Sou jornalista e
escrevo numa coluna sobre cultura. Minha rotina é ir aos lugares e escrever
alguma coisa sobre eles. Meus dedos criativos são livres para compor uma
resenha que caiba em um quadrado de vinte centímetros de um jornal diário.
A coluna sai às
quartas. No dia do jogo. No dia em que as pessoas estão chateadas com a rotina
do trabalho. No dia em que a semana estaciona. No dia em que ninguém acha legal
ler sobre cultura. Exceto a galera lá do meu jornal.
Eu costumo ir para
vários lugares diferentes. De todos os lugares que eu conheço tenho milhares de
coisas para escrever, compor, contar. Cada local, cada arte, tem a sua
particularidade muito bem descrita.
Mas parece que as
pessoas cansaram um pouco da inovação. Elas não gostam de criar e preferem
apenas exaltar o conhecido. Eu queria poder escrever minha coluna a moda
daqueles homens que inventaram o jornal.
Isso me irrita...
- E é aí que eu entro...
- Como?
- Você sente saudade de toda aquela agitação de antigamente né?!
Pessoas criando coisas novas... gritando!
- É... parecia que antes tudo era feito com mais amor.
- Pois é... aquela época de gente com pulso firme, né?! Que tinha gogó!
- Exatamente. É como se você soubesse exatamente o que estou
pensando...
- Aquela época que você não viveu...
- Isso... Qual seu nome?
- Saudade...
- Ah...
- Por que você está triste? Quer dizer... o fato das pessoas não
escreverem coisas novas, ou de um jeito mais bacana, não deve influenciar tanto
assim na tua vida pra te deixar tão chateado.
- Não sei... só que, bem... acho que já fui mais feliz um dia.
- Acha mesmo?
- É...
Quando eu estagiava
no jornal, mesmo ganhando menos, tinha uma coisa que me fazia acreditar que eu
ia pra frente.
Meus escritos sempre
foram ruins, mas eu era novo... parecia que com o tempo melhoraria.
Só que ele não foi
tão legal comigo... o cargo que eu assumi foi por falta de gente que o
quisesse.
Acredite, em São
Paulo, não é todo formado em jornalismo que aceita trabalhar num jornal de
bairro com um salário de dois salários mínimos para escrever besteiras culturais.
- Eu acho que, no fim, deixei tudo nas costas da esperança.
- E por deixar tudo nas costas dela, você acabou aqui... sentado nesse
banco comigo.
- Acho que se eu tivesse optado em ser outra coisa, estaria bem pior do
que estou hoje.
- Será? Sua vida não foi traçada pelas opções que você fez? Será que se
você tivesse colocado alguma vírgula fora do lugar, em um desses momentos aí,
você não seria hoje alguma outra coisa?
Eu adorava escrever
textos literários e dar de presente para as pessoas. Um amigo estava afim de
uma garota, eu escrevia um poema. Uma garota queria impressionar algum affair,
eu escrevia um conto.
Um nerd queria
impressionar um nerd, eu escrevia um conto de terror, uma história fantástica,
um elfo que matasse orcs, qualquer coisa.
- Este banco está desconfortável?
- Não. Eu gosto da sua companhia.
- Então vamos lá. Deve haver alguma coisa na sua memória que te
conforte.
- Acho que sim. O amor... o amor foi diferente...
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