individado,
o ladrão e o roubado,
minha vida e tua filha,
sua vida e seu namorado,
e iremos sair juntos neste sábado.
Um patrão e um empregado,
aproveitam juntos a hora do almoço.
Um sol e algumas nuvens,
um dia nublado,
guarda-chuva e meia molhada,
jantar sozinho, acompanhado
de mim mesmo... de mim mesmo...
a solidão, aprendizado,
o medo de morrer só,
a solidão, um mar,
o medo de se afogar,
a solidão um esporte,
o medo da contusão,
a solidão uma economia,
o medo da crise financeira mundial e da perda de todos os meus pertences.
a solidão, me acompanha,
estou só...
a vergonha de artistar,
e a vontade de poetar.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
UM HOMEM QUE FOI À BIQUEIRA ou HOMENAGEM A GABRIEL MONTEIRO
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
Desculpe meu amigo, mas eu não vou te acompanhar
Minha bica fica longe, ela está em outro lugar
Se tu bebes desta água, sinto não poder beber
O consumo de nós dois é o que nos faz sofrer
Se o trabalho suado te faz repudiar
Vá a bica neste horário, estarei em outro lugar
Sofrendo e bebendo doutras águas não de fruta
Espero te encontrar no final desta luta
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
E teu corpo magro foi por causa destes mares
Quando eu te encontrei, quase não cruzei olhares
Não senti vergonha, tu és meu companheiro
É que não te reconheci como o Gabriel Monteiro
Seus olhos de opacos só enxergava vazis,
Dizem que não pensa mais nas lutas do país,
E se indiferente isto tudo é pra você
é por que na bica você encontrou o seu prazer.
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
Ah em teus lábios, o destino de tua ida,
Em toda essa jornada, não vê o que fez da vida?
Teu corpo formoso, lutava feito um lutador
Agora de tão fraco, os braços refletem tua dor
Seus olhos cor de mar, foram convites às gurias
Mas no dia em o que os reencontrei, eram apenas gotas tão frias
Seu aperto de mão, que outrora fora forte
Naquele nosso encontro marrecou em curto trote
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
Não é que esteja errado, não posso te cobrar isto
É que despensas esforço,ao viver a próprio risco
Sei que continuas um grande homem forte
E espero não saber do momento de sua morte
Se nos encontramos, foi por puro acaso
Sonho em te encontrar um dia fora deste vaso
E se deste prazer, tu morreres de felicidade
Saiba que mesmo assim, és um amigo de verdade
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
- Ricardo Celestino
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
Desculpe meu amigo, mas eu não vou te acompanhar
Minha bica fica longe, ela está em outro lugar
Se tu bebes desta água, sinto não poder beber
O consumo de nós dois é o que nos faz sofrer
Se o trabalho suado te faz repudiar
Vá a bica neste horário, estarei em outro lugar
Sofrendo e bebendo doutras águas não de fruta
Espero te encontrar no final desta luta
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
E teu corpo magro foi por causa destes mares
Quando eu te encontrei, quase não cruzei olhares
Não senti vergonha, tu és meu companheiro
É que não te reconheci como o Gabriel Monteiro
Seus olhos de opacos só enxergava vazis,
Dizem que não pensa mais nas lutas do país,
E se indiferente isto tudo é pra você
é por que na bica você encontrou o seu prazer.
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
Ah em teus lábios, o destino de tua ida,
Em toda essa jornada, não vê o que fez da vida?
Teu corpo formoso, lutava feito um lutador
Agora de tão fraco, os braços refletem tua dor
Seus olhos cor de mar, foram convites às gurias
Mas no dia em o que os reencontrei, eram apenas gotas tão frias
Seu aperto de mão, que outrora fora forte
Naquele nosso encontro marrecou em curto trote
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
Não é que esteja errado, não posso te cobrar isto
É que despensas esforço,ao viver a próprio risco
Sei que continuas um grande homem forte
E espero não saber do momento de sua morte
Se nos encontramos, foi por puro acaso
Sonho em te encontrar um dia fora deste vaso
E se deste prazer, tu morreres de felicidade
Saiba que mesmo assim, és um amigo de verdade
Vou à bica, à bica
Desta água eu irei beber
Vou à bica, à bica
Consumir-me ao meu próprio prazer
- Ricardo Celestino
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
CAMINHANDO A MAR ABERTO ou A EUROPA QUE NÃO RELUZIU EM MEUS OLHOS...
