quinta-feira, 10 de abril de 2008

A RESPEITO DOS NEO BRAZILLIX


Imagine um homem completamente sujo fazendo suas intimidades básicas de calça e tudo, em plena avenida paulista, e no reclamar dos transeuntes, suas mãos recolhem o seu produto e atira nas caras alheias como um desvairado retardado. Grita, grita muito. Incomoda com agulhadas agaivéticas.


Aliás, tal termo é essencial para a compreensão do Neo brazillix. Agaivético. Ele falece as estruturas pouco a pouco. É uma ruptura, um vírus que por si só não faria barulho algum, mas entra em choque constante com aqueles viruzinhos bestas que a gente pega na rua. Isso é o fundamento do brazillix: o choque com os zinhos que se encontram perdidos no mundo.
E esse homem sujo certo dia escreveu coisas que são depreciadas a todos presentes. Os pretéritos nem sequer se importam. O que dizer dos futuros?

Não vejo mudança alguma além da transgressão.Corrosiva, de acidez clássicaDa beleza terrívelDo mendigo, do enjeitado, do ladrãoDo encarcerado, do pederastaE a todos de perpétua condenação.

Ele é a margem do que existe, mas uma margem que cutuca e fere os ouvidos. É... em tempos de Baudelaire-chique, vem esse sujeito que ataca merda nas pessoas, e todos clamam: Meu Deus! Pra quê isso? Mas suas calças estão mijadas! Como pode um ser-humano não conseguir segurar as próprias fezes?


E vez ou outra acertam: Esse cara é louco! É o atirador de merdas! Merdas que nos incomodam!


Pois é... chame de merda tudo que quiser, mas a voz desse grande otário a quem vocês tanto xingam tem por trás mais de cem mijados, que por hora é pouco e por hora são bem ignorados.


O engraçado é que as pessoas sempre consomem merda, quando esta se fermenta e envelhece a ponto de ficar sequinha e bem durinha, ideal para uma estante de livros.

Salve Neo Brazillix! Ó atirador de merdas lexicais chocantes! Salve teus poemas que atiram verdades em caras maquiadas.

A NOÇÃO DE ETHOS

O texto não é para ser contemplado, ele é enunciação voltada para um co-enunciador que é necessário mobilizar para fazê-lo aderir 'fisicamente' a um certo universo de sentido. O poder da persuasão de um discurso decorre em boa medida do fato de que leva o leitor a identificar-se com a movimentação de um corpo investido de valores historicamente especificados" (Maingueneau 2005:73).

O autor chama a atenção para o fato de que qualquer discurso escrito possui uma vocalidade específica que se manifesta por meio de um tom: este tom indica quem o disse, permitindo relacioná-lo a uma fonte discursiva e determinar o "corpo do enunciador" - e não do autor efetivo: "a leitura faz emergir uma origem enunciativa, uma instância subjetiva encarnada que exerce o papel de fiador" (Maingueneau ).

Com base em indícios textuais, o leitor constrói a figura do fiador que se investe de um caráter e de uma corporalidade. Estes, por sua vez, apóiam-se em estereótipos sociais, ou seja, em representações sociais valorizadas ou desvalorizadas. Neste caso, o ethos não pré-existe à enunciação, uma vez que é por seu próprio enunciado que o fiador deve legitimar sua maneira de dizer. Diferentemente do que acontece na abordagem clássica, aqui o enunciador não é um ponto de origem estável, que se expressaria desta ou daquela maneira. É nesse sentido que Maingueneau afasta-se da concepção de ethos como procedimento ou como estratégia, na medida em que, para ele, os conteúdos não pré-existem à cena de enunciação que eles assumem: o fiador legitima sua maneira de dizer por seu próprio enunciado e a cena de enunciação é, simultânea e paradoxalmente, aquela de onde o discurso vem e aquela que ele engendra: "São os conteúdos desenvolvidos pelo discurso que permitem especificar e validar a própria cena e o próprio ethos, pelos quais esses conteúdos surgem" (Maingueneau ).

DE UM DÉCIMO ANDAR QUALQUER

Eu não sei se um dia vou poder
Voltar a sorrir para você
Agora que senti
O seu ponto de vista
E seu ângulo de visão.

Tudo que consegui fazer
Foi afastar meu corpo e soluçar um copo d´água.

ps: poema velho... já que agora a onda é atirar pessoas pela janela. É uma homenagem a alguém que já não está tão próxima assim.

