domingo, 19 de maio de 2013

UM ENCONTRO COM A SAUDADE


Não sei por que, mas pela manhã é muito difícil abrir meus olhos.

Mesmo com as percianas abertas e o verão estapeando minhas maçãs, meus olhos nunca querem abrir.

Um bom tempo depois do meu corpo, eles despertam ao som de um toque ensurdecedor de celular, me colocando em pé em posição de ataque: quem tenho que matar? Quem foi atingido? Para me colocar em pé, somente o som de tiros e explosões.

- Meu nome é Roberto e minha vida é uma merda!

Isso eu reflito no banho, enquanto a água quente faz com que minhas lágrimas nem sequer apareçam, e eu fico com a feição de um idiota chorando sem elas.

- Moro numa avenida paulistana cercada de gente que fede a merda. A minha vida...
- O que?
- Eles fedem à minha vida.

- Com ela?
- Também.

Então visto a pior roupa do armário. Só tenho piores roupas em meu armário. Não são roupas velhas, são roupas sem graça. Se eu tivesse que vestir uma roupa que me deixasse confortável em meu dia-a-dia, vestiria a fantasia daquele homem que aparece na TV.

Não há o que comemorar. Meus olhos ardem devido ao choro matinal forçado.

Cigarros esperam ao lado de um pão e uma xícara de café.

O viaduto era de chás.

Os chás faziam notas verdes,

Que faziam uma música,

Que mobilhava minha casa e tirava meus sentidos.

A vodca estava muito cara.

Natasha, Orlov te odeia!

- Orlov?
- Bem... é uma marca de vodca barata.
- Humm... Natasha?

- Bem... tem aquela barata que te dá nó na garganta, e aquela outra que me faz o mesmo. As duas me perseguem o dia seguinte inteiro: uma me causando náuseas e vômitos, a outra depressão.
- Poxa... literatura não é seu forte.

Pois é... caminho até uma padaria em frente ao meu apartamento.

Quase todos os dias alguém quase me faz o favor de me deixar feliz, mas breca quando deveria ter acelerado mais.

Na padaria, quem me atende é uma pessoa-registradora que parece uma máquina de fazer café e pão-com-manteiga.

Mas eu entro só para ler o jornal. Não ganho o suficiente para tomar café todo dia na rua. Eu sou uma máquina de angústias.

- Agora está melhorando...
- Meu dia?

- Não... sua literatura. Sabe, eu só te perguntei o que você faz da vida, não precisa narrar todos os teus passos.

- Poxa, é que faz tempo que ninguém me pergunta nada...

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