O trem me deixou na estação central da cidade e como minha mala estava muito pesada resolvi sentar um pouco e esperar os arrepios de meus músculos se acalmarem. Sentia os calos de meus pés doerem, sempre ardendo simetricamente, pelo tênis barato que calçava. Logo que o descanso de meu corpo começou, banhava-me de dentro para fora e a camisa começou a me incomodar. Não dava pra ficar tanto tempo parado...
Voltei com as sacas nas costas e caminhei pela escada que me levou pra cima. Senti-me mergulhado num mar, faltando um pouco de oxigênio em minhas narinas que cheiravam um ar de massas e necessidades. Havia carnes e gritos naquela multidão embravecida. No papel que me deram dizia Rua Direita, 95, e como de costume procurei a igreja, já que o local, me situaram, Praça da Sé.
Haviam olhos grandes por todos os lados, e eu caminhava sobre olhos e desviava de olhos o tempo inteiro. Parecia que meu cheiro era de gente nova, e não os condeno por me olharem. Se numa cidade pequena um novo chega, a impressão é a mesma. Aqui vale o número... perguntei a um dos olhos onde eu poderia encontrar o senhor Emanuel Texeira Vigo e ela me respondeu com os olhos. Continuei andando mesmo para não deixar que meu estar se incomodasse mais. Estava um pouco perdido, a mar aberto.
Eu precisava coçar minhas costas, precisava deixar as malas no chão um pouco, mas meus sentidos me traíam. Naquele lugar eu conseguia cheirar pela boca, ouvir pelos olhos e enxergar pelo nariz. Degustar nem me veio a mente naquela hora de desencanto. De onde eu vinha, esta cidade era impecável, a Europa americana.
Avistei uma gigantesca catedral. Eles gostam de coisas grandes, percebe-se. E se fosse para depender dos olhos, que dependesse dos olhos de Deus. Resolvi que ali eu ficaria um pouquinho, faria uma reza para descansar e talvez uma benta para me refrescar. Eu havia feito viagem, ônibus, trem e metrô, e a hospitalidade ainda não servira meus calcanhares.
A igreja era como as de lá, só que com monumentos e arquiteturas muito mais detalhadas e maiores. A imaginação estava tudo lá. Pra que missa? Com um prédio daquele, a missa já ta feita como exposição e lugar era o que não faltava para eu poder me descansar. Deixei de lado a mala, por que na casa de Deus ninguém ofende ninguém, e sentei bem pertinho do senhor cruxificado. Fiquei ali quietinho, rezando baixinho, enquanto sentia um gostosinho me passar pelo corpo todo. O relaxamento veio com a fé, eu acreditava, e fui ver onde colocavam a benta.
Esse raio de sacola, clamaram, fica pro meio do chão e não nos deixam passar, e eu educadamente fui lá buscar a mala que ficou pelo caminho. O padre não gostou não e ainda profetizou-me uma desgraça, me entitulou um conceito e me encostou com grossura. Pelo menos deu para descansar.
Rua direita, lado direito, foi mais fácil com a ajuda do emissor de Deus. E eu achando que estava a alto mar, quando na verdade só presenciei a prainha. Caminhei por vontade, mas se não fosse não faria diferença. Corpanzis juntos de corpanzis, fui só prestando atenção na numeração. Número 95.
Meu cunhado ganhou uma bolada com um tal de Emanuel Teixeira Vigo, e ele montou para mim um comércio de arte cinematográfica com cópias feitas em sua própria casa. Os fornecedores eram bons e de outras regiões. Estava lá, com seu bigode impecável, regendo o mar. Ele me apresentaria o mundo europeu, meu irmão... meu irmão me apresentaria a verdadeira cidade de São Paulo.
HISTÓRIA DA PRÉ-HISTÓRIA
Hoje a arte é pré-histórica,
Brinca com bolinhas coloridas
Tem depressões preto e cinza,
Não gargalhada a vida
Com a natureza de um Noel.
Hoje a arte ta pra lá,
Despreparada pro que vai e vem,
Tem pressa de se cumprir
E tem orçamento para fechar,
Uma correria de rotina escriturária.