=)

- Ricardo Celestino

segunda-feira, 7 de abril de 2008

REFLEXÕES SOBRE UM ALÉM MODERNIDADE

Banhei-me ao tédio que exala inspiração.
A falta do que fazer faz de um vassalo, suserano,
E de um rei, um plebeu.

Não controle tuas emoções,
mas não jogue teu corpo ao léu.
O suicídio faz de tua alma perdida.

Até os cegos vêem imagens,
distorcendo em funções robóticas.
Admire um mundo,
onde o novo está para aparecer.

Os tolos dizem o que sábios diziam,
mas o conhecimento não é uma abóboda fechada.
Saia, liberte-se
pois o ridículo é o trancafiado,
e o trancafiado é
o comunista, o esquerdista, o nazista, o facista, o socialista, o neoliberal, o integralista, o modernista, o parnasiano, o romântico...

E é tempo de Baudelaire passar vergonha,
ao invés de chocar e inovar.

Mostre tuas feras,
aponte todos os dedos de tuas mãos,
atire pedras lexicais aos ouvintes icônicos.

- Ricardo Celestino

sexta-feira, 4 de abril de 2008


"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico."
"Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém."
''A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.''
''Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.''
- Nelson Rodrigues.
extraído de
Pois é um sujeitinho tão velho e atual quanto coca-cola.
cheers para os olhos pesados!
Ricardo Celestino

quinta-feira, 3 de abril de 2008

NUM FUNDO FUNDO DE MINHA CABEÇA

Eu acordei naquela noite caminhando numa estrada deserta, mas de repente estava no meio de uma multidão que me olhava horrorizada. Minhas mãos, que cavucavam areia, estranhamente tornaram-se vermelhas e eu não me sentia ferido. O bisturi cavucou o peito de um senhor qualquer. A avenida parou até que meu corpo se tornasse um animal bruto prestes a virar sabão num camburão-carrocinha.

Minha cabeça bateu tão forte na água do mar que mais parecia a cela de uma prisão. Eu via minha mãe transformar-se em avó e minha avó em minha irmã. Alguém gritava tanto que não me deixava dormir... e eu não estava com sono e não conseguia parar de gritar... até que o silêncio chegou.

O silêncio veio como um líquido forte que fez baquiar. tava meio abobado ouvindo os conselhos daquela velha garota criança que se projetava como minha mãe-avó. Acabara, por fim, de inventar um novo parente: a mãe-avó.

- Ricardo Celestino

``Em doença mental e Psicologia, Foucault afirma que qualquer que seja o grau e a forma da doença mental, sempre implicará num grau de consciência do doente sobre a sua doença. Desta forma, os doentes t~em consciência de dois mundos e estes são reais para ele. Assim, Foucault afirma: ``A consciência do doente desdobra-se sempre, por si mesma, numa dupla referência; quer ao normal e ao patológico; quer no familiar e ao etranho; seja ainda, ao singular e ao universal; seja, finalmente, à vigília e ao onirismo.´´ Diante desse conflito entre os dois mundos, há uma perturbaçã tanto no mundo circundante quanto no mundo participante, tendo o doente que tentar se situar no tempo e no espaço dos dois mundos; o que se torna extremamente complexo, fazendo com que este doente fique, em muitos casos, decontentado destes - além de - situa-los fora da realidade comum.´´
Tempo e Espaço em Doença Mental e Psicologia
- Catia Ribeiro de Santana Lopes

terça-feira, 1 de abril de 2008


Quantos anos precisamos para perceber
Que estamos nos dirigindo ao caminho errado?
Quanto tempo falta para comprovarmos o certo e o só correto?

E tantos dias, tantas horas...
Tantos crimes em poucos dias, em poucas horas...

E o que é sua existência
Senão borracha em fósforo em canhões
é o nada,
Que se divide em três partes semióticas
Que horrorizam teu semblante

A existência existe para aqueles...
Que só querem um pouco mais de sobreposição,
Que não querem enfim...
Um fim.

E triste aqueles olhos que se viraram na madrugada
E um dia me acolheram de espectador
Agredindo meu corpo,
Meu corpo palestrante.

- Ricardo Celestino

(poema às pessoas que não fizeram nada de especial, pois perderam o caminho da estrada.)