terça-feira, 28 de outubro de 2008

POETA, POETINHA...

A classificação de poeta e todo seu status de o ser supremo que consegue com a palavra atingir as mais divinas ânsias subjetivas da humanidade, o glorioso que, enfim, possui todo um talento nato que o faz se distinguir das pessoas comuns, o ser que está distante do que se tem por idéia A SOCIEDADE, aquele que observa tudo com uma certa distância e com isso tem a capacidade de criar e recriar, de brincar com as palavras e as pessoas, meus caros, não existe. Eu afirmo e reafirmo, não existe.
Refletindo sobre o conceito de poeta, cheguei a um impasse paradoxal: seria o poeta um Deus? Mas se divino e grandioso, por que a eterna esperança e o eterno pavor de Manuel Bandeira pela morte? Se fossem os poetas tão sabidos e donos de toda a razão, por que o suicídio de Sá Carneiro? E ainda, se fossem todos de atitudes tão sábias, qual a explicação das atitudes dos ex-tropicalientes?
Acontece que sempre houve uma grande dificuldade em se conceituar poeta e grandes poetas no tempo em que os observamos. Com isso, Manuel Bandeira dizia-se um poetinha, Vinícius de Moraes, orgulhando-se com sua produção poética, era desvalorizado pelo mundo acadêmico com a sua produção musical, mesmo afirmando e gritando que as músicas não passavam de poemas com ritmos instrumentalizados, Oswald de Andrade só teve seu valor com as escavações de Antonio Candido. E cá estamos, escrevendo e implorando por um espaço nos livros didáticos?
Não, provavelmente nenhum desses artistas gostariam de simplesmente serem lembrados em parágrafos de livros didáticos, principalmente transformarem-se em fonte de lucros familiares, vide Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade, ops, Carlos D. And., vai que me cobram algo pelo nome completo do rapaz. E de repente, os escritores tornam-se imortais donos de uma cadeira, de um número, de uma ostentação. E de repente nos deparamos com pessoas comuns, que caminham, comem e realizam as necessidades do dia-a-dia universalizados como deuses com poderes genéticos fantásticos, possibilitados e gabaritados a escreverem os mais divinos versos, com conhecimentos enciclopédicos apenas pelo fato de existirem, e você, eu, todos nós ali, com os versinhos embaixo do braço, nos comparando e dizendo: Poxa, que merda eu sou?
E chego a conclusão que ser poeta é convenção social. Eu não posso me dizer poeta, eu não posso fazer poesia. Enquanto houver a literatura e ao seu lado uma estante de literatura marginal, acho indigno o título de poeta. Indigno e elitista. Se temos um poeta, logo ao lado temos apenas o letrista, apenas o poetinha, ou apenas o poeta marginal. E reparamos que toda essa ostentação e todo esse academicismo que respeitamos dos antepassados literatos, hoje caveiras de corpo e materiais de presença na verdade servem também para nos amedrontar e travar nossos pulsos.
E daí proponho a utilização dos clássicos como inspiração. E daí bato na tecla já gasta de Machado de Assis, de Oswald de Andrade, de Oscar Wilde, de Bauldelaire e talvez até de Edgard Allan Poe. Mas quem sou eu para me igualar a eles? Quem somos? Eu vos digo quem somos... somos pessoas vivas e isso dói. Infelizmente dói e incomoda.

- Ricardo Celestino

2 comentários:

Neo Brazillix disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Neo Brazillix disse...

Pois é, meu caro... somos pessoas vivas e isso dói.

"Se você quer escrever prosa/poesia
As palavras usadas tem que ser as suas próprias
Não plagie ou pegue "emprestado"
Porque há sempre alguém, em algum lugar
que é narigudo e sabe
E que te passa uma rasteira e ri
Quando você cai".

Não somos esses "deuses" (eu disse nós? to fora, mermão), mas temos as mesmas vontades que eles tiveram. Talvez as mesmas influências... e também a influência deles mesmos. Mas estamos sentenciados até o fim de nossas vidas como plagiadores, influenciados, parecidos etc... Nunca engolem o que queremos realmente mostrar, sempre comparando com o academicismo. E nós também fazemos isso, também temos culpa.

Agora me diga, quantos deles eram deslocados, solitários, viciados, pobres, tristes, depressivos, excêntricos, malucos, alcoólatras, ateus, apolíticos, politizados, homossexuais, paradoxais, cristãos, complexados, mentirosos, refugiados, neuróticos, engraçados, irônicos, visionários, mártires... e essa lista se estende... deuses... deuses porra nenhuma! Seres humanos como você, como eu... Animais sexuais, alguns mais sinceros, outros mais medrosos.

Claro que muitos deles estão se revirando nos túmulos a cada edição de um livro didático, mas nem tudo é perfeito.

Eu ainda prossigo no foda-se. Façamos como desejamos.

E cada dia que passa você escreve melhor ainda!

Abraço, meu camarada.

Erick Martorelli,

erickmartorelli.wordpress.com