Hoje a arte atingiu uma montanha,
E tem uma carinha moderna e fofa.
Pintam ela da cor que bem entendem,
E fica linda se olhada e suspirada
Como um pacote de presente caro.
Nada mais declaro à arte,
Por que ela se sustenta a si só
Virou bacharelado e licenciatura
E tão dizendo que tem mensalidade cobrando alto
Pelo pressão de um bom Machado.
(trecho de LIS)
LIS – Eu não chorei pela morte do meu pai... eu chorei pela falta de companhia que meu pai me trouxe. O vazio que eu nunca tinha sentido. Eu chorei pela saudade, e não pelo ato de morte. Aliás, ninguém chora pelo ato de morte, todo mundo é egoísta, não acham? Pensam no sofrimento que terá ao saber que nunca mais verá a pessoa, e aí falam, ai coitadinho, ele morreu. Mas quem está sofrendo pela morte dele é você. Você é o coitadinho...
(Idéias para Lipstick Killer)
Conjunto de vasos que saem do coração e se ramificam sucessivamente distribuindo-se para todo o organismo. Do coração saem o tronco pulmonar (relaciona-se com a pequena circulação, ou seja leva sangue venoso para os pulmões através de sua ramificação, duas artérias pulmonares uma direita e outra esquerda) e a artéria aorta (carrega sangue arterial para todo o organismo através de suas ramificações).
Estrutura:
1- Túnica externa: é composta basicamente por tecido conjuntivo. Nesta túnica encontramos pequenos filetes nervosos e vasculares que são destinados à inervação e a irrigação das artérias. Encontrada nas grandes artérias somente.
2- Túnica média: é a camada intermediária composta por fibras musculares lisas e pequena quantidade de tecido conjuntivo elástico. Encontrada na maioria das artérias do organismo.
3- Túnica íntima: forra internamente e sem interrupções as artérias, inclusive capilares. São constituídas por células endoteliais.
Ramificações:
1- Ramos colaterais: surgem dos troncos principais em ângulo agudo, em ângulo reto ou em ângulo obtuso.
2- Ramos terminais: são os que irrigam com certa exclusividade um determinado território. São os ramos mais ditais.
Relação volumétrica: a soma da área dos lumes dos ramos distais é sempre maior que a área do vaso que lhe deu origem.
Anastomose: significa ligação entre artérias, veias e nervos os quais estabelecem uma comunicação entre si. A ligação entre duas artérias ocorre em ramos arteriais, nunca em troncos principais. Às vezes duas artérias de pequeno calibre se anastomosam para formar um vaso mais calibrosos. Freqüentemente a ligação se faz por longo percurso, por vasos finos, assegurando uma circulação colateral.
Relações:
1- Com as veias: a norma geral é que um artéria seja acompanhada por pelo menos uma veia, sendo chamadas veias satélites. Artérias de grosso calibre geralmente são acompanhadas por uma veia e artérias de média e pequeno calibre são seguidas em seu trajeto por duas veias.
2- Com os músculos: certos músculos servem como ponto de reparo às artérias que os acompanham, sendo chamados de músculos satélites, como por exemplo o músculo esternocleidomastóideo que acompanha a artéria carótida comum.
3- Com as articulações: as artérias sempre passam pela superfície flexora da articulação.
- Desaposentado Ricardo Celestino
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
A VIDA PÚBLICA... SOCIEDADE
Dentre outras formas de se poder viver em sociedade,
Eu sou o que vivo eternamente algemado com meus deveres.
Não me considero enforcado nem subjugado pelo sistema,
Aproveito das primeiras calabresas da pizza parcelada,
Mas ainda sim, sufoca-me um pouco o laço,
A tribuna, os ofícios e os vocábulos.
Dentre outras formas de se poder viver em sociedade,
Eu sou o que vivo eternamente algemado com meus deveres.
Ricardo Celestino
Eu sou o que vivo eternamente algemado com meus deveres.
Não me considero enforcado nem subjugado pelo sistema,
Aproveito das primeiras calabresas da pizza parcelada,
Mas ainda sim, sufoca-me um pouco o laço,
A tribuna, os ofícios e os vocábulos.
Dentre outras formas de se poder viver em sociedade,
Eu sou o que vivo eternamente algemado com meus deveres.
Ricardo Celestino
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