Todos nós sabemos que a vida é
efêmera. Todos nós desfrutamos daquele pouco de apego espiritual para
justificar que, no fim, nós deixaremos de habitar esse lugar terreno, recheado
de coisas boas e, por que não, ruins. Pedro Tostes, como escrito no prefácio de
seu Descaminhar, é um guerrilheiro
poético que, perambulando pelas ruas do Rio, de São Paulo, ou por qualquer
cidade em que a Avenida se chama vida, soube
compreender de um jeito diferente o efêmero do mundo.
Somos barroco, grito! Temos
conflitos de razão e espírito o tempo inteiro. Somos modernos, grito!
Necessitamos nos encaixar na engrenagem do capitalismo selvagem. Nem sempre!
Diz Pedro Tostes, a cada palavra ou verso lido de seu Descaminhar. Somos pedaços da história, diz o poeta, somos além da
carne e da pele fincados no mundo, grita o poeta, somos alternativos e confusos
a cada segundo, berra o poeta!
Em Descaminhar, de Pedro Tostes, encontro uma leitura que impulsiona a
necessidade de um novo caminho para uma vida inserida no mundo do consumo materialista.
A fé é dinheiro. A ideologia é dinheiro. O amor é dinheiro. A felicidade é
barganhada pelo pastor e pelo psicanalista.
Sempre digo que a melhor
auto-ajuda é a poesia, pois ela complica o descomplicado e descomplica o
complicado, e assim te esclarece e obscura o tempo inteiro. Pois bem, Tostes
consegue embaralhar tudo isso e um pouco mais, e nos mostra que estamos, sim,
em um caminho de incertezas trabalhado com as certezas simplistas do
capitalismo que invade sua cultura, sua formação política, suas escolhas e até
mesmo, porque não, seu jeito de ruminar o cotidiano.
Dentre os poemas que mais me
chamaram atenção em Descaminhar, de
Pedro Tostes, foi Ponto sem retorno, que não consigo reproduzir aqui a
diagramação exata dos versos (extremamente importantes no livro) e, com isso,
perde-se muito da riqueza poética do discurso.
PONTO SEM RETORNO
Acontece que é disso
Que eu ganho a
vida.
Aquilo que
me alimenta
A alma
É hoje
Meu pão.
Mas como explicar a todos?
Que o
pão é pedra
Que é
água que é
Ar que é tudo que aí está
E que,
afinal de contas, não
Está
a venda
Vocês conseguem um exemplar de Descaminhar, de Pedro Tostes, em contato
direto com o autor ou na internet, em sites de grandes livrarias. É carimbado
pelo selo POESIA MALOQUEIRISTA, mas isso é assunto para um outro post.
PEDRO TOSTES é poeta, produtor,
agitador, livreiro e outras atividades correlatas. Editor da Revista Não
Funciona (ANO IV), faz parte do coletivo POESIA MALOQUEIRISTA, participa de
debates, júris, promove eventos, internações, etc. Publicou em diversos
jornais, revistas, sites e coletâneas literárias desde 96, entre recentes a
Antologia SadoMasoquista da Literatura Brasileira (org. Glauco Mattoso e
Antonio Vicente Pietroforte), além de ter publicado o livro ´´o minimo´´ (Ibis
Libris, 2003). Almeja desaprender muitas coisas que não lhe ensinaram, mas todos
sabem.